As últimas patentes vigentes do MP3, formato de áudio que praticamente criou o hábito de ouvir música em computadores e dispositivos móveis digitais, expiraram no último dia 23 de abril, tornando o formato efetivamente de uso gratuito. Pouca coisa muda para quem ainda ouve músicas em MP3, mas, simbolicamente, o evento se soma a mudanças na indústria para atestar o óbito do formato.
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Bancado pela divisão de Circuitos Integrados do Fraunhofer IIS, instituto de pesquisas estatal alemão, o MP3 surgiu há 22 anos e causou um grande impacto na indústria. Seu algoritmo de compressão remove as frequências mais altas, inaudíveis para a maioria dos seres humanos, resultando em arquivos até dez vezes menores que em formatos sem compressão, como o Wave.
Numa época em que os computadores tinham memórias limitadas, um ganho em espaço da magnitude do MP3 não passou despercebido. Além disso, seu surgimento coincidiu com outra revolução tecnológica que dependia de arquivos menores: a Internet. Foi graças ao MP3 que serviços de trocas de músicas que operavam à margem do sistema, como o Napster, floresceram. Pirataria pura, mas isso não chegou a ser um problema – ao menos para a maioria dos usuários que baixavam músicas sem pagar nada por elas.
A ascensão do MP3 afetou severamente a indústria fonográfica e deu brecha para o ressurgimento da Apple, que esteve muito próxima de fechar as portas nos anos 1990. Em 2003, dois anos depois do lançamento do iPod, a iTunes Store despontou como uma tábua de salvação para as gravadoras. Vendendo músicas por preços irrisórios e com proteção contra cópia, o modelo da Apple deslanchou e pavimentou o caminho para o iPhone e, em última instância, para transformar a empresa na mais valorizada do planeta – no início de maio, ela bateu a marca de US$ 800 bilhões.
O fim das patentes – e do MP3
As patentes geravam renda ao Instituto Fraunhofer. Para rodar arquivos MP3, desenvolvedores e empresas precisavam pagar royalties ao instituto. Em 2012, essas patentes expiraram na Europa. Segundo comunicado do Fraunhofer IIS, no último dia 23 de abril as últimas patentes que ainda estavam valendo nos Estados Unidos através de uma parceria com a Technicolor expiraram.
Para Bernhard Grill, diretor da divisão que criou o MP3, outros formatos desenvolvidos posteriormente trazem mais vantagens no cenário atual. Em entrevista à NPR, ele citou o AAC, também desenvolvido pelo Fraunhofer e padrão nos produtos da Apple, como “o padrão de fato para música e vídeo baixados em celulares” por ser “mais eficiente que o MP3 e oferecer mais funcionalidades.”
Os serviços de streaming, como Spotify e Apple Music, também contribuem para o desuso do MP3. O primeiro usa um formato de código aberto, o OGG; o da Apple, o já mencionado AAC. Para o usuário, pouco importa – a música toca, em boa qualidade e quase em tempo real, e ele em geral nem desconfia do formato que está sendo executado. Somados, os dois serviços têm pelo menos 120 milhões de usuários.
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A tendência é que a popularidade do MP3 continue caindo. Muita gente ainda tem grandes acervos de músicas baixadas ou extraídas de CDs e discos de vinil, mas a comodidade e a farta disponibilidade de músicas no streaming têm conquistado mais usuários.
Para quem preza por qualidade, o MP3 nunca foi uma opção muito atraente. Além da evolução natural das memórias, o que resulta em mais espaço para guardar arquivos “lossless” (sem compressão), formatos modernos como o próprio AAC e o Flac equilibram melhor a relação entre espaço consumido e qualidade. E, para piorar, há relatos de que os engenheiros responsáveis pela criação do MP3 partiram de suposições incorretas sobre como o nosso cérebro processa informações sonoras.
O que muda
Na prática, pouca coisa muda. A maioria dos dispositivos e apps mais populares já contavam com suporte ao MP3. Agora, esse número deve aumentar. A Red Hat, empresa que desenvolve soluções em ambientes Linux, anunciou que o Fedora, sua distribuição de código aberto, incorporará o MP3 agora que ele não está mais protegido por patentes.
Por vias tortas e na força bruta, o MP3 popularizou ainda mais a música e gerou tremores na indústria fonográfica que a virou de ponta cabeça. Apesar do declínio, para quem viveu os anos 1990 e 2000, baixando músicas ou convertendo coleções de CDs e discos em arquivos digitais, esses três caracteres ficarão para sempre na memória.
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