Quem decide abrir uma loja virtual deve ter em mente que é preciso oferecer diferentes meios de pagamento a seus clientes — isto pode ser, inclusive, um fator determinante no momento de decisão da compra. Por outro lado, o investimento em tecnologia própria não é barato. É aí que entram os intermediadores ou facilitadores de pagamentos online, que oferecem de maneira simplificada o serviço e poupam o proprietário da loja de uma série de burocracias e negociações com bancos e operadoras de cartão de crédito.
Os intermediadores de pagamento são plataformas que fazem a ponte entre o e-commerce e as instituições que oferecem serviços de pagamento por cartão de crédito, débito e boletos bancários. Eles só entram em cena no momento da finalização do pedido, quando o usuário é direcionado para o sistema do intermediador e escolhe a forma de pagamento.
O próprio intermediador faz a análise de risco, para prevenir fraudes. “É um facilitador justamente por isso. Oferecemos um pacote completo, com contrato com os adquirentes, análise de segurança e risco, e o cliente não precisa ter estrutura própria para cuidar disso. É uma boa opção para quem está começando, mas também é utilizado por empresas maiores”, explica Willian Marques, diretor geral da Yapay, empresa intermediadora fundada recentemente, em novembro de 2017, como uma nova unidade de negócios da Locaweb.
Há sete anos a Locaweb atua no e-commerce com a Tray, onde era utilizado o TrayCheckOut, que funcionava de forma parecida com um intermediador, mas era disponível apenas para vendedores da Tray. “Começamos a ter pedidos de clientes que não vendiam apenas na Tray, ou que sequer tinham uma loja lá. Vimos então a oportunidade de ampliar os negócios”, comenta Marques.
O Yapay entra no mercado oferecendo, além do serviço de intermediador, também o de gateway, que funciona de forma um pouco diferente.
Gateways oferecem apenas a parte técnica, ficando sob responsabilidade do dono da loja toda a parte de contratos com adquirentes (as operadoras de cartão), bancos, além de necessitar de tecnologia e equipe própria para análise de riscos antifraude. “São dois serviços diferentes e, de acordo com a necessidade do cliente, indicamos a melhor solução”, afirma Marques. De acordo com ele, porém, a maioria das lojas que optam pelo gateway já possuem maior presença no mercado. “Acaba sendo mais interessante para empresas de grande porte porque elas já possuem condições de negociação por movimentarem volumes maiores”, completa.
Simplificando o processo
Igor Senra, CEO do Moip, outra empresa intermediadora, prefere o termo facilitador para explicar o tipo de negócio que fazem. “O que fazermos é pegar algo complexo e facilitar para quem quer vender, tornando mais simples a integração e com apenas um contrato resolvendo tudo”, diz. Ele conta que, quando a empresa começou, eram necessários 14 contratos, seis contas diferentes em bancos e três integrações tecnológicas para que fosse possível receber pagamentos online. “Quando nos deparamos com isso, vimos que deveria haver uma maneira de, com tecnologia, simplificar este processo”, acrescenta.
O Moip foi lançado em 2007, mas a ideia do negócio veio alguns anos antes, em 2004, quando um de seus fundadores, Leonardo Mendes, na época estudante de Engenharia de Controle e Automação, foi fazer um intercâmbio de estudos nos Estados Unidos e lá conheceu os serviços de pagamentos eletrônicos, como o gigante PayPal. Ele viu ali uma oportunidade não explorada no Brasil e, ao voltar, procurou seu colega de faculdade, Daniel Fonseca, e falou sobre a ideia que teve.
Os dois perceberam que seria necessário aprenderem sobre programação, um conhecimento de que eles não dispunham. Leonardo, então, decidiu transformar a ideia em seu projeto de conclusão de curso, e pediu ajuda a um professor de Engenharia da Computação, que começou a ensinar a ele sobre programação. Logo, os primeiros passos para o que seria o Moip começaram a ser dados, mas na época Daniel e Leonardo estudavam e tinham outras atividades e o ritmo foi um pouco mais lento.
“Os dois tinham bastante conhecimento técnico, mas não tinham experiência empresarial. Foi aí que entrei, em 2007, como terceiro sócio”, conta Senra. Antes disso, ele já havia tido seu próprio negócio, montado alguns empreendimentos, vendido estas empresas e também trabalhado para grandes empresas, como uma telecom.
Como funciona
Quando contrata um intermediador, o dono da loja faz uma integração simples, para qual também recebe orientação. Depois disso, são disponibilizadas as formas de pagamento para o site, que utilizam os contratos já pré-estabelecidos pelo intermediador com adquirentes e bancos. O valor da compra é recebido pelo intermediador e depois repassado ao vendedor, com a cobrança de uma taxa percentual sobre o valor da transação.
