A Uber escolheu o CEO da Expedia, Dara Khosrowshahi, como seu novo líder, uma jogada surpreendente depois que os membros do conselho chegaram a considerar dois outros nomes de indústria, segundo duas pessoas que sabiam das negociações.
O anúncio da novidade ocorre após um fim de semana de encontros frenéticos com outros dois candidatos: Meg Whitman, a CEO da Hewlett Packard, e Jeff Immelt, CEO da GE. Immelt deixou claro que o trabalho não seria dele em uma mensagem publicada no Twitter ontem (27). Com isso, o conselho passou o fim de semana dividido entre Whitman e Khosrowshah, disseram as pessoas sob a condição de permanecerem anônimas.
Khosrowshahi, um iraniano-americano que comanda a Expedia desde 2005, foi uma escolha inesperada e pouco conhecida. Seu interesse no cargo ficou, em grande parte, mantido em segredo até hoje. O acordo foi firmado recentemente, de modo que mesmo familiares e amigos próximos de Khosrowshahi ficaram surpresos com a notícia.
No Vale do Silício, Khosrowshahi é apreciado e respeitado. Ele presidiu uma enorme expansão da empresa de viagens online para mais de 60 países. Khosrowshahi também é um crítico ferrenho do presidente Trump, particularmente da proibição de viajar a americanos muçulmanos.
As pessoas que o conhecem disseram que Khosrowshahi traz dois recursos para Uber. Por um lado, ele é considerado controlado e discreto — um contraste acentuado com o ex-CEO e cofundador da Uber, Travis Kalanick, famoso pelos seus ataques de raiva. (Em um episódio infame capturado em vídeo, no início deste ano, Kalanick explodiu com um motorista de Uber que criticou os valores pagos pela empresa.)
"Em toda a minha vida, sempre que me deparei com uma decisão de alta pressão, meu modelo de comportamento maduro foi: ‘o que Dara faria?’ Ele é uma das pessoas mais humildes e equilibradas que conheço", disse Ali Partovi, empreendedor e investidor de tecnologia, que é primo de Khosrowshahi. Os dois foram para a escola primária juntos no Irã.
O outro recurso de Khosrowshahi é a sua habilidade como negociador no altamente competitivo mercado de viagens online. Ele expandiu a Expedia para um conglomerado de viagens online ainda maior adquirindo outras marcas de consimo, como os sites de reservas Travelocity e Orbitz, e site de aluguel de casas HomeAway.
Esse instinto para atrair concorrentes de áreas relacionadas ou similares pode servir à Uber, que enfrenta uma concorrência brutal em casa (nos Estados Unidos) da rival Lyft, bem como de outras startups de corridas compartilhadas em países em desenvolvimento, e a própria indústria de táxis, que em algumas cidades criaram apps parecidos. A Uber já está alavancando sua rede de motoristas para se expandir para o transporte rodoviário de cargas e entrega de comida (UberEATS). A empresa é a startup mais valorizada que o Vale do Silício gerou nos últimos dez anos, e espera-se que ela proceda a uma oferta de ações públicas (IPO) maciça dentro de no máximo um ano.
Khosrowshahi assumirá uma empresa em crise. Sua tarefa é a de transformar a cultura da empresa, ao mesmo tempo em que reforça os negócios à luz de processos judiciais e concorrência pesada, dizem analistas. O moral na Uber despencou após oito meses de controvérsias, incluindo relatórios de discriminação generalizada e assédio sexual, ações judiciais que ameaçam o futuro da empresa, um vácuo de liderança e a saída de Kalanick.
A procura por um novo CEO durou meses e foi prejudicada pelas lutas internas entre os membros do conselho. Depois que Kalanick foi tirado do poder, ele se articulou para encontrar aliados que o ajudariam a retornar ao cargo, disseram pessoas com conhecimento do assunto. Isso levou um dos maiores investidores da empresa, a Benchmark Capital, a processar Kalanick por violação de contrato e fraude, argumentando em declarações judiciais que Kalanick queria se consolidar no processo por seus próprios "fins egoístas".
Kalanick respondeu com outra ação judicial, classificando o processo da Benchmark de um "ataque pessoal" sem fundamento. Enquanto isso, o conselho discordou do processo da Benchmark, liberando uma declaração assinada por todos os membros, exceto o representante da Benchmark, Matt Cohler, de que ficou "desapontado com o fato de que um desacordo entre acionistas" tenha resultado em litígio.