Com pouco menos de 35 mil habitantes, a cidade de Palmeira, próxima a Ponta Grossa, no Paraná, terá a primeira usina fotovoltaica privada do Brasil a operar no modelo de Mini Geração Distribuída. Com a capacidade de gerar energia elétrica a partir da solar, o projeto é resultado de um consórcio entre empresas nacionais e internacionais, tocado pela curitibana FAAD Consultoria. A energia ali gerada será comercializada com empresas e indústrias paranaenses, distribuída pela Copel em regime de compensação.
A licença junto ao Instituto Ambiental do Paraná (IAP), obtida no último dia 3 de abril, permite o início das obras da primeira etapa do projeto: uma usina com capacidade inicial de 7,3 MWp (megawatts-pico, unidade utilizada para caracterizar painéis fotovoltaicos), e que proporciona a geração de 900 MWh, energia suficiente para abastecer o equivalente a oito mil residências. As obras devem começar em 60 dias, quando é esperado que cheguem os equipamentos vindos da empresa parceira alemã, Grass.
Para viabilizar o projeto, a FAAD foi atrás de empresas que estariam interessadas em “alugar” uma parte da energia produzida no Conerge, como foi batizado o empreendimento. A partir daí, reuniu assinaturas em um protocolo de intenção para demonstrar que havia demanda e então começar a busca por terrenos próximos, analisando onde havia necessidade e boas condições climáticas para a instalação do condomínio. Nesse momento, a consultoria também realizou a consulta de acesso junto à Copel, quando a distribuidora informa se é possível construir naquele local, o que é preciso implementar para a conexão, ou seja, estabelece os critérios técnicos.
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Tendo reunido clientes, terreno, informações técnicas e licenças, o projeto foi apresentado a parceiros internacionais. A alemã Grass ficou responsável pelo aporte financeiro de U$ 8 milhões para esta etapa, fornecendo os equipamentos e ficando responsável pela construção.
Produzir a própria energia
De acordo com a Resolução 482/2012 e 687/2015 da Aneel, cada empresa pode produzir 5 MWp a ser utilizada localmente ou em autoconsumo remoto, quando a fonte produtora não está no mesmo terreno da consumidora.
O Conerge produzirá 7,3 MWp divididos por quatro indústrias paranaenses, já selecionadas. Para participar desse consórcio, as indústrias interessadas entregam à FAAD suas faturas da Copel dos últimos 12 meses, para então a consultoria elaborar um gráfico de consumo e mensurar qual o tamanho da usina necessária para cada cliente. “Para que não tenham de construir a própria usina, nós fazemos todo projeto e planejamento, construímos e alugamos para que elas mesmas possam produzir sua energia elétrica”, simplifica Marcos Nogas, CEO da FAAD.
Quando as obras estiverem finalizadas, os protocolos de intenção assinados no início do projeto se tornam contratos de aluguel, e essas empresas passam a ser consumidoras e geradoras, ao mesmo tempo. Isso porque a energia que chega até elas não é a mesma que será gerada na usina de Palmeira. As indústrias, localizadas na região de Curitiba, continuam consumindo da rede da Copel, mas o que é gerado em seu quinhão da usina de Palmeira, a 81 km da capital, se transforma em créditos que são compensados em um prazo de até 60 dias. A economia na fatura pode variar de 10% a 25%, dependendo de quais horários as indústrias gastam mais energia.
A energia produzida no Conerge, segundo Nogas, ficará a princípio para o município de Palmeira. “Isso também é bom para os moradores da cidade, que vão ter à disposição uma rede mais estável, em que raramente existem ‘picos’ de luz, por exemplo, o que geralmente causa queima de aparelhos eletrônicos e lâmpadas”, conta.
De acordo com Nogas, este é também um bom negócio para as distribuidoras, que passam a contar com mais opções de usinas geradoras; embora menores, elas trazem a vantagem de serem mais distribuídas. O executivo conta que, apenas entre Palmeira e Foz do Iguaçu, onde está a Itaipu, perde-se até 26% de energia na transmissão devido à distância. “Se tenho uma usina ao lado da cidade, a perda é quase nula”, diz.
Por que Palmeira
Nogas conta que a decisão pela cidade de Palmeira se deu por uma série de fatores favoráveis da região, como a existência de um entroncamento importante de redes elétricas. Mas o principal favor foi climático. Localizada nos Campos Gerais, Palmeira está fora do corredor de nuvens, mais próximo de Curitiba e da Serra do Mar, e apresenta um clima subtropical, também conhecido como temperado, em que a quantidade de chuvas é bem distribuída durante o ano, com estações bem definidas e temperaturas mais amenas.
Esse tipo de clima, segundo Nogas, é mais vantajoso para a produção de energia através do Sol. “Muitos equipamentos utilizados para a produção de energia acabam não aguentando o calor excessivo de certas regiões. O rendimento chega a cair se for muito quente”, explica. “O que realmente importa é a irradiação solar. Se não estiver tão quente, mas tiver a iluminação do sol, conseguimos produzir energia”, explica o CEO.
O Brasil está em uma localização privilegiada, diz Nogas, e sua grande extensão territorial o coloca como uma aposta para os investidores internacionais interessados no setor de geração de energia. “Nos últimos quatro anos, a Alemanha se tornou a grande ‘Meca’ da energia solar. Outros países com vastos territórios, como China e Índia, também investiram nisso. O Brasil está atrasado, então o potencial para ampliação deste tipo de usina é imenso”, afirma o CEO.
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A previsão é que a primeira etapa da obra em Palmeira dure seis meses. Serão gerados 200 empregos, com prioridade para mão de obra local, sendo 50% masculina, 50% feminina, em acordo já firmado com a prefeitura da cidade. A usina ficará na beira da BR-277, a 8 km da entrada de Palmeira, sentido Irati. “Existe até um potencial turístico, as pessoas vão avistar da rodovia e é algo que chama a atenção pois é imenso, é moderno. As pessoas vão querer visitar”, acredita Nogas.
A primeira licença já está com os contratos fechados, mas a FAAD já projeta outras duas novas usinas também em Palmeira, cada uma com capacidade de gerar 50 MWp em períodos de 8 a 12 horas de funcionamento. A estimativa de investimentos é de até US$ 330 milhões para os próximos dois anos. “Vamos produzir energia limpa, de uma forma ecológica e utilizando um fonte inesgotável que é o sol”, conclui Nogas.
Por enquanto, o projeto ainda é voltado para a iniciativa privada, mas Nogas revela que existem planos para possíveis parcerias público-privadas, em especial para suprir a iluminação pública de municípios.