Motivos para você trocar de televisão não faltam. As próprias fabricantes se encarregam de, ano após ano, anunciar novas tecnologias e pegar carona em acontecimentos como Olimpíada, Copa do Mundo e até mesmo o fim do sinal da TV analógica em várias cidades brasileiras. Nem todas as justificativas são relevantes, porém, o que torna a escolha de uma televisão difícil. Não é apenas uma questão de tamanho, marca ou preço, mas também de inovação e ecossistema. A seguir, um guia para te ajudar nessa missão.
Tamanhos e formas
Independente da fabricante, o tamanho das telas não costuma variar entre elas. Normalmente começa em 32 polegadas, passa por 40, 43, 48, 49, 50, 55, 60 e 65, e chega às telas gigantes, como de 88 ou até 105 polegadas. O preço aumenta, e nem sempre de maneira proporcional — quando lançada no Brasil, em 2014, a TV de 105 polegadas da Samsung tinha preço sugerido de R$ 499 mil.
Além do bolso, quem mais dita o tamanho da tela é o da sua sala. Você pode ter uma sala pequena e uma TV grande? Pode. O problema é que se você ficar muito próximo da tela, provavelmente conseguirá ver até os pixels, ou seja, perderá definição. Diego Pajuelo, pesquisador do Laboratório de Comunicações Visuais da Unicamp, diz existir uma distância de visualização que deve ser respeitada, mas ela depende da altura da tela com a qual as pessoas se sintam próximas o suficiente para experimentar o benefício total da resolução escolhida. Já chegaremos à parte da resolução; ela é importante.
As telas curvas, anunciadas com barulho pela indústria entre 2015 e 2016, podem proporcionar maior sensação de presença do que as televisões planas, na opinião de Pajuelo. "As telas maiores oferecem experiências de visualização mais emocionantes e fisicamente empolgantes. Essa tecnologia foi pensada para que várias pessoas dentro do campo de visualização lateral possam conseguir assistir TV com a mesma sensação de realismo sem perder a presença espacial", afirma. Não há, no entanto, uma defesa técnica para as telas curvas; é mais uma questão de percepção.
HD, Full HD ou 4K? Qual a melhor resolução
A resolução está mais atrelada às polegadas do que o tamanho da sua sala. A resolução indica quantos pixels existem dentro da tela para, juntos, formarem as imagens. Por pixel, entenda o menor tamanho que uma imagem pode ter. É, literalmente, um pontinho. Por isso, as resoluções normalmente são indicadas pelos números de pixels nas colunas horizontal e vertical. A resolução HD, por exemplo, tem 1280x720 ou 1366x768 pixels, enquanto a Full HD tem 1920x1080 pixels. A 4K, padrão mais recente disponível comercialmente, tem 3840x2160 pixels.
Quanto menor a tela, menos pixels são necessários. No mesmo sentido, quanto maior o número de polegadas, maior a necessidade de uma alta resolução — Full HD ou 4K. Se você estiver pensando em comprar uma TV menor, pode ficar satisfeito com uma tela HD ou Full HD, mas se quer uma televisão de tela realmente grande, melhor pensar em 4K ou no mínimo Full HD.
A distância entre os espectadores e a TV é outro fator importante. Pajuelo explica que existe uma relação com a resolução da tela. "Na hora de assistir uma resolução HD, as pessoas devem ficar a uma distância de visualização de 4,8 vezes a altura da tela. Para as resoluções Full HD, 4K e 8K, considera-se uma distância de visualização de 3,1, 1,5 e 0,75 vezes a altura da tela, respectivamente. É importante ressaltar que não existe uma distância de visualização absoluta e, devido a isso, as distâncias relativas dependem muito do campo de visão e da resolução", afirma. Quanto maior a distância para a tela, menor a necessidade de resoluções altíssimas.