De acordo com Marques, a Yapay paga o valor integral em até 14 dias de forma antecipada, mesmo compras parceladas. “Sem o intermediador, o vendedor faz a negociação de prazo para pagamento diretamente com o adquirente ou banco, que geralmente é de 30 dias. As compras parceladas também são pagas mensalmente, e não antecipadamente com o valor integral como conseguimos fazer”, conta.
Segundo Senra, o Moip consegue, em alguns casos, repassar o pagamento ao vendedor em até dois dias. Para isso, a empresa faz uma análise de riscos e busca entender a performance de seu cliente. “Não tem muito a ver com o tamanho do empreendimento, mas com sua performance. Se ele costuma vender, se já tem credibilidade, se consegue entregar os pedidos, se alguns requisitos forem vencidos, conseguimos entregar o dinheiro mais rápido”, explica. O Moip, além de contratos com adquirentes como Cielo e Rede, também possui outros diretos com as bandeiras de cartão. “É mais uma maneira de tornar as transações ainda mais transparentes”, completa.
Para que não haja dúvidas sobre o funcionamento do serviço, a Yapal oferece uma “sandbox” a seus clientes. O termo, que significa “caixa de areia” em inglês, é uma referência aos cercados de areia onde crianças brincam, funciona como um ambiente seguro, desligado do de produção, para que sejam feitos testes e simulações. Para isso, a Yapay possui uma série de números de cartões-teste, autorizados pelas operadoras, que serão recusados ou aprovados na simulação da compra. “Isso ajuda o vendedor a ter uma noção de como funciona o sistema, já sanar suas dúvidas e entender como é a experiência de compra dos seus clientes. Geralmente é muito útil no momento em que vai ser feita a integração”, explica Marques.
A questão de segurança parte de dois princípios: descobrir se quem está comprando é realmente o dono do cartão ou se tem autorização para fazer o uso dele e garantir que os dados sejam criptografados de forma segura. “Se um lojista tenta investir nisso sozinho, logo percebe que o custo é muito alto. O Moip, por exemplo, investiu R$ 2,5 milhões neste processo, para conseguir os mais altos certificados de segurança”, conta Senra. A empresa possui o certificado PCI DSS, que dita normas de segurança para todas as empresas que fazem movimentação de compras por cartão de crédito e armazenam ou transmitem dados online.
A Yapay também opera seguindo todas as normas de segurança e criptografias do Brasil. “Todo o processamento é feito pela nossa equipe, que é certificada para isso. Toda a análise de riscos segue restritos padrões de segurança, nenhum funcionário tem acesso aos dados de cartões de clientes”, conta William Marques.
Players atuantes no Brasil
As antigas ferramentas de pagamento da Locaweb, agora substituídas pela Yapay, movimentaram, somente em 2016, mais de R$ 1,18 bilhão, com uma base ativa de mais de 3 mil clientes. A expectativa é que, até o final de 2018, a Yapay chegue a 5 mil clientes e transacione R$ 2,5 bilhões. “Vamos investir fortemente em marketing, mas principalmente em equipe e gestão de pessoas. Esperamos crescer 40% ainda em 2017 e, para 2018, estão previstos investimentos de R$ 6,1 milhões”, conta Marques.
O Moip planeja ampliar seus negócios para fora do Brasil, em 2018. Em fevereiro de 2016, a empresa foi comprada pela companhia alemã de serviços financeiros Wirecard por R$ 165 milhões. Desde então, segundo Senra, foi possível mirar um pouco mais longe. “Conseguimos atingir um porte que, sozinhos, demoraríamos muito mais tempo. Só neste ano, aumentamos nossa equipe em 50%, por exemplo, coisa que seria bem mais difícil antes. Então agora nossas ambições extrapolaram as fronteiras e o plano é abrir operações fora do Brasil”, confessa. O próximo país deve ser a Argentina.
Além desses dois, existem outras soluções do tipo no Brasil. O norte-americano PayPal, pioneiro mundial nesse tipo de solução, tem operação no país desde 2010. O Rakuten Pay, do conglomerado japonês, opera no Brasil desde 2015. Em novembro passado, ele se tornou um produto independente, podendo ser usado por lojistas interessados fora do ecossistema da Rakuten. E o PagSeguro, do Uol, um dos mais antigos do tipo, iniciou o processo de abertura de capital na Bolsa de Nova York. A expectativa da empresa é levantar até US$ 1,89 bilhão com seu IPO.