Se a instrução de ordem para quase todos os segmentos nos últimos anos foi pisar no freio, com o varejo voltado a animais de estimação não foi nada disso. Bem ao contrário. As pet shops passaram alheias aos anos de crise. Segundo dados do setor, o varejo e os serviços pet cresceram 7% em 2016, movimentando uma voluptuosa quantia — um faturamento acima dos R$ 10 bilhões.
Não é pouca coisa. O segmento é responsável por 0,38% do produto interno bruto (PIB), destacou à revista “Exame” o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), José Edson Galvão de França.
Para comparar, nesse mesmo período, o varejo brasileiro como um todo teve o pior desempenho no volume de vendas em 16 anos: caiu 6,2% (os dados são do IBGE). No acumulado de 2011 a 2016, as vendas de produtos pet subiram 9% a cada ano (na média). Até 2001, vai avançar menos, 1,7% por ano, mas vai avançar.
Definitivamente, quando se trata dos bichinhos de estimação, as famílias brasileiras parecem não arrochar. Uma pesquisa de setembro feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) com 796 internautas de todas as capitais apontou que os brasileiros donos de pet gastam em média R$ 189 por mês com os animaizinhos. O principal gasto é, obviamente, com alimentação, citada como prioridade por 88% dos entrevistados. Deste porcentual, mais da metade (52%) não quer saber de economizar: só compram rações da linha premium.
É um cenário curioso. À Agência Brasil, o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Junior, avaliou que isso se explica pelo tratamento humanizado dos pets. É uma tendência. Por isso, ele enxerga oportunidade de mais crescimento. “A composição da cesta de compras dos donos de animais de estimação está mudando. É cada vez maior a demanda por cuidados especializados. Moda e estética, alimentação saudável, hospedagem, atendimento em casa, exercícios físicos e saúde comportamental são algumas das áreas que deverão se desenvolver intensamente nos próximos anos”, disse.
Expansão em Curitiba
Fachada da pet shop Petland, em Curitiba
Para bem da verdade, nem precisaria deste compilado de números para se enxergar essa expansão. Basta uma volta por Curitiba para perceber como pipocaram pet shops em espaço onde nem se imaginava. Por aqui chegaram nos últimos anos as duas redes nacionais líderes no segmento, Petz e Cobasi, empresas locais criaram megalojas, como a Hiperzoo, e outras de porte médio começaram a ganhar gordura, entre elas Esalpet e Petland.
Do ano passado para cá, a Esalpet, por exemplo, saiu de uma unidade, no Rebouças, para um fechamento de 2017 com quatro delas. “No ano passado abrimos a primeira filial, da Vila Izabel. É uma loja-conceito em que montamos tudo que queríamos ter. O foco é muito grande em levar o pet na loja para ele se sentir bem”, conta Bruno Esperança, diretor do Grupo. Logo em seguida, a rede abriu uma loja no Uberaba, na Salgado Filho. No mês que vem, será a vez do Batel, onde o imóvel da Francisco Rocha já está praticamente finalizado para estabelecer a marca no bairro.
“O consumo de ração sempre existe. Via de regra, em épocas de desafio econômico, o que se muda são os acessórios. O cliente acaba escolhendo coisas mais econômicas. Mas nós até que não sentimos tanto essa redução dessa vez”, explica o diretor. “Essa é até uma de nossas estratégias. Queremos crescer para ganhar escala e conseguir melhores condições, preços mais baixos, para nossos consumidores”, aponta.
Há algo mais em comum além da avalanche de abertura: o novo perfil desses endereços é formado por lojas gigantes. Não no sentido monetário – no físico mesmo. São metros e mais metros de espaço; milhares e milhares de produtos. Há uma explicação também para isso. As grandes redes querem a fatia hoje ainda ocupada pelas lojas de bairro, que é grande. A pesquisa do SPC mostra que 53% dos entrevistados ainda optam pelas pet shops pequeninas, geralmente mais perto de casa.
A HiperZoo, por exemplo, inaugurada no final do ano passado, tem dois mil metros quadrados e parece realmente um shopping center. São dois andares com mais 20 mil produtos (entre rações, medicamentos e acessórios) e uma gama de serviços para atender cães, gatos e outros animais, como tartarugas e outros répteis, aves silvestres e peixes. A loja já tem plano de expansão engatilhados para a construção de um hospital veterinário, um hotel e um creche 24 horas para atender os bichinhos, contou a proprietária, Patrícia Maeoka.
Contracorrente
A Cobasi é uma das poucas que contrapõem o discurso de crescimento. “De dois anos para cá o consumidor mudou a característica dele de compra. Não é que ele deixou de comprar, porque o grau de afetividade com o animal é diferente. Ele é um membro da família. Então como ele mudou? Às vezes no volume, marcas, se era uma alimentação superpremium, ele passa à alimentação premium”, diz Daniela. “Não é que passamos imunes. É que mantemos o número de crescimento por causa da expansão. Expandimos muito por conta do mercado imobiliário. Tinha muito imóvel disponível e vimos a oportunidade de expandir a um preço acessível”, destaca. O fato é que a rede abriu quase 20 unidades nos últimos dois anos, incluindo a curitibana.
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