Há algum tempo, as sul-coreanas Samsung e LG protagonizam uma briga para saber quem tem o verdadeiro 4K. Segundo a Samsung, alguns concorrentes utilizam painéis do tipo RGBW (ou WRGB), que, além dos três subpixels convencionais — vermelho, verde e azul —, utilizam um quarto subpixel, branco. A empresa alega que esse recurso retira 25% da quantidade de subpixels necessária para produzir a qualidade de imagem exigida em 4K. Atualmente, apenas a LG utiliza esse tipo de painel, então está bem claro de quem se está falando.
A LG diz que a opção por esse painel não compromete a imagem e que não está interessada em obter a certificação da CEA (Consumer Electronics Association), que permite que a Samsung e outras usem o selo "4K Ultra HD” por seguirem as normas da entidade.
A guerra dos padrões HDR
Está cada vez mais comum ver as fabricantes anunciando que suas TVs são compatíveis com HDR (High Dynamic Range), também chamado de ampla faixa dinâmica ou grande alcance dinâmico. Trata-se de uma sigla para métodos utilizados em fotografia, computação gráfica ou processamento de imagens para alargar o alcance dinâmico (a razão entre o valor mais claro e o mais escuro de uma imagem). Uma imagem com HDR terá mais qualidade de cor: o contraste mais aparente e o preto mais preto.
No entanto, vale ressaltar que para ver tanto brilho e vivacidade os conteúdos também precisam ser feitos em HDR, caso contrário, de nada adianta ter a tecnologia compatível na TV. O mesmo acontece com o 4K: só um conteúdo feito em 4K aproveita a quantidade de pixels da tela. Algumas TVs fazem o “upscalling”, que preenche artificialmente os pixels ausentes em vídeos Full HD para ocupar o espaço de uma tela 4K, mas, embora a tecnologia esteja progredindo, não fica tão bom quanto um vídeo na resolução nativa. Netflix e Amazon já oferecem conteúdo em HDR em suas plataformas de streaming.
Para Pajuelo, o mais importante na procura da melhor imagem é o contraste. A percepção humana julga uma imagem como a mais nítida aquela que tem uma alta relação de contraste simultâneo. É por isso que a adição da tecnologia de alta faixa dinâmica, o chamado HDR, é tão importante. "A tecnologia HDR consegue exibir uma faixa de luminâncias muito além das utilizadas nos sistemas atuais. Por exemplo: a luminância máxima atingida pelos atuais televisores é de 100 nits. Esta tecnologia está sendo desenhada para mostrar luminâncias de até 10000 nits", explica.
Atualmente, existem dois padrões de HDR no mercado, o HDR10 e Dolby Vision. E, como em toda a boa guerra de padrões, eles não são compatíveis. O primeiro é um padrão aberto, mais fácil de ser encontrado nos televisores, enquanto o segundo, tecnicamente superior, pertence à Dolby.
Além de suportar um brilho mais intenso, de 10000 nits, o conteúdo em Dolby Vision pode ter uma profundidade de cores de 12 bits. O HDR10 suporta até 1000 nits e tem profundidade de cor de 10 bits. De qualquer forma, nenhuma TV já lançada chegou a mais de 1000 nits. Além disso, como todo padrão fechado, o Dolby Vision exige que o conteúdo seja produzido, emitido e lido por equipamentos compatíveis, que por sua vez precisam ter processadores certificados pela Dolby, que cobra caro para a homologação.
A dica, se você realmente quiser ter HDR na sua nova TV e não quiser perder nenhum conteúdo compatível com a tecnologia, é procurar um modelo que seja compatível com ambos os padrões. Se no futuro alguém perder essa guerra, pelo menos você não ficará no prejuízo.
Tecnologias dos painéis
Depois de decidir pelo tamanho de tela e resolução, e se dedicar a entender o HDR, o próximo passo é dominar a diferença entre as tecnologias presentes nos painéis.
Basicamente, hoje temos LCD, LED e OLED disputando mercado. O painel de Plasma, bastante popular no passado, já não é mais encontrado.
Mais antiga, a tecnologia LCD (sigla de liquid crystal display, em inglês) consiste em um painel de cristal líquido iluminado por trás (backlight) por uma lâmpada fluorescente. Essa luz branca traseira ilumina as células de cores primárias (verde, vermelho e azul), que, juntas, formam as imagens na tela. É por isso que TVs LCD dão aquela impressão de que a tela não desliga nunca e que o preto nunca é preto de verdade.
