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Empresário Nelson Tanure, durante uma coletiva sobre o plano de reestruturação da Varig, no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em 2005. | Tasso Marcelo/AE
Empresário Nelson Tanure, durante uma coletiva sobre o plano de reestruturação da Varig, no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em 2005.| Foto: Tasso Marcelo/AE

Conhecido por comprar empresas à beira da falência para obter vantagens financeiras, o empresário Nelson Tanure é figura central para entender a crise da Oi. Ele virou sócio da maior operadora do país cerca de um mês antes de ela entrar em recuperação judicial e, em pouco mais de um ano, é acusado de ser responsável, direta ou indiretamente, pela saída de conselheiro, por tentar trocar a atual diretoria, por costurar uma proposta de renegociação das dívidas que só agradava aos atuais acionistas e por entrar em rota de colisão com credores e governo. Não é à toa que a maior operadora do país, com 63 milhões de clientes, não consegue sair da pior crise da sua história.

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Em 66 anos de vida e mais de quarenta como empresário, o baiano Nelson Tanure acumula dezenas de empresas no currículo, dos mais variados setores, como imobiliário, financeiro, petroleiro, comunicações e telecomunicações. É o caso, por exemplo, da Cinassa, Sequip, Sade, Estaleiro Ilha, Comex, Verolme, Banco Boavista, Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, HRT e, mais recentemente, a Oi. Muitas dessas companhias já não existem mais. Em todos os casos, adotou a sua maneira de fazer negócios.

Tanure é conhecido do mercado como um investidor que compra uma parcela minoritária de empresas em dificuldades financeiras, mas que possuem marca e participação de mercado relevantes. Em pouco tempo, aumenta sua participação no negócio, através da compra de mais ações ou parcerias com outros acionistas, para obter o controle direto ou indireto da companhia. Depois, questiona na Justiça dívidas trabalhistas, previdenciárias e tributárias para tentar maximizar seus ganhos financeiros. Quando o negócio deixa de ser atrativo, se desfaz da sua parte.

Um caso emblemático em sua carreira foi a Varig, maior empresa aérea do país, que acumulava prejuízo de R$ 778 milhões em 2005. Tanure, através da sua empresa de investimentos, a Docas, ofereceu US$ 202 milhões pela companhia mais um plano de recuperação judicial que incluía direito de voto e indicação da maioria do Conselho de Administração por dez anos, segundo reportagem do Estadão na época. Não conseguiu convencer os credores de sua proposta, mas chegou a assumir o controle da Varig por um dia, através de um acordo feito com a Fundação Ruben Berta (FRB), controladora da aérea. O negócio, porém, foi desfeito pela Justiça e a Varig indo à falência.

Pouco antes, na década de 1990, se envolveu em uma das maiores polêmicas da sua carreira. Foi acusado de usar sua influência sob a ex-ministra Zélia Cardoso de Mello para que ela obrigasse fundos de pensão a comprar US$ 12 milhões em ações de sua empresa de equipamentos industriais, a Sade, que passava por dificuldades financeiras. Tanure nega as informações. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) chegou a investigar o caso na época, mas o Ministério Público não abriu inquérito para dar prosseguimento ao caso.

Nos anos 2000, através da sua holding Companhia Brasileira de Multimídia, arrendou os jornais “Jornal do Brasil” e “Gazeta Mercantil”. Ambas as companhias já passavam por crises financeiras e tinham diversas ações trabalhistas correndo na Justiça, que contabilizam R$ 60 milhões. A recuperação de ambas as empresas não saiu como esperado e a Gazeta Mercantil decretou falência em 2004 e Jornal do Brasil ficou só com o portal.

Fato parecido aconteceu nos anos 1990, quando Tanure chegou a ter 80% da capacidade de estaleiros do Brasil e a ser o maior produtor de turbinas para geração de energia elétrica após adquirir diversas empresas em dificuldades financeiras. Mas suas companhias se afundaram em dívidas, segundo reportagem da revista Exame na época, e foram vendidas ou à falência.

A vez de Tanure na Oi

Agora, a grande investida de Tanure é a Oi. O empresário entrou na companhia em maio de 2016, cerca de um mês antes de ela entrar com o maior pedido de recuperação judicial do país, com dívidas de R$ 65,4 bilhões. Naquele ano, o seu fundo de investimentos Société Mondiale adquiriu 7,98 milhões de ações ordinárias da Oi, cotadas a R$ 7,10 milhões e, em menos de um mês, aumentou para 42,9 milhões de ações, avaliadas a R$ 83,66 milhões, segundo o jornal Valor Econômico.

