A multinacional francesa Schneider Electric, especializada em gestão de energia e automação, escolheu a fábrica de Curitiba como produtora e fornecedora global de religadores automáticos, aparelhos usados para restabelecer o fornecimento de energia em caso de queda. A unidade já produzia esses aparelhos, mas atendia somente o mercado interno. Com a mudança, a fábrica foi ampliada para dar conta da nova demanda, principalmente das exportações, e se tornou a principal unidade fabril do grupo na América do Sul.
A Schneider tinha duas fábricas no mundo que faziam religadores de energia: em Curitiba, que atendia o mercado brasileiro, e na Austrália, responsável pelo fornecimento global. Neste ano, a empresa reviu suas operações e decidiu concentrar a produção dos equipamentos em uma única unidade para aumentar a sua produtividade. O grupo já é líder mundial no fornecimento desses aparelhos.
O vice-presidente de Global Supply Chain para América do Sul da Schneider Electric, Paulo de Tarso Gomes, afirma que a fábrica de Curitiba saiu na frente por três fatores combinados: mão de obra, manufatura e logística. “Analisamos a competitividade de custo total para o cliente, o que inclui mão de obra, eficiência industrial, custos logísticos e matéria-prima transformada. Quando se soma tudo isso, a solução final é mais eficiente partir de Curitiba do que sendo feita a partir da Austrália”. A unidade australiana parou de fazer os produtos e passou a se concentrar em outros equipamentos de energia.
Mudanças com a nova estratégia
Com a decisão de centralizar a produção dos religadores no Brasil, a fábrica de Curitiba passou por ampliações ao longo deste ano para dar conta da nova demanda. A capacidade produtiva mensal foi multiplicada por três, a área produtiva foi aumentada em 50% e a mão de obra cresceu 100%. As melhorias já foram concluídas.
Outra grande alteração para a planta curitibana foi o início das exportações de religadores, agora neste mês de dezembro. Até então, a unidade atendia somente o mercado interno, fazendo exportações pontuais. Com a nova estratégia, a fábrica passa a ter com foco o mercado global, principalmente países da América do Sul e Europa Ocidental. Inicialmente, a unidade deve exportar cerca de 50% da sua produção, com esse percentual subindo para 65% a 70% no longo prazo. Ela também vai continuar atendendo o mercado interno.
E, além de aumentar as exportações, a fábrica de Curitiba começou a vender um software do grupo, chamado de Advanced Distribution Management System (ADMS), que faz a gestão da rede de energia como um todo, com o foco de aumentar a eficiência. “Esse movimento faz parte de uma estratégia global que significa fazer uma venda de valor agregado, ou seja, eu tenho um produto [o religador] que melhora a eficiência da energia e, por trás disso, eu tenho toda uma camada de software e analytics [dados] que também ajuda na eficiência e gestão da rede como um todo”, explica Cleber Morais, presidente da Schneider Electric Brasil. Antes, esse software não era vendido no Brasil.
Morais afirma que a estratégia de fazer da unidade curitibana não só uma fornecedora de hardware (o religador), mas também de software de gestão abre um novo precedente para a planta local. “A partir do momento que tem essa solução completa, a gente pode ter um desenvolvimento local de software, o que nos dá potencial para crescer em outras áreas. Esse é o próximo passo.”
Mercado de religadores
A Schneider é líder mundial em religadores de energia, mas há algum tempo trabalha com a estratégia de não oferecer somente o produto e sim uma solução completa. Paulo de Tarso Gomes, vice-presidente de Global Supply Chain para América do Sul, explica que esse movimento é necessário porque o religador é um produto com uma tecnologia dominada e amadurecida no mercado.
Então, segundo Gomes, a diferença da Schneider está em oferecer camadas de gestão e módulos adicionais que permitam ao cliente ter uma gestão mais eficiente da rede ao mesmo tempo em que esses produtos adicionais dão as informações necessárias ao grupo para fazer evoluções tecnológicas na base do produto.
Os religadores automáticos são equipamentos usados por concessionários para restabelecer mais rapidamente a energia em caso de queda. A queda pode ser causada por aparelhos defasados, condições climáticas ou aumento excessivo da demanda. Em geral, os aparelhos têm vida útil de 10 a 15 anos, mas podem ser substituídos antes disso de acordo com o crescimento da demanda. A empresa avalia que há uma demanda persistente por esse aparelho e, principalmente, por soluções complementares que ajudem na eficiência da rede.
Schneider no Brasil
A Schneider tem 11 fábricas na América do Sul, sendo cinco no Brasil. A unidade de Blumenau, em Santa Catarina, que faz, entre outros produtos, subestação de energia, era a principal unidade do grupo na Améria do Sul. Com a nova estratégia de concentrar a produção de religadores em Curitiba, a unidade paranaense conquistou esse posto. Ela também fabrica, além dos religadores, painéis para subestações e usinas e painéis de distribuição. No país, o grupo está há 70 anos e emprega 3 mil pessoas.