O LED (light emitting diode, em inglês) funciona de forma semelhante ao LCD, também com células iluminadas por uma fonte de luz. Entretanto, a luz utilizada é diferente: em vez de uma lâmpada fluorescente, são usados LEDs, mais econômicos. Em termos de qualidade de imagem, pouca coisa muda, porém.
Já o OLED (organic light-emitting diode), a mais recente das tecnologias, é uma evolução considerável dos painéis LCD e LED. Aqui, a tela é composta por diodos orgânicos e cada pixel é iluminado separadamente. Ao serem estimulados por um campo eletromagnético, eles emitem as luzes azul, verde e vermelho; para exibir a cor preta, o pixel é simplesmente “desligado”, o que garante pretos profundos e alguma economia de energia. Além disso, o OLED é mais leve, fino, oferece ângulos de visão maiores com melhor brilho e maior contraste, e reproduz cores muito mais naturais do que qualquer tecnologia. Por ser a mais nova das inovações é também a mais cara. Várias empresas já possuem produtos com essa tecnologia, mas todos comercializados como premium.
Na opinião de Pajuelo, a tela OLED oferece uma qualidade superior de imagem, mas não há um vencedor claro considerando todos os fatores. "As telas LED e LCD consomem menos energia do que as telas OLED para painéis do mesmo tamanho, brilho e resolução. Assim como também, devido à sensibilidade ao ar e à umidade, as telas OLED
reduzem a sua estabilidade no longo prazo. Finalmente, as telas OLED são cinco vezes mais caras do que uma tela LCD equivalente", explica. As TVs OLED não saem por menos de R$ 8 mil no Brasil.
Outra tecnologia que melhora a qualidade dos painéis de LED recebe o nome de ponto quântico. Esses pontos são cristais minúsculos usados para absorver determinadas frequências de luz e emitir outras, conforme a necessidade.
O LED gera a luz branca responsável pela iluminação da tela, mas essa luz contém frequências de outras cores, o que dificulta a ação do filtro de cores do painel. A consequência disso é uma diminuição na quantidade de cores mostrada pela TV. Como a tecnologia de pontos quânticos usa partículas de um material semicondutor para criar uma luz branca mais pura do que a do LED, acabam gerando cores são mais brilhantes, contraste maior e um preto mais próximo do puro. Ainda não alcança o OLED em termos de qualidade, mas há uma evolução frente aos painéis de LCD e LED convencionais.
Sua TV será Smart
Comprar uma televisão passa também pela decisão de comprar ou não uma Smart TV. Em tempos de banda larga em casa com conexões cada vez mais rápidas, investir em uma televisão que não se conecta à Internet pode ser um desperdício de dinheiro — e algo cada vez mais difícil, dado o sumiço das “não Smart”.
A conectividade é metade da questão. A outra, talvez mais importante, é conhecer os sistemas operacionais das TVs. Tal qual os smartphones, elas também possuem plataformas. No geral, as TVs vendidas no Brasil ou vêm com Android TV, como é o caso de Sony, Philips e TCL, ou vêm com software próprios — webOS nas TVs da LG e Tizen nas da Samsung, por exemplo.
No início das Smart TVs, os sistemas eram bastante diferentes entre eles. Hoje, porém, eles são mais uniformes, com menus horizontais na parte de baixo da tela que mesclam aplicativos com atalhos para a TV aberta, TV a cabo ou mesmo para um navegador web. Elas também permitem que o usuário personalize esse painel e renomeie entradas, por exemplo.
Um detalhe importante é a atualização. Embora essa possibilidade exista, as fabricantes não garantem atualizações de software para a maioria dos aparelhos já no mercado. Logo, fique de olho e sempre se certifique de que a versão da plataforma que está na TV é a mais recente; caso contrário, corre o risco de ter um recurso querido da TV descontinuado rapidamente por incompatibilidades que jamais serão corrigidas por atualizações.
