Os últimos meses têm sido especialmente movimentados para Brian Chesky, de 36 anos, um dos fundadores e CEO da empresa de aluguel de casas Airbnb: no final de setembro, ele veio a Nova York para lançar o Experiences, serviço que permite que viajantes marquem atividades com anfitriões do Airbnb em 40 destinos no mundo todo. Poucos dias antes, revelou a sociedade com o aplicativo de reservas de restaurantes Resy, por meio do qual os clientes podem marcar as refeições diretamente pelo site do Airbnb.
Em agosto e setembro, após os furacões Harvey e Irma, Chesky ativou o programa de alívio de desastres da empresa, que oferece alojamento gratuito para as pessoas deslocadas por causa de desastres naturais, como furacões e incêndios florestais. Desde que o programa começou em 2012, com a tempestade Sandy, o Airbnb já ajudou vítimas de 90 desastres.
No começo de agosto, a empresa tomou uma posição contra os supremacistas brancos em Charlottesville, na Virgínia, recusando-se a alugar a eles acomodações na cidade.
E o que vem agora?
Chesky conversou sobre os novos projetos do Airbnb quando visitou o New York Times durante sua viagem à cidade (ele ficou hospedado em um apartamento do Airbnb em Greenwich Village).
A seguir, trechos editados da entrevista com Chesky.
Com o Experiences e a colaboração com o Resy, o Airbnb está se ramificando em segmentos diferentes do mercado de viagens. Por quê?
Chesky: Começamos como um site de compartilhamento de casas, mas as pessoas viajam para ter experiências e conhecer lugares. Queremos ter certeza de que as viagens sejam incríveis com o Airbnb e, para fazer isso, temos que torná-las mais fáceis. Isso significa que você não precisa passar várias horas usando dez sites ou aplicativos diferentes para planejar sua viagem. Alguns anos atrás, decidimos que queríamos estar no negócio de viagens de ponta a ponta. No ano passado, criamos o Experiences e agora temos os restaurantes.
No seu objetivo de tornar o Airbnb um lugar único para viagens, não há nada sobre passagens aéreas, mas isso foi algo com que você brincou em entrevistas anteriores. Qual a sua posição hoje?
Chesky: Estamos pesquisando a aviação, mas essa indústria não é realmente diversificada. Pensamos em talvez fazer alguma coisa para redefinir a indústria, não completamente, mas de uma maneira pequena e, se não tivermos como fazer isso, talvez devêssemos ter cuidado com a nossa participação. Então, estamos pensando nas passagens aéreas, mas ainda não tenho nada para anunciar.
Talvez em uma tentativa de competir com o Airbnb, a indústria hoteleira estejam reconhecendo que os viajantes querem acomodações com uma sensação mais local e estão procurando oferecer isso aos hóspedes.
Chesky: Não acho que seja uma coisa ruim os hotéis tentarem ser mais locais. Visitei Arne Sorenson (executivo-chefe do Marriott International) alguns anos atrás em seu escritório, e ele me mostrou como estão projetando quartos que se parecem com casas e apartamentos. A guerra (do Airbnb) com os hotéis que tem sido descrita na mídia não tem ressonância no relacionamento que temos com a indústria. Por exemplo, existem cinco ou seis CEOs principais de hotéis, e nos relacionamos bem com eles, além de compartilharmos informações.
O Airbnb começou a aconselhar alguns anfitriões a aderir a padrões de hospitalidade. Por quê?
Chesky: Por um lado, não queremos ser impositivos. Por outro, se você nunca sabe o que vai ter, esse produto nunca vai se tornar popular, e as pessoas nunca vão amá-lo. Existem alguns padrões básicos de hospitalidade que tentamos impor – tudo deve ser limpo, por exemplo –, mas, além disso, não queremos tomar posição sobre a decoração ou sobre coisas que podem afetar a sensação local.
Sua marca hoje é vista como uma corporação responsável – respondendo a desastres e deixando de alugar para supremacistas em Charlottesville. Como vocês equilibram o fato de ser uma empresa conduzida por indivíduos e pela cultura local com tentar exercer uma força do bem?
Chesky: É complicado. Você sempre terá seus próprios valores, mas na raiz do Airbnb está essa ideia de aceitação, e qualquer um que não faça com que alguém se sinta bem, principalmente por causa do país ou da cultura de onde vem, de seu visual, de suas orientações e de quem ele cultua, é uma pessoa que não podemos aceitar. No ano passado, lançamos nosso comprometimento da comunidade onde fizemos 200 milhões de pessoas atestarem que não vão descriminar os outros. Geralmente, não tomamos posições políticas, a não ser quando elas violam esse compromisso, e sentimos que o nacionalismo branco definitivamente se enquadrava aí.
Com os desastres, pensamos sobre quais dos nossos bens poderiam ser usados para ajudar o mundo, e, por acaso, temos quatro milhões de casas. As pessoas que fornecem essas casas normalmente são boas e generosas. Começamos com o furacão Sandy quando uma anfitriã nos contatou e disse que queria abrigar as pessoas impactadas pela tempestade (de graça). Desde então, nossa comunidade já doou 11 mil noites para aqueles que foram deslocados pelos desastres.