Depois de cinco anos vendendo apenas livros e alguns serviços adicionais, a Amazon vai expandir sua atuação no Brasil. A empresa deve começar a vender eletrônicos nesta quarta-feira (18), no modelo conhecido como marketplace, em que ela oferece o seu site e os seus serviços para que terceiros anunciem os produtos. A novidade, que já era aguardada pelo mercado, cria a expectativa para saber se ela vai conseguir repetir por aqui o sucesso que faz nos Estados Unidos.
A expansão da Amazon no Brasil se deu em ritmo lento. A empresa entrou no país em 2012 vendendo livros digitais e seu leitor de e-books, o Kindle. Depois, passou a ofertar serviços adicionais como o Kindle Unlimited, plano de assinatura digital de e-books, e o Amazon Web Services, armazenamento na nuvem. Em 2015, passou e vender livros físicos em seu site e, em abril deste ano, abriu sua plataforma para ser um marketplace de livros, permitindo que terceiro anunciassem livros novos e usados.
Agora, segundo o jornal Valor Econômico, a Amazon vai, enfim, começar a vender eletrônicos no Brasil. O segmento inclui celulares, itens de informática e aparelhos eletrônicos em geral, categorias que responderam por 41,1% de todo o faturamento do comércio eletrônico do país no primeiro semestre de 2017, segundo o e-Bit.
“O que eles estão fazendo hoje no Brasil é reproduzir o que eles fizeram nos anos 2000 nos Estados Unidos. Eles também começaram vendendo livros [nos EUA] e depois ampliaram para eletrônicos. E por que eletrônicos? Porque é um segmento de alto valor agregado, de fácil transporte, que não é perecível, de compra comparada e que não tem grandes problemas para fazer a troca”, afirma o coordenador do MBA em Gestão de Varejo da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ulysses Reis.
Preços baixos
Com a Amazon entrando no segmento de eletrônicos, uma das maiores questões é saber se ela vai conseguir oferecer preços baixos e entrega rápida, dois dos seus grandes diferenciais no exterior. Para especialistas consultados pela Gazeta do Povo, a empresa deve sim entrar com uma política agressiva de preços, até mesmo para conquistar o consumidor que ainda não conhece a marca americana.
“Em termos de preço, eu não tenho dúvidas de que ela será competitiva. As negociações comerciais da Amazon vão ser muito boas por ela ser um player global”, afirma Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores. O CEO do Ebit, Pedro Guasti, acredita que é possível que a Amazon ofereça preços bem agressivos, opções de parcelamento e politica de frete grátis. “A Amazon tem um canhão e pode brincar de perder dinheiro no Brasil”, diz Guasti.
A empresa também estaria oferecendo condições agressivas aos lojistas que vão vender eletrônicos em sua plataforma, uma estratégia que serve tanto para atrair parceiros comerciais, quanto para oferecer ao consumidor um produto com preço mais baixo. Segundo o jornal Valor Econômico, a Amazon estaria negociando uma taxa de comissão de 10%, sem cobrança de antecipação de recebíveis. As suas concorrente diretas, como a B2W, trabalham com taxas de 12%.
Expertise no e-commerce
Outro diferencial da Amazon no Brasil será sua expertise em e-commerce. A empresa foi pioneira no segmento e é referência em oferecer uma plataforma com tecnologia completa aos lojistas e uma experiência de compra on-line satisfatória ao cliente, fruto do seu investimento em inteligência artificial e big data. “A Amazon tem um nível de inteligência artificial, um nível de volume de dados e de qualidade de tecnologia que ninguém tem. Ela saber fazer como ninguém todo o processo de análise de compra do cliente”, diz Ana Paula Tozzi.
O desafio da logística
Apesar dos seus diferenciais, a Amazon também vai enfrentar desafios no país. O maior deles é o logístico, devido à complexidade tributária brasileira para transportar uma mercadoria de um estado para o outro e ao próprio transporte em si, que é feito em um país com dimensões continentais e com poucos modais bem desenvolvidos.
“A Amazon já tem parceiros atuais que fazem a entrega dos produtos [livros e Kindle] e que devem atuar também na expansão [para os eletrônicos]. Mas eles não vão entregar na mesma velocidade que a Amazon está acostumada nos Estados Unidos e na Europa, que têm mais opções logísticas, como rotas aeroportuárias”, diz Pedro Guasti.
Ana Paula, da AGR Consultores, afirma que será um desafio para a Amazon lidar com questões logísticas típicas brasileiras, como calcular os tributos de um estado para o outro, as exigências para envio e transporte e o quanto o consumidor está disposto a pagar pelo frete. Ela diz, porém, que não tem dúvidas de que a Amazon vai vencer todos esses desafios e que, no futuro, deverá ter um serviço próprio de logística.
O mesmo acredita o professor da FGV, Ulysses Reis. “No começo, eles vão trabalhar com parceiros [logísticos] nacionais. No futuro, eles vão criar suas próprias soluções e centrais de distribuição e vão começar a prestar serviços para terceiros”, prospecta Reis.
Outro desafio que a Amazon terá no Brasil é o fato de ser pouco conhecida nas classes mais baixas da população. Para lidar com isso, segundo o jornal Valor Econômico, a companhia vai adotar uma estratégia de marketing bem agressiva. Ainda não se sabe qual será essa estratégia, mas Guasti afirma que ela pode investir em marketing digital ou, até mesmo, ir fazer propaganda na TV.