Isto não ajuda a economizar bateria| Foto: Alexandre MazzoGazeta do Povo

O iPhone existe há dez anos e, mesmo após tanto tempo, alguns mitos persistem. Um dos maiores é relacionado ao que muitos classificam como o maior ponto fraco do aparelho: a bateria. Reza a lenda que forçar o fechamento de apps ajuda a economizar bateria. Não é o caso.

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Existe uma lógica por trás desse mito. Em computadores, apps em segundo plano realmente podem impactar no consumo de bateria. O macOS, sistema operacional dos computadores da Apple, inclusive denuncia, no menu do indicador de carga, se e quais apps estão consumindo energia além do normal.

Mas o iOS, sistema que roda no iPhone e iPad, tem uma multitarefa diferente. Ele lida de outra forma com diversos apps abertos ao mesmo tempo. Em vez de mantê-los rodando em segundo plano, o iOS “congela” os apps que não estão sendo usados. Ao acionar um desses novamente, o sistema muda o estado do app e, aí sim, apenas quando em uso, ele volta a consumir energia.

Existem algumas exceções, mas todas são sinalizadas pelo iOS. Um app de GPS, por exemplo, quando em uso realmente consome energia mesmo em segundo plano. Nesse caso, uma faixa azul aparece no topo da tela, o tempo todo, indicando o consumo e o app responsável por ele. Apps musicais, como o Spotify e o Apple Music, idem. De outra forma, deixar os apps “abertos” não impacta de maneira alguma o consumo de bateria.

Nessas situações, apps em segundo plano gastam bateria<br> 

Na realidade, fechá-los constantemente pode piorar a autonomia do iPhone. Quando você remove os apps da multitarefa, força o fechamento deles. Assim, ao reabri-los, em vez de sair daquele estado de congelamento, o sistema precisa recarregar o app inteiro novamente, o que demanda uma carga de processamento mais intensa.

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Esse comportamento está na fundação do iOS, vem desde as primeiras versões, quando o sistema ganhou suporte à multitarefa. Ainda assim, é um mito muito persistente – uma espécie de efeito placebo parece contribuir para a desinformação. Tanto é assim que até sites e blogs especializados em Apple, como o norte-americano Daring Fireball, vez ou outra dão esse serviço, relembrando ou ensinando a novos usuários que essa tática não tem validade. 

Até um executivo do alto escalão da Apple já se manifestou sobre esse assunto. Em 2016, Craig Federighi, vice-presidente sênior de software da empresa, tirou a dúvida de um cliente. Por e-mail, ele foi questionado: “Você fecha com frequência os apps da multitarefa do iOS e isso é necessário para [melhorar] a autonomia da bateria?”

A resposta de Federighi: “Não e não :-)”

E no Android?

Regra geral, vale o mesmo para celulares que rodam Android. O sistema é mais permissivo com apps que consomem bateria em segundo plano, mas o usuário não deveria ter que se preocupar com isso.

O problema é que essa permissividade maior abre mais brechas para apps que se comportam mal. Além disso, remover um app da multitarefa do Android nem sempre significa fechá-lo por completo – para tanto, é necessário entrar na área de apps das configurações, encontrar o app desejado e forçar o fechamento por lá.

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O maior empecilho, porém, são os aparelhos com pouca RAM, um tipo de memória temporária que o sistema e apps usam enquanto são executados. O gerenciamento dela no Android é menos eficiente, logo, aparelhos com 1 ou até 2 GB podem apresentar uma espécie de saturação da RAM, situação em que forçar o fechamento de alguns apps mais pesados pode ajudar. Esse “fôlego” extra facilita a abertura de novos apps, o que contribui indiretamente para a preservação de energia. 

Jamais devo fechar apps?

Há situações em que é indicado forçar o fechamento de um – caso contrário, o recurso não teria razão de existir. Tanto no Android quanto no iOS, apps que apresentam algum defeito ou que travem pode ser “consertados” com uma reinicialização dos mesmos.

Talvez lhe seja incômodo abrir a multitarefa e ver um zilhão de apps, mas não há problema algum nisso. Pelo contrário: fica mais fácil retornar a um app recém-usado estando em qualquer outro app ou parte do sistema e você ainda ganha aqueles preciosos segundos gastos enxugando gelo todo dia – “limpando” apps que não estão consumindo absolutamente nada de bateria.