Os Correios passam por uma crise. De um lado, a estatal lida com e-commerces, como Mercado Livre e Netshoes, lançando campanhas contrárias ao recente aumento no frete de encomendas; de outro, com a fúria dos consumidores finais, insatisfeitos com os atrasos e extravios. Segundo Guilherme Campos, presidente dos Correios, parte do problema nasce no outro lado do mundo — nas encomendas de lojas chinesas.
Segundo Campos, os Correios acabam subsidiando fornecedores chineses em cerca de R$ 1 bilhão por ano.
Para o consumidor brasileiro, o frete ao comprar em lojas chinesas como AliExpress, Gearbest e DealExtreme não tem custo, mas, alegam os Correios, essa gratuidade seria fruto de uma manobra que onera a parte logística brasileira. Essa manobra seria a contratação de serviços postais baratos, que carecem de código de rastreamento e tornam impossível fazer o acompanhamento dos pedidos.
Além disso, disse Campos em entrevista à edição do fim de semana do jornal Valor Econômico, os chineses usam etiquetas fora do padrão internacional, o que obriga o processamento manual das encomendas que chegam do outro lado do mundo. Como não é pouca coisa — cerca de 300 mil volumes por dia —, essa falha causa lentidão e aumento nos custos.
O prejuízo causado pelas encomendas chinesas, tanto de pequenos comerciantes que importam em lote — e formam um “camelô eletrônico”, nas palavras do presidente dos Correios — quanto pessoas físicas, chega a 6% de toda a receita dos Correios em 2017, ou R$ 1 bilhão por ano. Campos alega que, se as encomendas registradas fossem postadas corretamente pelos chineses, os Correios receberiam cinco vezes para realizar o processamento e entrega de cada volume.
Todas essas desavenças com lojas e serviços postais chineses impactam diretamente o serviço de entrega dos Correios no Brasil. O tempo que um volume leva para chegar à casa do consumidor após ele chegar ao país, segundo os próprios Correios, pode levar até 90 dias.
Nos últimos três anos, os Correios acumularam prejuízo de R$ 6 bilhões, tiveram uma redução de 13,6% no quadro de funcionários desde 2013 (de 130 mil para 108 mil) e, só em 2017 e no começo de 2018, a Federação Nacional dos Trabalhadores nos Correios (Fentect) organizou três greves, uma delas deflagrada no último domingo (11).