Entre os anos de 2000 e 2003, o Banco Central criou as resoluções que deram origem à figura do correspondente bancário, que tinha como principal objetivo "promover a inclusão financeira". Na década seguinte, enquanto o número de agências bancárias se manteve relativamente estável, o volume de correspondentes cresceu atingindo cerca de 160 mil pontos em 2012.
Hoje, apesar do crescimento dos canais digitais, os pontos físicos e outros canais de atendimento continuam desempenhando um papel importante no atendimento ao clientes. Segundo a última pesquisa da Febraban realizada em 2015, o total de transações realizadas em pontos físicos (agências bancárias, caixas automáticos e correspondentes bancários) foi de 23,6 bilhões, o que representa 45% do total.
O estudo mostra que, em 2015, o universo de agências físicas sofreu uma ligeira queda (de 23,1 em 2014 para 22,9 mil), fenômeno também verificado, de forma mais acentuada, nos correspondentes, PABs e PAEs (postos de atendimento). O total de postos caiu de 51 mil, em 2014, para 45,5 mil no ano seguinte. Os correspondentes bancários passaram de 346,5 mil, em 2014, para 293,8 mil em 2015.
De acordo com Gustavo Fosse, diretor setorial de tecnologia e automação bancária da Febraban, os ajustes estão relacionados a fatores como a conjuntura econômica do país (falta disposição para investir) e a política de eficiência operacional de dos bancos.
Em paralelo, o Instituto Data Popular aponta ainda um volume de sub-bancarizados e desbancarizados de cerca de 50 milhões de brasileiros, ou quase 40% da população adulta.
Diante desse cenário, de fechamento de mais de 60 mil postos bancários físicos só em 2017 e da falta de disposição para investir na abertura de novas agências e correspondentes, a grande pergunta é: quem vai atender as dezenas de milhões de pessoas que não tem (e não querem ter) uma conta ?
Esperamos que nos próximos anos esta lacuna, que vem sendo deixada pelas instituições financeiras por questões de redução de custo, seja preenchida com soluções de fintechs.
Por que não, por exemplo, usar a tecnologia para habilitar pequenos lojistas e autônomos com smartphones para oferecer serviços típicos dos correspondentes, como a venda de recarga, de produtos digitais e até mesmo o recebimento de contas?
E se o smartphone proporciona recursos que não estão disponíveis nos terminais de caixa e pontos de venda? Por que não ir além disso e oferecer também novos produtos, como passagens de ônibus, consultas da situação do CPF e créditos pré-pagos de TV por assinatura?
Se hoje faz cada vez menos sentido investir na abertura de postos bancários e a demanda por serviços nesses canais ainda é gigantesca, o uso da tecnologia de novas fintechs pode ser a melhor alternativa. Ao invés de participar de uma licitação para adquirir uma lotérica, quem sabe no futuro bastará baixar um aplicativo.
* Marcelo França é CEO e fundador do Celcoin, aplicativo que transforma o celular em uma máquina para revenda de recargas, recebimento de contas e outros serviços