Conectividade
Além do cabo de força, da entrada para a antena e para equipamentos de imagem como Blu-Ray, outras conexões também devem estar presentes, especialmente se estamos falando de uma Smart TV.
Entradas HDMI são imprescindíveis, porque permitem que você conecte videogames, computadores e set-top boxes, como Apple TV e Chromecast, à TV. Assim como as USB, para você ver suas fotos e vídeos na tela grande a partir de um pen drive.
Outra conexão importante, mas que já não é encontrada em todos os modelos é a porta LAN, de internet a cabo. Isso não quer dizer que você não vai conseguir conectar sua televisão na rede, mas que para isso você terá que usar a conexão Wi-Fi, que nem sempre é tão confiável quanto a cabeada.
Outro recurso comum nas TVs é o DLNA, tecnologia que permite que aparelhos eletrônicos conectados em uma mesma rede, com o fio ou sem fio, possam trocar arquivos de mídia entre si. É ótimo se você quer ver um vídeo que está no seu computador, por exemplo, mas ele não está conectado diretamente por cabo na televisão. O DLNA não é uma tecnologia própria, mas resultado de um acordo feito entre várias empresas para que seus aparelhos sejam compatíveis entre si e, dessa forma, possam transferir conteúdos entre si. O princípio de uso é bem básico: para que um smartphone e uma TV possam transferir fotos, músicas e vídeos, é necessário que ambos estejam conectados em uma mesma rede sem fio.
Grande parte das TVs vem com algumas outras opções de conectividade sem fio, como o Wi-Fi Direct e o Miracast, que dispensam o uso de um roteador central, já que ambos são wireless e possuem um controlador e uma antena próprios. Ambas as tecnologias permitem que dois dispositivos se comuniquem usando protocolo Wi-Fi, sem necessidade de roteador, porém o Miracast é usado para transmitir vídeo e áudio, enquanto o Wi-Fi Direct faz mais o papel de um Bluetooth. Além disso, o Miracast também permite o espelhamento de tela diretamente na TV. Vale ressaltar que no caso do Miracast ambos os aparelhos precisam ser certificados para que a conexão seja estabelecida.
Controle remoto
Grande parte das televisões ainda vem apenas com o controle universal, aquele com botões coloridos. Uma ou outra fabricante deu uma atualizada no acessório, colocando um botão para a Netflix ou para a Amazon, mas, de forma geral, eles continuam muito parecidos com o de TVs de décadas atrás.
Em modelos mais premium, porém, já é comum encontrar controles remotos futuristas, verdadeiras releituras do acessório. Além de menores, eles possuem funções como um trackpad, parecido com aqueles de notebook, para você navegar com mais facilidade pelos menos da TV, ou ainda um microfone, que permite que você busque por conteúdos ou controle funções da TV (mudar de canal, aumentar o volume) usando comandos de voz.
Em alguns casos, é possível comprar esse controle diferente como um acessório à parte. Outra boa ideia é instalar aplicativos de controle remoto no seu smartphone. Eles trazem funções semelhantes a desses controles mais tecnológicos e facilitam o uso — principalmente quando o controle oficial se perde nas frestas do sofá.
O que esperar de cada faixa de preço?
São as TVs de entrada. Hoje, o mercado está recheado de Smart TVs, então a dificuldade está em encontrar uma que não seja inteligente, caso seja o seu desejo. Aqui, as telas têm tamanhos menores (abaixo de 40”) e resolução apenas HD.
Aparecem os modelos com resolução Full HD e em tamanhos maiores, de 40” para cima. Embora existam modelos nessa faixa com resolução 4K, eles não são indicados pela baixa qualidade. Procure também bons sistemas de Smart TVs, que sejam rápidos e atualizados. Não há desculpa, nesses preços, para não serem.
Nesse patamar, o 4K de qualidade já é uma realidade e os tamanhos de telas são generosos. O painel, porém, ainda é LED
São as TVs de 55 polegadas com tudo que há de melhor, incluindo painel OLED. Os preços sobem exponencialmente — há TVs à venda por preços que chegam a R$ 40 mil.