As operadoras de telefonia e algumas empresas como bancos e e-commerces começaram a permitir que usuários de banda larga móvel acessem determinados aplicativos, como Facebook, WhatsApp e as próprias plataformas das empresas, sem descontar a franquia de internet. A prática, denominada de “zero rating”, busca conquistar o cliente ao permitir o uso da aplicação sem descontar dados do seu plano. Mas, ao mesmo tempo em que oferece uma vantagem imediata ao usuário, entidades de defesa do consumidor e pesquisadores acreditam que a prática fere o princípio da neutralidade da rede, previsto no Marco Civil da Internet.
O zero rating consiste em permitir o acesso a determinados aplicativos sem cobrar o tráfego de dados móveis. É o que fazem as operadoras ao possibilitar que usuários acessem redes sociais como Facebook, Twitter e WhatsApp sem descontar a franquia de internet. Elas mesmo bancam esse custo com o intuito de reter o cliente no seu plano.
A prática ganhou força no Brasil no fim de 2014, quando as empresas de telefonia puderam vender pacotes de internet móvel com bloqueio do sinal após o fim da franquia. Como os planos de banda larga móvel são caros e em poucos a franquia dura até o fim do mês - já que redes sociais, vídeos e imagens consomem bastante tráfego -, elas passaram a oferecer como diferencial o acesso aos aplicativos mais populares sem desconto na franquia de dados.
Empresas como bancos e lojas do varejo acompanharam esse movimento e propuseram às operadoras pagar o acesso dos usuários às suas plataformas. A prática ganhou outros nomes, como “navegação patrocinada” ou “0800 dados”, mas tem o mesmo princípio do zero rating, que é permitir que o cliente acesse determinado aplicativo sem descontar a franquia da internet móvel. Nesse caso, quem paga é a marca patrocinadora. O Bradesco foi pioneiro ao fechar com a Vivo o primeiro contrato brasileiro de navegação patrocinada. Hoje, Netshoes, Mercado Livre, iFood e Privalia são mais alguns exemplos de empresas que aderiram à prática.
“É bom para a marca, que fortalece a relação com o cliente, é bom para o cliente final, que não vai pagar pela navegação e é bom para a Vivo, pois estou viabilizando ao meu cliente o acesso a algo que ele precisa”, afirma o diretor de serviços digitais e inovação da Vivo, Fernando Luciano.
Oren Pinsky, diretor de novos negócios da Qualcomm, acredita que o modelo pode ser usado também pelo governo para democratizar o acesso à internet e diminuir custos com atendimentos presenciais. “Quando uma empresa ou um governo usa o 0800 dados, ele faz com que os clientes usem o canal digital. Ainda não temos governo que ofereça esse serviço, mas o poder público tem muito a ganhar em eficiência, porque é mais barato e rápido o atendimento digital do que o presencial”, explica o diretor da Qualcomm.
Mas especialistas em internet e entidades de defesa do consumidor dizem que a prática fere o princípio de neutralidade da rede, pois passa a diferenciar o tráfego de dados da rede, além de gerar uma concorrência desleal na internet ao direcionar o acesso de usuários a determinados aplicativos.
“O que pode parecer uma vantagem indireta é na verdade uma desvantagem”, diz Flávia Lefèvre, representante do terceiro setor no Comitê Gestor da Internet (CGI) e advogada da Proteste. O pesquisador do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getulio Vargas (CTS/FGV), Luca Belli, completa: “No curto prazo, o consumidor tem a vantagem de ter o serviço de graça. Mas no longo prazo transforma o usuário em um simples consumidor de aplicativos direcionados”.