Logo depois, Tanure passou a agir para obter o controle da companhia. Ele se associou a outros investidores para tentar diminuir a influência do fundo Pharol (antiga Portugal Telecom), que tinha o controle e a maioria das ações da Oi. O maior problema era Rafael Mora, executivo da Pharol indicado para ser conselheiro da operadora e que tinha grande poder de decisão sobre os rumos da companhia brasileira.

Tanure e Mora entraram em rota de colisão, pois tinham visões opostas de qual seria o melhor caminho para a Oi sair da recuperação judicial. Em uma queda de braço que durou quase um ano, Mora acabou pedindo demissão da Pharol em março deste ano e, consequentemente, deixou de ser membro do Conselho da Oi. Do outro lado, Tanure passou a comprar ações da Pharol e, depois da saída de seu desafeto, chegou a um acordo com os portugueses, que continuam sendo os maiores acionistas individuais da Oi, com 22,24% das ações, mas tendo o empresário brasileiro entre seus sócios.

Em nota, a assessoria de imprensa de Tanure afirma que, de fato, “houve desentendimentos com o então conselheiro Rafael Mora”, mas que, desde o fim do ano passado, “Pharol e Société Mondiale chegaram a um entendimento, celebrando um acordo que permitiu a Nelson Tanure ter um pouco menos de 2% das ações da Pharol. E desde a saída de Rafael Mora do Conselho de Administração da Oi, há um espírito de harmonia e entendimento nas reuniões do Conselho”.

Além da briga com Mora, Tanure também teria entrado em confronto com a atual diretoria executiva da Oi. Segundo noticiou o colunista Lauro Jardim, o empresário teria se desentendido com a atual diretoria executiva sobre os rumos do plano de recuperação judicial e pedido a troca do alto escalão. O governo se movimentou para evitar que isso acontecesse e ameaçou intervir na companhia.

A assessoria do empresário afirma que ele “não pediu a demissão de nenhum diretor da Oi” e que tal boataria foi “espalhada por bondholders [detentores de títulos de crédito] e, em particular, representantes de fundos abutres, em ação destinada a tumultuar esta reta final do processo de recuperação judicial”.

Outra polêmica que ele se envolveu em pouco mais de um ano dentro da Oi foi a última versão do plano de recuperação judicial da companhia, protocolada na Justiça em outubro. Um dos maiores grupos de credores soltou um comunicado afirmando que a proposta visava proteger os atuais acionistas - que não querem ter sua participação no negócio reduzida. Eles afirmaram que o plano ignorava “preocupações fundamentais dos credores, ameaçando a viabilidade da companhia no longo prazo e enriquecendo abusivamente os atuais acionistas”.

Os bancos públicos (Banco do Brasil, Caixa e BNDES), que também estão na lista de maiores credores da Oi, também discordaram do plano de recuperação costurado por Tanure e sinalizaram que não devem aprovar a proposta, se ela for levada em frente. Diante do impasse, o governo resolveu agir para tentar encontrar uma solução para a Oi e vem se reunindo periodicamente com investidores, credores e acionistas para criar uma nova versão do plano. A assembleia da Oi, que discutirá o futuro da companhia, está marcada para acontecer na próxima sexta-feira (10).

A assessoria de Tanure, por sua vez, diz que a “a versão difundida pelos fundos abutres sobre o Plano responde aos exclusivos interesses deles: passar a ideia de que privilegia os acionistas”. Ela afirma, em nota, que o plano apresentado à Justiça é viável, dentro dos limites da capacidade financeira da empresa, e que “pode significar em uma diluição de até 60% dos atuais acionistas (podendo chegar a 80% caso bondholders aceitem conversão adicional de dívida em capital)”, com “os acionistas tendo o esforço adicional de injetar R$ 2,5 bilhões em dinheiro novo para a operadora”.

Polêmicas a parte, Tanure é hoje o segundo maior acionista individual da Oi, com 5,28% das ações, através do seu fundo de investimentos, a Société Mondiale, e tem também uma participação de pouco menos de 2% na Pharol, que é a maior acionista individual da Oi, com 22,24% dos papéis da operadora. Tem influência sobre nove dos onze membros do Conselho, segundo o jornal Valor Econômico, e tem sido figura central dentro do plano de recuperação judicial da maior operadora do país.

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