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O que a Boeing quer da Embraer: aviões menores, engenheiros jovens e área militar

 | Sgt.Batista/Agência FAB

A proposta de parceria que a Boeing fez à Embraer deve demorar alguns meses para avançar, mas os primeiros detalhes do que a companhia americana quer mostram que a ideia é fazer uma aliança ampla, sem necessariamente haver mudança no controle acionário. A Boeing está de olho no mercado de aviação regional, para o qual não tem produtos, no time de engenharia jovem e ágil, e no desenvolvimento de produtos de defesa da Embraer.

De acordo com uma reportagem da Folha de S. Paulo , a proposta de parceria vai incluir o setor de defesa, hoje responsável por 20% dos negócios da Embraer. Esse deve ser o ponto mais delicado na negociação porque os projetos da companhia brasileira são feitos em parceria com as Forças Armadas, cliente mais importante da empresa. Neste momento, por exemplo, a Embraer está desenvolvendo dentro desse modelo o cargueiro militar KC-390.

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O modelo da parceria não está definido. Segundo reportagem do Valor Econômico , há possibilidades diferentes, como uma joint venture para a fabricação de um produto específico, ou um joint business agreement, no qual as empresas dividem custos e receitas em determinados negócios. A mudança de controle acionário, por ora, não é o foco das conversas.

O maior obstáculo para um acordo assim tão amplo deve ser o governo brasileiro. Mesmo com a privatização da empresa, no fim dos anos 90, o governo é um cliente importante no segmento de defesa e um aliado para a ampliação de mercado, com a concessão de financiamentos e a defesa comercial no setor de aviação. Na privatização, o Estado brasileiro ficou com uma ação especial, chamada de “golden share”, com a qual pode vetar mudanças estratégicas na companhia. O receio de uma absorção da Embraer pela Boeing e a perda de controle sobre informações militares poderia disparar o uso desse poder.

Ao mesmo tempo, há argumentos para que o governo brasileiro permita o negócio. O primeiro é o de que o controle da Embraer é hoje pulverizado e está em grande parte com investidores estrangeiros. Além disso, a companhia brasileira tem a ganhar com a parceria, que pode acelerar a entrada em novos mercados e o desenvolvimento de produtos para encarar rivais emergentes no segmento de jatos regionais. Finalmente, a Boeing já tem parcerias militares com países como Reino Unido e Austrália nas quais há restrições para o uso de informações – os americanos, inclusive, já fazem parte do esforço de vendas do KC-390.

Para a Boeing, a parceria seria um atalho para a empresa voltar a atuar no segmento de jatos regionais, que ela abandonou em meados dos anos 2000. Esse é hoje um mercado que cresce com a expansão dos voos em países emergentes e no qual a Airbus, maior concorrente da Boeing, tem hoje uma posição bem consolidada. Ela controla a ATR, uma fabricante de turboélices, e tem um acordo com a canadense Bombardier, segunda maior produtora de jatos regionais.

A concorrência com a Bombardier é um elemento a mais na proposta da Boeing. A companhia americana vem travando uma disputa comercial com os canadenses nos Estados Unidos. O governo americano aplicou uma sobretaxa de quase 300% nos jatos da C-Series da Bombardier. Ao mesmo tempo, segundo a The Economist , companhias aéreas americanas vêm preferindo comprar jatos da Airbus por considerarem haver riscos da atitude anticompetitiva da Boeing.

Como desenvolver um novo jato regional demanda tempo e investimentos, o caminho mais curto para a Boeing segurar uma posição nesse mercado seria uma parceria com a Embraer. Além de ser líder no segmento, a companhia brasileira tem um time de engenharia jovem e ágil, que consegue fazer projetos em prazos considerados curtos e com orçamentos limitados.

Com a força global de vendas da Boeing e a capacidade da Embraer de rapidamente colocar novos produtos no mercado, a parceria poderia fazer frente à entrada de novos competidores, como a japonesa Mitsubishi, a chinesa Comac e a russa United Aircraft.

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