Loja da rede no Portão. Com venda de 80% das operações no Brasil, Walmart deve sofrer mais mudanças.| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

O anúncio do Walmart de que vendeu 80% de sua operação no Brasil não foi exatamente uma surpresa. Há alguns meses, já havia rumores de uma suposta venda da fatia brasileira a um fundo de investimentos, e foi o que aconteceu. O Advent International, que já investiu em 25 empresas brasileiras, passa a ser o principal controlador da rede no país. O valor da compra não foi divulgado.

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O Walmart chegou ao Brasil em 1995. Líder varejista nos Estados Unidos, quando desembarcou aqui tinha grande expectativa em também liderar. Não contava, porém, com um planejamento que levasse em conta as peculiaridades do mercado brasileiro. “Acreditaram que por operarem no mundo inteiro com bons resultados, não teriam problemas aqui, mas com planejamento equivocado e pouco conhecimento do mercado brasileiro, amargaram alguns anos de prejuízo”, avalia Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores, especialista em varejo.

A venda de produtos fora da realidade de boa parte dos brasileiros, como sapatos de neve e tacos de golfe, foi uma das pistas iniciais da necessidade de adaptação. A rede buscou se aproximar da cultura do consumidor brasileiro adaptando seu portfólio de produtos e com uma política de expansão baseada também na aquisição de concorrentes regionais, como as bandeiras Bompreço, Mercadorama e Nacional, que entre 2016 e 2017, foram definitivamente encerradas, na busca de unificar as marcas em Walmart Supermercados.

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De acordo com especialistas, o ideal neste tipo de aquisição é que a compradora assimile o que dá certo e retire ou reformule o que acontece de errado. “Eles tiveram dificuldades em fazer mudanças, muito por conta de restrições da diretoria brasileira às ordens da sede americana”, analisa Marco Quintarelli, professor da FGV especialista em varejo.

Junto às dificuldades no mercado brasileiro, o Walmart viu a expansão dos concorrentes no seu mercado original, os Estados Unidos. A ofensiva da Amazon, que adquiriu a rede Whole Foods em 2017, fez com que a empresa voltasse seus olhos para seu mercado original. “A expansão para um país emergente fica sem sentido em um momento como este. Acabam voltando as atenções para enfrentar a competição com a Amazon”, acredita Tozzi.

A participação do Brasil é de cerca de 2% das vendas globais do grupo.

Venda das unidades sinaliza novos rumos para rede do Walmart

Com a aquisição pela Advent International, são esperadas algumas mudanças nas lojas da rede. Segundo Tozzi, a principal deve ser o investimento na tendência de omnichannel, baseada na convergência de canais utilizados pelas empresas. “O movimento de integração dos mercados físicos e digitais deve vir antes da expansão das lojas”, acredita Tozzi.

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A negociação com fornecedores também é apontado como mais um dos motivos das dificuldades da rede no Brasil. Havia uma série de pré-requisitos que dificultava que marcas locais conseguissem entrar de forma competitiva, deixando a rede nas mãos das grandes marcas globais. “Nos EUA, eles têm fornecedores de ponta a ponta e aqui não encontraram esta facilidade, porque muitos fornecedores não conseguiram se adaptar às exigências”, diz Quintarelli.

Esta negociação também pode passar por mudanças. “A Advent deve repensar o sortimento e buscar novos fornecedores nacionais em substituição à importação, que ainda é bastante comum no Walmart”, explica Tozzi.

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Os novos modelos do mercado varejista, como os atacarejos, e a ascensão dos mais compactos, com cara de “mercados de bairro”, também são um desafio para os mais tradicionais. “É uma estratégia e um caminho sem volta. Todos os negócios de grande porte estão abrindo seus próprios atacarejos e minimercados”, avalia Tozzi.

O Walmart Brasil possui, entre suas bandeiras, o Maxxi Atacadão e o TodoDia, que seguem os modelos de atacarejo e loja de vizinhança esses modelos. “Porém, não foi o suficiente para acompanhar a rapidez de mudança do mercado varejista no Brasil”, avalia Quintarelli.

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Quintarelli acredita que a Advance deve, de fato, investir seus esforços neste sentido, pois possuem estrutura financeira e gestora necessária para tal. “Mas é preciso que haja autonomia no mercado brasileiro, que é muito dinâmico e necessita de decisões rápidas para mudanças acontecerem, diferente do que acontecia com o Walmart, preso às decisões internacionais”, finaliza.