Se você não o conhecesse e cruzasse com ele na rua, seria bem capaz de achar Richard Branson um senhor muito bacana. Com os cabelos e um cavanhaque louro claro, ele mantém o sorriso no rosto na maior parte do tempo. Para um cavaleiro britânico condecorado pela rainha Elizabeth e dono de uma fortuna avaliada em US$ 5 bilhões, Sir Richard surpreende pela simplicidade e simpatia.
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Durante a sua apresentação no VTEX Day, em São Paulo nesta quarta (30), Branson vestia jeans, camisa branca e sapatos pretos. Na maior parte do tempo, pareceu preocupado em garantir que as pessoas estivessem conseguindo entendê-lo – pediu desculpas por não falar em espanhol ou português e, vez ou outra, perguntava se as pessoas o estavam ouvindo bem ou se a equipe de tradutores estava conseguindo transmitir as mensagens corretamente.
Ele chegou a interromper a sessão de perguntas e respostas com o público para tirar fotos com um fã e aproveitou a deixa para fotografar a si mesmo com outros participantes mais empolgados, o que deixou a produção desconcertada.
Tudo isso acontecia de forma muito natural, como se fosse espontâneo e não resultado de um treinamento em imagem pessoal. É possível que essa sensação tenha muito a ver com a trajetória e os valores de Branson, que largou a escola aos 16 anos pra tocar a revista Student. Com um tom mais crítico do que as outras publicações estudantis da época, Branson conta que precisou decidir entre a escola e o seu negócio. Preferiu abandonar os bancos escolares para manter a revista no mercado.
As origens da Virgin
O império construído por Branson, que inclui até planos de levar pessoas a viagens turísticas no espaço através da Virgin Galactic, começou em 1970 com uma loja de discos, a Virgin Records. Dizem que o nome surgiu do fato de ele nunca ter feito nada parecido antes – era um "virgem" no assunto.
Desde então, Branson parece ter muito clara a sua missão: formular ideias, colocá-las em prática e vê-las florescer. Ele confessou que já se via como um empreendedor antes do termo virar moda. Na visão de Branson, empreender é um processo parecido com aprender a andar: é preciso cair muito antes de finalmente dar os primeiros passos confiantes, um atrás do outro. "Se você não falhar, provavelmente não será bem sucedido. É preciso não ficar aterrorizado pela possibilidade de falhar", aconselhou, lembrando da sua tentativa – falha – de entrar no negócio para noivas, mostrando uma foto sua de vestido branco, véu e grinalda, uma das poucas em que aparece com a barba feita, sem o icônico cavanhaque.
Branson explicou que “no geral, criamos negócios para resolver frustrações", usando como exemplo a criação da Virgin Airlines, companhia aérea do seu grupo que teria surgido pela irritação de não conseguir pegar um voo para ver sua namorada, de quem estivera distante por três semanas, porque a companhia havia cancelado o trajeto por não ter vendido passagens suficientes para justificar o custo do voo.
Diante da frustração, decidiu ele mesmo fazer a viagem até seu destino, vendendo passagens para outros passageiros do mesmo voo cancelado. Assim, nasceu a Virgin Airlines.
Branson é reconhecido pelas loucuras que faz em nome do marketing da sua companhia. Entre as mais insanas, consta uma arriscada viagem de balão cruzando Pacífico que quase o matou. Ao fazer um balanço de tais maluquices, ele argumentou que foi o jeito encontrado para colocar suas empresas no radar. "Precisei usar a mim mesmo para promover a empresa e fazer coisas malucas pra que estivéssemos no mapa,” disse.
Assuntos polêmicos
O tom com que Branson fala transmite uma sinceridade rara na indústria. Ele não tem o discurso ritmado de empreendedores tradicionais, que sobem aos palcos cheios de um ar de autoconfiança. Branson tem a fala mais calma, pausa por alguns segundos para pensar e, em vez disso lhe tirar presença de palco como alguém poderia imaginar, tal postura confere a ele um ar de sabedoria.
E é com essa serenidade que ele toca em temas importantes e muito espinhosos, como a descriminalização das drogas. Ao término da coletiva de imprensa, Branson inverteu a dinâmica e perguntou aos jornalistas presentes quem poderia lhe explicar o que estava acontecendo na Cracolândia, em São Paulo. Depois de um corajoso colega tentar resumir os acontecimentos, Branson, que faz parte da Comissão Global de Políticas sobre Drogas, presidida pelo ex-presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso, fez questão de dar o seu recado:
"Existiu essa situação no Brasil, onde estavam realmente tentando ajudar os usuários de drogas [na região da Cracolândia] a se recuperarem. E estavam conseguindo. A criminalidade caiu pela metade, era um ótimo exemplo de como o Brasil deveria agir [em casos do tipo]. E algum idiota manda a polícia militar para destruir a vida dessas pessoas. (...) Essa guerra contra as drogas está causando tanto dano. As pessoas precisam acordar sobre isso, ler sobre o que aconteceu em países onde eles não fizeram isso, como [a descriminalização] funcionou", defendeu.
Aprendendo a dizer “não”
Para alguém que um dia teve a alcunha de "Senhor Sim", por sempre estar disposto a aceitar novos desafios, Branson também confessou ter aprendido a encontrar formas de dizer não: "Quase todo segundo de todos os dias, temos novos projetos que chegam à Virgin e não importa o que eu esteja fazendo – caminhando, pedalando, pegando um elevador –, as pessoas estão sempre tentando me vender um projeto. Então precisei aprender a arte de dizer ‘não’ de um jeito gentil.”
Relembrando suas origens, Branson contou que embora tenha aprendido a recusar convites e ideias, não é algo que ele exatamente gosta de fazer. “Eu odeio ter que fazer isso [dizer ‘não’]. Lembro de, aos 15 anos, implorar favores às pessoas. Eu sei que existem momentos em que você precisa daquele favor, de um empurrãozinho. Então não acho legal dizer ‘não’. Dizer ‘sim’ é muito mais divertido!"
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