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Cinema

O advogado que ajudou Steve Jobs a transformar a Pixar em um fenômeno

Personagens da franquia Toy Story,d a Pixar. | Disney/Divulgação
Personagens da franquia Toy Story,d a Pixar. (Foto: Disney/Divulgação)

Quando Steve Jobs recrutou Lawrence Levy para a Pixar, sua missão parecia vinda do “campo de distorção da realidade” do cofundador da Apple. Levy, um advogado inglês radicado na Califórnia, tinha de tirar o desconhecido estúdio da lama financeira, abrir capital e, de quebra, salvar a imagem de gênio do chefe.

“Foram como placas tectônicas se empurrando para criar novas montanhas”, descreve Levy em suas memórias To Pixar and Beyond (US$ 12 na Amazon, sem editora no Brasil), sobre seus anos como vice-presidente-executivo e diretor financeiro. “Fizemos apostas absurdas.”

No início de 1995, a Pixar funcionava sem plano de negócios e tinha apenas alguns curtas premiados no currículo. Jobs, demitido da Apple havia dez anos e com a reputação em baixa, comprara a empresa de George Lucas em 1986, mas passava cheques todo mês para fechar as contas. Chegou a desembolsar US$ 50 milhões por ano.

Já no fim de 1995, o IPO (oferta de ações na Bolsa) virou realidade e transformou Jobs em bilionário. Foi sua volta por cima. Jobs e Levy, que antes nada sabiam sobre a indústria do cinema, fizeram da Pixar um híbrido de empresa do Vale do Silício com Hollywood. “Pegamos o melhor de cada mundo”, afirmou Levy à reportagem por telefone.

“Hollywood era muito resistente a inovação e mudanças. Já o Vale tinha a mentalidade de tomar grandes riscos e colocar tudo numa ideia maluca”, disse Levy, que depois largaria o mundo corporativo para abrir um centro de meditação em San Francisco.

Longa de animação

A “ideia maluca” foi investir tudo em longas de animação e deixar de lado as divisões de curtas para comerciais e de vendas de um software de efeitos especiais. Toy Story, lançado alguns dias antes do IPO, foi o primeiro filme de computação gráfica e quebrou recordes de bilheteria. “Nenhum estúdio vivia só disso, todos diversificavam”, disse Levy, 59.

“Outro risco foi apostar tudo na história. O time criativo, liderado por John Lasseter, tinha controle total. Isso não existia em Hollywood. Deu um certo medo.”

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Levy e Jobs eram vizinhos e gostavam de discutir os negócios em longas caminhadas. Nem sempre era tarefa fácil. “Quando Jobs acreditava em algo, era com uma convicção intensa, quase uma crença religiosa”, disse.

“Para mim, convicção sozinha não era bom argumento, era apenas teimosia. Então eu levantava todos os pontos e a gente conversava cada detalhe. Steve estava mais interessado em achar a resposta certa do que estar certo.”

Levy também ajudou a criar uma ponte entre Jobs e os funcionários da Pixar, que tinham medo ou nenhum respeito pelo chefe, mais interessado em hardware do que nas animações.

Mas Jobs ganhou credibilidade ao dar liberdade criativa, além de lutar por um novo contrato de distribuição e marketing com a Disney.

“Graças ao sucesso da Pixar, ele teve a segurança de arriscar uma volta à Apple”, disse Levy, sobre o retorno de Jobs em 1997. “Foi um conhecimento importante para quando ele começou a integrar música e filmes aos produtos da Apple.”

Saída da Pixar

Levy deixou a Pixar em 2006 após a Disney comprar o estúdio por US$ 7,6 bilhões.

Longe do mundo corporativo desde então, ele se dedica a traduzir ensinamentos de filosofias orientais para o estilo de vida moderna ocidental, com ajuda de um grupo liderado pelo monge budista nascido no Brasil Segyu Rinpoche.

“Já fui ao Rio com ele muitas vezes, gostamos muito de Búzios”, disse Levy sobre Rinpoche, que acompanhou Steve Jobs desde seu diagnóstico de câncer em 2003.

Antes da Pixar, o advogado formado na Universidade Harvard foi parceiro de uma grande firma de advocacia responsável pelo IPO (oferta pública de ações, na sigla em inglês) da Apple. Hoje, ele ensina meditação e cuida do conteúdo da escola Juniper, além de dar palestras sobre o valor do “caminho do meio”.

A escola da fundação, criada em 2003, é dedicada à disseminação dos valores indo-tibetanos dentro da vida urbana e contemporânea.

“Amava minha carreira, mas via limitações, era só uma dimensão, muito foco na performance, no sucesso”, disse Levy.

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