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Google, que fatura alto com anúncios, prepara bloqueador de anúncios para o Chrome

Fachada do Google em Mountain View | Ben Nuttall/Flickr
Fachada do Google em Mountain View (Foto: Ben Nuttall/Flickr)

A notícia de que o Google está preparando um bloqueador de anúncios para o seu navegador web, o Chrome, deixou muita gente intrigada. Afinal, a maior fonte de renda da Alphabet, empresa onde o Google está inserido, vem da veiculação de anúncios na Internet. Seria um tiro no próprio pé?

De acordo com fontes do Wall Street Journal, o Google estaria finalizando os detalhes de um novo recurso para o Chrome, o navegador mais popular do planeta, que bloquearia nativamente certos anúncios da web, porém não todos.

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Ainda segundo a reportagem, é provável que os critérios para determinar qual anúncio é bloqueado ou não venham de listas como esta divulgada em março pela Coalition for Better Ads, um grupo global composto por empresas e associações ligadas à publicidade (incluindo o Google) que visa promover boas práticas na veiculação de anúncios digitais. Com base em pesquisas de comportamento, a Coalition for Better Ads compilou uma lista de tipos de anúncios e práticas na exibição deles considerados inaceitáveis, como os que executam músicas e vídeos automaticamente.

No quarto trimestre de 2016, a Alphabet faturou US$ 26 bilhões. Os anúncios do Google responderam pela quase totalidade da receita, cerca de US$ 25,8 bilhões. As “outras apostas” da Alphabet, termo usado para se referir às demais subsidiárias, faturaram US$ 262 milhões.

Por essa divisão, que é constante nos balanços trimestrais da Alphabet, soa incongruente a ideia de lançar um recurso que bloqueia a maior fonte de renda da própria empresa. O que o Google pretende, porém, é adequar-se a uma tendência inevitável no comportamento dos usuários da maneira menos impactante possível a seus negócios.

O estado dos bloqueadores de anúncios

De acordo com a StatCounter, o Chrome é o navegador mais usado do planeta, com 62% do mercado de computadores (desktop) e 47% do móvel (smartphones).

No desktop, o Chrome aceita extensões, pequenos aplicativos que são instalados no navegador para lhe dar novas funções. Um tipo especialmente popular de extensão é a de bloqueadores de anúncios. Elas bloqueiam o carregamento e a exibição da publicidade que sustenta boa parte dos sites e que gera o faturamento astronômico do Google. Além de diminuir a poluição visual, os bloqueadores também minimizam o consumo de dados e o tempo de carregamento das páginas – rastreadores e outros componentes invisíveis ao usuário são carregados em segundo plano, paralelamente aos anúncios. Alguns bloqueadores abordam o problema por esse viés, caso das empresasDisconnect e Ghostery.

De acordo com a GlobalWebIndex, 35% dos usuários do Chrome em computadores têm algum tipo de bloqueador de anúncios instalado. Na América do Norte, mercado mais valioso para a publicidade, o índice é ainda maior, de 40%.

Nos dispositivos móveis, a presença de bloqueadores é mais forte na Ásia, especialmente na China, onde o Google praticamente não tem presença, os smartphones Android vendidos lá vêm com outros navegadores que, em grande medida, já trazem bloqueadores pré-instalados.

O último relatório da PageFair, empresa especializada na análise de bloqueadores de anúncios, apontou que 615 milhões de dispositivos conectados tinham bloqueadores de anúncios instalados em 2016, a maior parte em smartphones. Desse total, 242 milhões dispositivos, ou 39,4%, estão concentrados na China e na Índia. Na Índia, 59% dos smartpones em uso contém bloqueador de anúncios.

Dos 52 milhões de norte-americanos que usam bloqueador de anúncios, segundo dados da PageFair, poucos usam-no em dispositivos móveis. Isso tem relação com o Chrome para Android, que, diferentemente da versão desktop, não suporta extensões e, portanto, não permite que se bloqueie anúncios com facilidade.

No Android, a saída aos interessados é recorrer a navegadores de terceiros como o Brave ou Cliqz. No iPhone, por outro lado, desde o iOS 9, de 2015, é possível instalar os chamados “bloqueadores de conteúdo”, distribuídos na forma de apps pela loja de aplicativos da plataforma – 1Blocker, Crystal e Ka-Block!, por exemplo. Eles atuam diretamente no Safari, navegador padrão do sistema, de maneira transparente ao usuário. A mesma funcionalidade está presente no macOS, o sistema desktop da Apple.

Essa diferença entre os mercados asiático e americano e europeu tende a diminuir, segundo a GlobalWebIndex. A empresa afirmou que “é apenas uma questão de tempo para que os usuários reajam – seja para proteger a privacidade, diminuir o consumo de dados ou apenas para evitar que os anúncios interfiram em suas vidas online.”

A carta na manga do Google

Confrontado por essa tendência, o Google resolveu se antecipar com a proposta de um bloqueador nativo no Chrome. Ele, obviamente, seria “poroso”, ou seja, não bloquearia todos os anúncios, mas apenas os considerados inaceitáveis – como aqueles da pesquisa da Calition for Better Ads.

Ter o seu próprio bloqueador de anúncios dá ao Google um grande controle para que os seus não sejam bloqueados em seu próprio navegador, o Chrome. Essa situação ocorre atualmente quando o usuário recorre a bloqueadores de terceiros.

A estratégia não é nova, porém. A Eyeo GmbH, dona da extensão Adblock Plus, uma das mais populares, oferece um programa de “Anúncios Aceitáveis” que, na prática, é uma lista branca: empresas que veiculam anúncios não intrusivos podem requisitar para que, por padrão, seus anúncios não sejam bloqueados pela extensão. Esses anúncios, porém, precisam respeitar alguns critérios determinados pela Eyeo como não interromper o fluxo de leitura, ser claramente identificado como tal e não tocar músicas ou vídeos automaticamente. Caso o usuário queira, porém, ele pode optar por não liberar os anúncios da lista branca alterando as configurações da extensão.

Embora a maioria das empresas não precise pagar para ter seus anúncios incluídos na lista de exceções do Adblock Plus, algumas grandes, sim. São os casos da Amazon, Criteo, Taboola e Google, de acordo com reportagem do Business Insider.

História que se repete

Não é a primeira vez que um comportamento questionável da indústria da publicidade sai do controle e enfrenta resistência dos usuários. No início dos anos 2000, havia uma forte presença de popups, janelas com anúncios que saltavam automaticamente quando o usuário acessava um site. Eles eram incômodos, mas muito usados pelo meio publicitário. Gradualmente, todos os navegadores passaram a incorporar bloqueadores de popups e hoje eles são bem raros.

A diferença, desta vez, é que a empresa que detém o navegador dominante do mercado tem interesse direto na manutenção dos anúncios na web. Para resolver esse impasse, o Google tenta obter o controle do mercado de bloqueadores de anúncios a fim de permitir os seus e os de quem mais estiver disposto a veicular anúncios adequados às boas práticas de publicidade online.

No fim, a pressão dos usuários, feita através da instalação de bloqueadores de anúncios rígidos criados por terceiros, pode resultar em uma web visualmente mais agradável, menos lenta e menos custosa aos planos de dados para todos. Se o bloqueador nativo do Chrome vier mesmo nesses termos, da noite para o dia todos aqueles piores anúncios, os intrusivos e incômodos, serão eliminados, sem que isso afete as empresas que produzem ou dependem dos aceitáveis para continuarem operando.

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