Em 2014, em meio à papelada levada à justiça por conta de uma disputa de patentes, veio à tona a informação de que o Google pagou à Apple US$ 1 bilhão naquele ano a fim de manter seu buscador como a opção padrão do iOS, sistema que equipa o iPhone e o iPad. Hoje, a consultoria Bernstein estima que o valor está próximo de US$ 3 bilhões.
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Muita gente não se dá ao trabalho de alterar o buscador padrão dos celulares e computadores que usam. Foi esse comportamento, por exemplo, que em meados dos anos 1990 levou a Microsoft a embutir gratuitamente o Internet Explorer no Windows, movimento que minou o crescimento e tirou do mercado o rival pago Netscape Navigator.
No caso do Google, a empresa leva em conta, também, o fato de que os dispositivos da Apple são valiosos para a sua estratégia móvel. Em 2015, o New York Times revelou um relatório do Goldman Sachs em que o banco estimava que 75% do faturamento do Google em dispositivos móveis era gerado por iPhone e iPad.
Nesses termos, deixar de ser o buscador padrão no iOS acarretaria uma perda considerável de receita, o que justifica a volumosa quantia que o Google paga à Apple anualmente.
A.M. Sacconaghi Jr., analista do Bernstein, disse à CNBC que “como os pagamentos do Google são praticamente lucro puro para a Apple, o Google sozinho pode responder por 5% do lucro da Apple este ano, e talvez até 25% do crescimento em lucro dos últimos dois anos”.
O valor pago integra a área de serviços da Apple, atualmente a que mais cresce entre as propriedades da empresa. Em seis anos, a categoria — que também engloba as comissões de vendas de aplicativos, músicas e filmes, além de assinaturas recorrentes como a do Apple Music e do iCloud — ultrapassou em faturamento das vendas de iPad e computadores. No último trimestre, os serviços trouxeram US$ 7,27 bilhões de receita à Apple.
E se...?
Eventualmente, o acordo pode ser rompido por qualquer das duas partes. Se isso ocorrer, o Google teria que apostar na força do seu produto, tido como superior, para continuar sendo usado pela maioria dos clientes da Apple.
Entre os especialistas, porém, não há consenso sobre o que poderia acontecer nesse cenário. John Gruber, blogueiro que acompanha a Apple há mais de uma década, lembra do caso do Google Maps para ilustrar tais incertezas.
Em 2012, Apple e Google não chegaram a um acordo em relação ao uso dos mapas do Google no aplicativo “Mapas”, do iOS. Com o rompimento da parceria, a Apple criou um serviço equivalente, que teve uma recepção amarga da imprensa e do público pelas imprecisões e falhas de funcionamento.
Mas em pouco tempo o Apple Mapas melhorou e, hoje, é mais popular que o Google Maps no iPhone. Em 2015, a Apple anunciou que o seu aplicativo era 3,5 vezes mais usado que o segundo colocado (presumivelmente, o do Google). O analista Benedict Evans, da firma de investimentos do Vale do Silício a16z, chama esse fenômeno de “o poder do padrão”.
No caso de buscadores online, existem alternativas mais robustas do que as que haviam para o Google Maps há cinco anos. O Bing, da Microsoft, seria o concorrente mais óbvio para substituir o Google no iPhone — ele já é usado na Siri, assistente virtual da Apple, para fazer consultas na web.
Correndo por fora, o DuckDuckGo, que já é uma opção no iOS, também poderia ocupar o lugar do Google. O pequeno buscador norte-americano ganha pontos por ter uma política de privacidade alinhada à da Apple — ao contrário do Google e do Bing, ele não coleta dados para perfilar usuários e direcionar anúncios.
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A Mozilla, fundação que desenvolve o navegador Firefox, tem acordos similares com alguns buscadores. No Brasil e em outros mercados, o Google vem pré-definido na busca padrão, mas em alguns dos mais importantes a Mozilla rompeu com o Google e fechou parcerias com buscadores alternativos — Yahoo nos EUA e Yandex na Rússia.
Alternativas viáveis ao Google colocam a Apple numa posição melhor nessa relação e justificam o alto valor que o Google precisa desembolsar para continuar como buscador padrão nos dispositivos mais lucrativos para o seu negócio de anúncios.