A Netflix é um fenômeno global que vem mudando a maneira como consumimos produções audiovisuais. Uma parte desse sucesso pode ser atribuída à tecnologia. Além da entrega por streaming com alta qualidade, o serviço conta com um sofisticado sistema de recomendações que costuma acertar o gosto do cliente. Um efeito colateral dessa abordagem é que muita coisa que ele suspeita não ser do seu interesse acaba escondida nos servidores da Netflix.
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Em 2014, o jornalista Alexis Madrigal fez, pela Atlantic, uma engenharia reversa do algoritmo que classifica filmes, documentários e séries em “micro-gêneros” dentro da Netflix. Você talvez já tenha visto algum desses mais inusitados na tela principal, algo como “filmes alto-astral com impacto visual” (um micro-gênero real). Com seu script, Madrigal catalogou 76897 gêneros usados pela Netflix para classificar seu acervo.
Essa segmentação extrema, resultado de curadores humanos e algoritmos trabalhando em conjunto, ajuda a refinar o sistema de recomendações da Netflix e explica por que ele acerta com tanta frequência. Só que ele, somado ao fato de que o espaço em tela é limitado (pelo menos aquele que o usuário está disposto a rolar), faz com que a Netflix priorize certos filmes em detrimento de todo o restante do seu catálogo.
De acordo com algumas estimativas, o acervo brasileiro da Netflix tem mais de 3800 obras. Esse número muda constantemente, dependendo dos contratos que a Netflix firma (e que vencem) com estúdios e produtoras.
O acervo brasileiro é o maior do planeta, mas você talvez nem desconfiasse que existem quase quatro mil títulos disponíveis ali. O culpado é o sistema de recomendações. Todo esse material está acessível, só que não de um modo fácil. Para desbravar esse lado oculto da Netflix, é preciso fazer uso de um pequeno truque.
Descobrindo os micro-gêneros
Cada micro-gênero na Netflix tem um código, um número identificador que lhe é atribuído. Pelo navegador web (como o Chrome), no seu computador, é possível acessar diretamente cada micro-gênero e ver a relação de filmes associados a ele. A sintaxe do endereço é a seguinte:
https://www.netflix.com/browse/genre/XXXX
No lugar de XXXX, deve-se inserir um número. Faça um teste: copie o endereço, cole-o em seu navegador, troque o XXXX por 614 e dê Enter – ou clique aqui. Você cairá no micro-gênero “Filmes alto-astral com impacto visual,” com os títulos Procurando Nemo, O Artista, Detona Ralph e o obscuro As Aventuras de Sammy, animação franco-belga de 2010 dirigida por Ben Stassen.
Ou então, tente 67879 e veja o tanto de séries coreanas que a Netflix guarda, inclusive algumas originais do serviço como Man to Man e One More Time.
Como chegar aos filmes ocultos
O grande problema dessa brincadeira é saber quais os números de determinado micro-gênero. Você pode colocar algum aleatório ali e contar com a sorte, mas tal abordagem se torna cansativa rapidamente – os micro-gêneros não são sequenciais; vários não retornam filmes.
A melhor saída é contar com o auxílio de um guia. Na web, existem algumas listas extensas com uma enormidade de links/micro-gêneros. Esta promete 27 mil; esta outra, mais alguns milhares. Estando ali, basta clicar em um gênero e conferir quais filmes estão associados a ele. Note, porém, que como elas se baseiam na Netflix norte-americana, alguns podem aparecer vazios.
Alguns serviços listam todo o conteúdo e ficam de olho nas alterações do catálogo. Upflix e NoNetflix são dois bons exemplos. Esses sites/apps também podem ser usados para encontrarem filmes menos óbvios no acervo da Netflix.
Há micro-gêneros absurdamente específicos, como “filmes ambientados no século XX estrelados por Tom Hanks,” “Filmes sobre showbiz [com] ganhadores do Globo de Ouro de Melhor Ator” e “Filmes artísticos com forte protagonista feminina.” Categorias mais mundanas também estão disponíveis, como atores, diretores, país de origem, ambientação temporal, vencedores de premiações e adjetivos mais genéricos, como filmes “sangrentos” ou “corajosos.”
Um dos grandes dilemas contemporâneos é escolher um filme na Netflix. Essas listas provavelmente dificultam mais a escolha, mas abrem uma parte enorme do serviço que, no modo de uso convencional, passa totalmente batida. Já salvei aqui, para ver no fim de semana, um “drama emotivo ganhador do Oscar de melhor fotografia.”
Atualizado em 9 de maio, às 10h45, para remoção de informação errônea a respeito da relevância de um filme aos micro-gêneros.
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