No horizonte de montadoras e empresas de tecnologia para substituir combustíveis fósseis, o veículo elétrico autônomo poderia ser ainda mais econômico e não poluente se funcionasse de maneira integrada. Formando comboios, circulando em faixas exclusivas eletrificadas e coordenado por um sistema aberto de dados, permitiria percursos mais seguros, previsíveis e rápidos.
Essas são as bases do projeto Digital Rails, criado pelo escritório de design brasileiro Questtonó e um dos dez selecionados de um concurso de ideias sobre mobilidade urbana promovido pela cidade de Nova York no primeiro semestre deste ano.
O projeto foi apresentado e debatido em painel sobre o futuro dos carros durante a edição brasileira do evento What Design Can Do, em São Paulo, em novembro. Durante o mesmo evento, foram anunciados vencedores do Desafio das Mudanças Climáticas , com projetos para sistemas de energia, água, alimentação, saúde e habitação.
O Digital Rails seria uma solução de transição para a era dos carros autônomos, usando a infraestrutura já existente nas grandes cidades e prevendo a coexistência com carros convencionais e formas de transporte coletivo.
“A ideia do comboio combina vantagens dos dois principais tipos de transporte”, diz Barão di Sarno, designer e sócio fundador da Questtonó. Menos eficiente em otimização de energia, o veículo individual garante capilaridade em relação ao destino final, explica ele. “O coletivo é mais sustentável, mas há menos flexibilidade para ir direto de um ponto a outro”.
Juntando os dois, veio a ideia de comboio, formado por veículos autônomos que podem se desprender, funcionando como carros independentes, ou operar em conjunto.
Operados em conjunto, os carros se deslocariam em velocidade padrão e continuamente, sem perda de energia para paradas e acelerações. “O comboio traz a vantagem do efeito arrasto, em que cada motor precisa de menos potência, há distribuição do esforço e menos inércia”, diz.
Para atingir locais fora das rotas expressas, os autônomos se desprenderiam dos comboios e circulariam normalmente pelas outras vias.
Usuários e pedestres teriam maior previsibilidade, rapidez e menos acidentes, por causa da sincronização de todo o sistema, defende o designer.
Implantação do projeto
Para ser implantado, o projeto requer duas faixas exclusivas para veículos autônomos. Uma delas seria expressa e dedicada aos comboios. A outra funcionaria como área de transição.
As vias passariam a ser coordenadas virtualmente pelo sistema de dados que determinaria a abertura e fechamento dos semáforos. O mesmo sistema calcularia a rota mais rápida e determinaria o tempo e a velocidade certos para que os carros se posicionassem na faixa de passagem para aderir a um comboio.
Para aumentar ainda mais a eficiência energética do sistema, di Sarno propõe a eletrificação das vias. Assim, os carros se movimentariam por indução magnética. “Esta solução poderia reduzir ainda mais o consumo dos veículos, pois diminuiria a necessidade de baterias em seu interior, fator responsável por boa parte do peso destes veículos”.
Desenhado inicialmente com dados de Nova York, o projeto pode ser adaptado. A empresa está buscando financiamento para fazer simulações eletrônicas com fluxos e demandas reais de outras cidades.