Até 2013, a Apple apresentava apenas um novo iPhone por ano. Além de catapultar o faturamento da empresa, a expansão da linha, com dois modelos a partir de 2014, abriu uma pequena fonte de diferenciações – fora o tamanho da tela e da bateria, a câmera do iPhone maior passou a trazer tecnologia mais avançada. Agora, fortes indícios apontam que, em setembro, para celebrar o décimo aniversário do seu produto mais popular e rentável, um terceiro iPhone será apresentado. E ele poderá custar caro: até o dobro do preço do iPhone 7 mais barato, ou mais de R$ 7 mil.
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Analistas e pesquisadores com um bom histórico de vazamentos sobre a Apple dizem que a empresa apresentará, além de versões atualizadas do iPhone 7 e 7 Plus, um novo modelo totalmente reformulado. Esse “iPhone Pro” ou “iPhone 8” seria mais sofisticado e traria um design diferente, recursos inovadores e um custo maior que o dos modelos tradicionais. Bem maior: os palpites chegam a US$ 1.400, ou mais que o dobro do modelo de entrada (nos Estados Unidos, de US$ 650).
Mas há demanda para um iPhone que pode passar dos R$ 7 mil? Afinal, se a lógica do dobro do preço for mantida, é por aí que o modelo custaria aqui – o iPhone 7 de entrada custa R$ 3,5 mil no Brasil.
Argumentos e teorias
Tem quem ache que sim, e por uma série de fatores. No Wall Street Journal, o colunista Christopher Mims conversou com pesquisadores e professores de marketing e se convenceu de que um iPhone premium faz sentido dentro da estratégia da Apple.
Entre os argumentos, estão a elevação do preço médio de venda (o número mais importante para a Apple, aquele que determina as suas margens de lucro) e a teoria do economista e sociólogo Thorstein Veblen, que diz que, contrário à lógica, certas categorias vendem mais quando seus produtos encarecem.
Esse iPhone caríssimo imediatamente se tornaria objeto de desejo de muitos consumidores. E não só de fashionistas e gente querendo aparecer. Os mesmos rumores que sugerem a sua existência apontam para a presença de novidades tecnológicas que, de outra forma, talvez levassem anos para chegar ao mercado.
Entre elas, uma ganhou contornos mais fortes no início da semana: a de uma tela que ocupa toda a parte frontal do aparelho. A Apple liberou acidentalmente o firmware (espécie de código base) do HomePod, uma caixa de som inteligente que será lançada em dezembro. Nele, desenvolvedores encontraram referências e o desenho de um iPhone ainda não anunciado e jamais visto. Este:
O desenho apresenta o aparelho como tendo toda a parte frontal composta por uma tela, à exceção de uma faixa parcial, no topo, onde ficariam a câmera frontal e os sensores. Além dos tradicionais, como o de luminosidade, informações referentes aos recursos de biometria do iOS 11 encontradas no mesmo código indicam que o sistema seria capaz de lidar com um novo sensor infravermelho.
Especula-se que esse novo iPhone teria um sistema de desbloqueio baseado em reconhecimento facial e que o infravermelho, além de dar mais segurança (impedindo o desbloqueio por fotos, por exemplo), permitiria o uso mesmo em ambientes escuros. Trata-se de uma alternativa ao Touch ID, que não teria mais espaço na frente do celular ante a falta do botão de início.
“Efeito halo”
Alguns analistas fazem a analogia com o chamado “efeito halo” para racionalizar o possível movimento da Apple. Ele explica um produto de ponta que é lançado pela empresa não para vender em grandes volumes, mas sim para influenciar a percepção do público, apresentar tecnologias-chave que valorizem e posicionem a marca e, com isso, impulsionar as vendas de variantes mais baratas.
Na indústria automotiva, por exemplo, isso é bastante comum – o Accord e o Camry, da Honda e Toyota, respectivamente, cumprem esse papel para ajudar nas vendas do Civic e do Corolla.
De qualquer forma, graças à escala sem igual do iPhone, uma variante cara deve vender bem e aumentar consideravelmente a lucratividade da Apple. Se apenas 10% dos compradores de iPhone no último trimestre optarem por esse suposto novo modelo, ainda assim estaríamos falando em cinco milhões de unidades no trimestre. Isso, claro, se a Apple conseguir atender à demanda.
Fora marcas que trabalham exclusivamente com celulares de luxo, como a Vertu, nenhuma de massa jamais lançou um celular tão caro. O atual iPhone topo de linha, a versão 7 Plus com 256 GB de espaço, tem preço sugerido de R$ 4.899 aqui – ou US$ 969, nos EUA. O Galaxy S8 Plus com 6 GB de RAM, lançado semana passada no Brasil, sai por R$ 4.799; nos Estados Unidos, pela operadora T-Mobile, a versão normal custa US$ 800. Existe uma barreira, de R$ 5 mil aqui e US$ 1 mil lá, que ainda não foi transposta.
Com mais margem para comportar a elevação de custos de um aparelho melhor, uma linha de produção menos frenética (atualmente, a Apple fabrica cerca de dez iPhone por segundo) e a garantia de um retorno maior, a Apple poderá dar passos maiores na evolução do iPhone que os dados, ano a ano, até então.
O iPhone é um produto paradoxal: super tecnológico e, ao mesmo tempo, familiar a quem usa. Uma parcela pequena, mas ruidosa dos consumidores interpreta esse “familiar” como “enfadonho” e sempre cobra inovações mais agressivas da empresa. Um modelo premium seria um caminho para entregar o que eles pedem, sem alienar a grande base satisfeita com o ritmo de atualizações anuais, e cobrar (bastante) por isso.
E, no caso do iPhone, é mais provável que o novo modelo caríssimo apenas antecipe a tecnologia que, amanhã, estará em toda a linha. Como já acontece com a das câmeras dos modelos Plus – em 2016, a estabilização ótica de imagens, até então exclusiva desse, chegou ao iPhone menor. A questão, então, se resume à seguinte: quem está disposto a pagar o dobro para ter, em 2017, o iPhone de 2019? Se esse suposto iPhone premium for anunciado em setembro, descobriremos até o fim do ano.
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