Por causa de um desentendimento entre os mineradores, o Bitcoin se transformou em duas moedas distintas. A partir desta terça-feira (1º), está em circulação a versão tradicional da moeda, chamada de Bitcoin (BTC), e o Bitcoin Cash (BCC), uma nova derivação do dinheiro virtual. Cada uma das duas moedas será operada em redes distintas e terá cotação própria.
Novo ouro? Moeda virtual Bitcoin guarda semelhanças ao metal precioso
Para entender a divisão do Bitcoin, é preciso entender o funcionamento da moeda virtual. Em linhas gerais, ela foi criada em 2009 por um programador ou um grupo de programadores que usaram o pseudônimo de Satoshi Nakamoto. Até hoje, ninguém conseguiu confirmar a identidade do criador ou criadores.
Eles criaram o Bitcoin e definiram toda a sua cadeia de funcionamento. A moeda é gerida por um software, controlado pelos chamados mineradores. Os mineradores são pessoas que validam as transações feitas em Bitcoins na rede Bitcoin e que também controlam a emissão da moeda virtual – que é limitada em 21 milhões de unidades a serem criadas até 2033.
Os mineradores, ou seja, os responsáveis por gerir o Bitcoin perceberam que o software que cuida de toda a rede precisava ser atualizado, principalmente para expandir o limite de transações. “O Bitcoin cresceu muito e a capacidade de transação por segundo se tornou insuficiente”, afirma Rodrigo Batista, CEO do Mercado Bitcoin. Atualmente, é possível validar menos de 10 transações por segundo na rede Bitcoin.
Os mineradores resolveram, então, lançar uma atualização do sistema para dobrar a capacidade de transações suportadas por segundo. O nome dessa atualização é SegWit e ela também corrige algumas falhas técnicas que possibilitavam mineradores ganhar mais dinheiro virtual por transação validada. Cerca de 80% dos mineradores concordaram com a atualização.
Mas um grupo de mineradores liderado por empresas chinesas achou que a atualização é insuficiente e que limita tecnicamente o trabalho dos mineradores. Com isso, eles criaram um racha na moeda virtual e lançaram nesta terça-feira o Bitcoin Cash. A nova versão nada mais é do que um Bitcoin sem a atualização SegWit e com capacidade de transação oito vezes superior ao Bitcoin tradicional.
Com isso, agora há duas moedas em circulação no mercado: Bitcoin e Bitcoin Cash. A primeira é a tradicional, com a atualização SegWit, e o Bitcoin Cash é a nova versão, dos dissidentes, sem a atualização SegWit. Cada uma passa a ser operada em redes de mineradores distintas e poderá ter, a partir de agora, regras diferentes de controle e emissão da moeda.
Uma das principais consequências dessa divisão do Bitcoin será na sua cotação. A moeda, que vinha batendo recorde atrás de recorde, deve perder bastante valor de mercado, já que foi dividida em duas. O Bitcoin tradicional terá uma cotação e o Bitcoin Cash terá outra, o que levará o mercado a fazer uma correção do preço da moeda virtual, que terminou a segunda-feira (31) – antes de ainda ser dividida – valendo US$ 2.842,50.
E para o investidor?
Para o investidor, o que mudou é que ele pode transacionar seus Bitcoins na rede tradicional ou na nova, responsável pelo Bitcoin Cash. Se ele quiser, pode também vender uma das versões do Bitcoin e ficar somente com a sua preferida. Mas ainda é cedo para saber qual versão é mais interessante para cada tipo de investidor – isso depende da cotação que o mercado dará às moedas e ao próprio funcionamento das redes.
E, devido à correção no preço das moedas e também à instabilidade gerada no sistema por causa das atualizações, a recomendação do CEO do Mercado Bitcoin, Rodrigo Batista, é não fazer nenhuma operação em Bitcoin até que as regras do jogo fiquem mais claras. “Não faça nada por enquanto. Leia bastante e tente entender as mudanças primeiro”.