Pedir atestado de bons antecedentes aos motoristas, checar bases públicas de dados e punir condutores denunciados por usuários são algumas das medidas que aplicativos como Uber, Cabify e 99Pop afirmam tomar para garantir a segurança de passageiros.
O assunto ganhou espaço após uma denúncia de estupro feita pela escritora gaúcha Clara Averbuck, mas vem preocupando usuários - e os próprios motoristas, também alvos de crimes - há mais tempo. Se, quando os aplicativos chegaram ao país, o fato de passageiros terem acesso ao cadastro do motorista atraiu o público, a insegurança acompanhou a expansão dos serviços - em especial, depois que a Uber adotou o pagamento em dinheiro.
Para aumentar as garantias de quem usa, as empresas apostam em mecanismos de seleção dos motoristas. Por exemplo, Cabify pede aos condutores o envio de um atestado de antecedentes criminais no momento do cadastro.
Uber e 99Pop afirmam checar candidatos em bases públicas de dados disponíveis online. Todos exigem que os motoristas tenham a permissão chamada de "Exerce Atividade Remunerada (EAR)", concedida pelo Detran. Ao receber denúncias de assédio, Uber e 99 garantem suspender definitivamente os motoristas.
Especialista em segurança, o cientista social e professor da Feevale Charles Kieling diz que uma forma de aumentar a tranquilidade de passageiros seria que os apps exigissem experiência prévia como motorista ou com atendimento ao público. Mas a questão principal, para ele, é a falta de fiscalização dos motoristas:
“Experiência prévia pode ser um bom indicador. Um motorista de 18 anos pode ter habilitação, mas não maturidade para lidar com situações de trânsito. Ele faz uma atividade para atender a população e precisa de supervisão”, explica o professor.
Simone Kraemer, vice-presidente de Expansão da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), concorda. E diz que, em empresas de transporte, por exemplo, motoristas passam por testes psicotécnicos e psicométricos de atenção concentrada e de atenção difusa. “Eles mostram características emocionais do motorista. São testes específicos para essa função.”
O presidente da Associação de Motoristas Privados e de Tecnologias (Ampritec), Reinaldo Ramos, diz que o Cabify é o único que ainda exige que os motoristas entreguem os documentos presencialmente e oferece capacitação presencial para os novos motoristas - prática que era adotada inicialmente pela Uber, mas hoje está abandonada.
Como os apps de transporte operam
1. Cadastro dos motoristas
Exige carteira de habilitação, documento do carro e EAR.
2. Ações para a segurança dos usuários
Realiza verificação em bancos de dados públicos.Permite que o passageiro envie a amigos ou parentes,durante a corrida, sua localização e a rota que está sendo feita pelo motorista.É possível postar em redes sociais o trajeto. Por amostragem, verifica a identidade do motorista – pede que ele envie uma selfie antes de aceitar uma viagem ou de usar o aplicativo. O objetivo é que o motorista no carro seja o mesmo que está usando o app.
3. O que faz em casos de denúncias
Quando há denúncia de assédio na plataforma, o motorista é desativado. A Uber pede que, em caso de denúncias feitas diretamente à polícia, o usuário reporte o caso no app para que a empresa tome providências rápidas.
1. Cadastro dos motoristas
Exige carteira de habilitação, documento do carro, EAR e idade maior do que 21 anos.
2. Ações para a segurança dos usuários
Atestado de antecedentes criminais (estadual e federal) emitido há menos de 90 dias. A empresa garante conferir presencialmente documentos e realizar exames toxicológicos com os motoristas, mas não detalhou como isso é feito. Oferece atendimento 24 horas para motoristas (por telefone) e usuários (pelo app).
3. O que faz em casos de denúncias
Pode haver a suspensão e o bloqueio do usuário ou do motorista parceiro. A empresa não se manifestou sobre o protocolo para casos de assédio.
1. Cadastro dos motoristas
Exige carteira de habilitação, documento do carro e EAR
2. Ações para a segurança dos usuários
Realiza verificação em bancos de dados públicos. Oferece central telefônica 24 horas para motoristas e passageiros, para solicitações de apoio imediato. Desde março, mantém treinamento para motoristas homens em parceria com o coletivo Vamos Juntas, para conscientizar sobre segurança e bem-estar de passageiras.
3. O que faz em casos de denúncias
Analisa ocorrências relatadas através do app. Em casos como assédio, o motorista tem o acesso bloqueado “imediatamente e de maneira definitiva”.
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