Há três anos, o economista gaúcho Marcelo Maisonnave surpreendeu o mercado ao pôr fim à sociedade com Guilherme Benchimol, presidente da XP Investimentos. Em 2001, os dois ex-sócios fundaram a corretora que, por meio de aquisições e estratégia agressiva de crescimento, transformou-se na maior do país. Agora, um ano depois do fim do prazo previsto pela cláusula de não competição, Maisonnave está de volta ao mercado brasileiro com um negócio que promete simplificar a forma de se investir.
Em parceria com outros executivos egressos da XP, o empresário lançou no Brasil o Warren, um sistema que faz a gestão de investimentos de forma automatizada. Após uma análise do perfil do cliente – que é feita por um formulário que simula uma conversa parecida com o WhatsApp –, a plataforma ajuda o usuário a construir um objetivo de investimento e, a partir daí, monta uma carteira específica, que é ajustada ao longo do tempo de acordo com as mudanças no cenário macroeconômico.
Há dois anos residente em Palo Alto, no coração do Vale do Silício, Maisonnave conheceu de perto o cenário das fintechs (startups especializadas no setor de finanças) americanas. Esse contato reforçou seu interesse em atender um público que pouco entende de finanças, mas que quer aplicar bem seus recursos. “Cerca de 80% dos investidores têm esse perfil.”
Objetivo em vez de produtos
Enquanto buscava um projeto nessa linha, o empresário recebeu a ligação de Tito Gusmão, que, depois de oito anos na XP, onde foi chefe de análise, estava nos EUA procurando investidores para colocar de pé o Warren. “Eu queria uma solução que pudesse atender gente como as amigas da minha mãe, que sempre me pediam ajuda para aplicar o dinheiro”, brinca Maisonnave. “E o Warren era exatamente o que eu buscava.”
Após um investimento de R$ 15 milhões e quase dois anos de desenvolvimento, a plataforma estreou no país no início do ano e já tem seis mil clientes, além de uma lista de espera de 29 mil pessoas. A maior parte dos usuários tem de 25 a 35 anos e o investimento médio tem sido R$ 7 mil. “Em geral, o usuário começa com um valor menor, para testar, e vai aumentando o aporte”, explica Gusmão, presidente do Warren. Para remunerar sua estrutura, o Warren cobra uma taxa anual de 0,8%.
Com sede em Porto Alegre e 30 funcionários (80% deles da área de desenvolvimento), a empresa, assim como a XP, quer ser uma alternativa aos grandes bancos. “Mas, em vez de produtos, a gente vende um objetivo, uma gestão de uma carteira de investimentos”, diz Maisonnave.
Junto com nomes como Magnetis e Vérios, o Warren faz parte do mercado dos chamados “robôs advisors” inspirados no Betterment, startup americana pioneira no setor. A diferença entre o Warren e as demais é o foco em pequenos investidores, que podem aplicar a partir de R$ 100. “Como o sistema é altamente automatizado e pensado para grande escala, é possível ter pequenos investidores sem que as despesas aumentem tanto”, explica Gusmão.
Potencial
Para Guilherme Horn, que atua no mercado de fintechs há 20 anos, o potencial desse segmento é enorme – ele mesmo investe no Magnetis, concorrente do Warren. Mas, na sua avaliação, o mercado brasileiro vai levar ainda um tempo para amadurecer. “Diferentemente dos EUA, em que todo mundo está habituado a ter um consultor financeiro, esse profissional está restrito à alta renda no Brasil”, explica. “Pensando nisso, a Magnetis decidiu apostar em um viés de consultoria, com modelo híbrido: une os robôs à figura de consultor, que também auxilia o cliente.”
O Warren é classificado como uma gestora de recursos, credenciada pela Comissão de Valores Imobiliários (CVM) e pela Anbima, associação das entidades dos mercados financeiro e de capitais. Os ativos da empresa são custodiados pelo banco Santander.
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