Após ancorar seu crescimento sob o slogan “desbancarize seus investimentos”, a corretora XP agora tem como sócio o maior banco privado da América Latina, o Itaú Unibanco. Em movimento relâmpago, a instituição fechou a compra de 49,9% do capital da corretora, por R$ 6,3 bilhões. Com isso, a XP, que caminhava para uma abertura de capital bilionária - e muito esperada pelo mercado - engavetará a intenção de listar suas ações na Bolsa.
O banco fará um aporte de capital de R$ 600 milhões na XP e pagará R$ 5,7 bilhões aos detentores atuais dos papéis. O Itaú comprometeu-se a adquirir mais 25% do negócio até 2022, o que lhe garantirá 74,9% da XP. Segundo o fato relevante divulgado nesta quinta-feira, 11, o sócio-fundador da corretora, Guilherme Benchimol, continuará com o controle da XP - uma cláusula prevê, no entanto, que o Itaú possa virar o controlador do negócio a partir de 2033.
Com a aquisição, o Itaú compra uma corretora com R$ 68,8 bilhões sob gestão, segundo prospecto referente à estreia da empresa na Bolsa, que estava prevista para julho e agora deve ser cancelada. O lucro líquido ajustado da corretora saltou 170% no primeiro trimestre, ante igual período de 2016, para R$ 105 milhões.
“Acredito que essa transação tirará o Itaú e demais bancos da zona de conforto, pois fortalecerá a XP e aumentará sua capacidade de competir no mercado de investimentos”, disse Roberto Setubal, copresidente do conselho do Itaú Unibanco. “Para o banco, essa transação representa uma diversificação de seus negócios através de outra forma de servir ao investidor.”
De acordo com fontes próximas à negociação, o fechamento do acordo foi uma “maratona”. O Itaú apresentou a proposta de aquisição no fim de semana. As partes sentaram à mesa no início da manhã de quarta-feira, 10, para acertarem os detalhes e seguiram de forma ininterrupta até as 8h30 desta quinta. Após uma pausa de cinco horas, as conversas foram retomadas até a assinatura dos papéis, por volta das 21h.
Concessões
O Itaú havia feito uma oferta anterior para ficar com mais de 50% da corretora, mas encontrou as portas fechadas. Sem avançar nas tratativas pelo controle, que esbarravam na resistência do sócio-fundador da XP, Roberto Setubal entrou no circuito para retomar o diálogo em novos termos. “Essa associação só foi possível porque o Itaú Unibanco entendeu nossos princípios e valores, concordando com condições fundamentais para o acordo”, afirmou Benchimol.
Com a XP pronta para uma abertura de capital bilionária, o Itaú conseguiu fechar negócio, mas teve de pagar mais caro e abrir mão do controle. O acordo de ontem avaliou a totalidade da XP em R$ 12 bilhões. Há um ano, quando o fundo inglês Actis vendeu sua fatia de 10%, a corretora havia sido avaliada em R$ 3 bilhões.