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O que está em jogo no leilão de uma das maiores distribuidoras de energia do país

 | Pixabay

Uma das maiores distribuidoras de energia elétrica do país, a Eletropaulo é alvo de um leilão que vai definir quem será o seu novo dono a partir de junho. A italiana Enel e a brasileira Neoenergia estão na disputa para comprar o controle acionário da distribuidora e devem apresentar suas propostas finais nesta quinta-feira (24). Quem vencer a disputa comandará uma das áreas de concessão mais atraentes do país – a Eletropaulo presta serviço a 24 cidades da Grande São Paulo, incluindo a capital – e se consolidará como a maior distribuidora do Brasil, fornecendo energia a, pelo menos, 17 milhões de unidades consumidoras.

A Eletropaulo é uma empresa privada de capital aberto considerada uma das maiores distribuidoras de energia elétrica do país. Ela é líder em volume de energia vendida e fica atrás somente quando o critério é número de unidades consumidoras, perdendo para Neoenergia, Enel e CPFL. Sua área de concessão (região da Grande São Paulo) é considerada uma das mais atraentes, pois concentra o maior PIB nacional e tem a mais alta densidade demográfica, com 1.593 unidades consumidoras por quilômetro quadrado, o que corresponde a 33,1% do total de energia elétrica consumida em todo o estado de São Paulo e 9,3% do total do Brasil. A concessão da companhia vai até 15 de junho de 2028.

Em abril, a Eletropaulo, que tem suas ações negociadas na Bolsa e capital pulverizado (sem controlador), recebeu três ofertas públicas de aquisição (OPA). A brasileira Energisa, o quinto maior grupo de distribuição de energia do país, acabou desistindo da proposta. Com isso, permaneceram na disputa a italiana Enel e a brasileira Neoenergia, que é controlada pelo grupo espanhol Iberdrola. A Enel e a Iberdrola são duas das maiores distribuidoras do mundo e buscam consolidar suas posições no Brasil. No país, a Enel é dona de três distribuidoras de mesmo nome nos estados do Rio de Janeiro, Ceará e Goiás e tem 9,8 milhões de unidades consumidoras. Já a Neoenergia tem 13,4 milhões de clientes atendidos a partir de quatro distribuidoras: Elektro (interior de SP e MS), Celpe (PE), Cosern (RN) e Coelba (BA). A Eletropaulo tem 7,1 milhões de unidades consumidoras.

Desafios do novo dono da Eletropaulo

Quem vencer o leilão comprando o controle da Eletropaulo se consolidará como líder do setor de distribuição de energia no Brasil, tanto no critério de volume de energia vendida quanto de unidades consumidoras. Mas, ao mesmo tempo, terá o desafio de dar continuidade à gestão de uma empresa que ficou anos investindo menos do que deveria, fez dívidas bilionárias e somente no último ano conseguiu deixar as últimas posições do ranking que mede a qualidade das distribuidoras de energia, saindo da 30ª colocação para a 28ª entre 33 empresas analisadas. O ranking é elaborado pela Aneel, a agência reguladora do setor no país. Além disso, vai precisar recuperar o investimento feito para comprar a empresa, que hoje está avaliada em R$ 5,7 bilhões.

“Ambas as empresas [que apresentaram ofertas para comprar o controle da Eletropaulo] têm experiência em gestão de distribuidoras e conhecem mercado brasileiro. É questão de elas saberem valorizar o ativo que estão comprando”, afirma Cristopher Vlavianos, presidente da Comerc Energia. E essa valorização, segundo os especialistas consultados pela Gazeta do Povo, passa por investimentos para manutenção, renovação e modernização da rede da empresa, visando melhora na eficiência. “É notório que a Eletropaulo se recente da falta de investimento. Ela tem uma rede bastante antiga, que deve ser renovada com novas instalações e, até mesmo, aterramento de rede para ampliar sua eficiência”, diz Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil.

Para o período de 2018 a 2022, a Eletropaulo planeja investir R$ 4,9 bilhões, principalmente na expansão da rede de atendimento e novos clientes e na preservação dos ativos para garantir a distribuição de energia e melhorar os indicadores de qualidade. Os dois grupos que estão disputando a Eletropaulo se comprometeram a fazer um aumento de capital de R$ 1,5 bilhão. O valor, porém, é o mesmo do acordo da companhia fechado com a Eletobras para encerrar uma disputa judicial que durava mais de 30 anos sobre encargos financeiros referentes ao empréstimo concedido em 1986 pela Eletrobras.

Preocupações

O diretor do Ilumina (Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético), Roberto Pereira D’Araujo, porém, manifesta preocupação sobre as possibilidades de novos investimentos na Eletropaulo. “Eu não vi até agora um plano consistente de investimento por parte delas (Enel e Neoenergia). Só se fala em valor da ação. Você não tem nenhuma referência de que uma vai fazer alguma coisa diferente da outra.”

Ele também fala que esse leilão deveria ser uma oportunidade para o regulador, no caso a Aneel, atuar para garantir uma melhoria do serviço. “Não conheço nenhuma outra atividade econômica que tem receita garantida tão fácil. Energia elétrica é um grande negócio. Nessa briga dos dois (Enel e Neoenergia), eu não vejo nenhum plano por parte do regulador para garantir a melhoria do serviço da Eletropaulo”, afirma D’Araujo.

Reajuste na tarifa

Com relação à tarifa da Eletropaulo, uma das mais baixas do país, Vlavianos e Sales acreditam que o fato de a companhia ter um novo dono não deve interferir no preço da tarifa repassada ao consumidor, já que o valor é regulado pela Aneel. D’Araujo, porém, acredita que ambas as interessadas devem brigar por um reajuste de preço, já que, além do investimento para a aquisição da companhia, há vários “esqueletos” do setor elétrico cujos custos devem ser repassados ao consumidor. A data de aniversário dos reajustes anuais e revisões tarifárias da Eletropaulo é 4 de julho.

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