| Foto: BT/JS/BENOIT TESSIER

O sequestro de uma mulher de 32 anos em Florianópolis-SC teve uma característica inusitada: a forma de pagamento do resgate. Em vez de sacos ou maletas de dinheiro em espécie, os criminosos exigiram que ele fosse feito em criptomoedas.

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Criptomoeda é um tipo de dinheiro digital baseado numa blockchain, tecnologia que registra publicamente todas as transações tornando-as virtualmente à prova de fraudes, e condiciona a geração de valores a complexas fórmulas matemáticas que são quebradas, ou “mineradas,” por computadores.

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A criptomoeda mais popular é o Bitcoin, mas existem outras como a Zcache e Monera. Essas duas foram as escolhidas para o pagamento do resgate da mulher sequestrada, de acordo com notícia da Folha de S.Paulo.

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A vítima, que não teve o nome divulgado, é esposa do empresário Rocelo Lopes, dono da CoinBr, maior empresa da América Latina das que fazem a comercialização de criptomoedas. Ainda de acordo com a reportagem, ela foi atacada em Florianópolis, após deixar sua filha na escola, por volta das 13h30 da última quarta (26), e liberada, pelos policiais, no sábado (29), no bairro Cangaíba, na zona leste da cidade de São Paulo.

“Nós ‘quer’ receber em criptomoeda”

Lopes escreveu um relato do ocorrido. Nele, conta que, a princípio, acreditou que se tratava de um trote quando recebeu uma ligação em que o interlocutor disse que “nós ‘quer’ nas moedas... nas criptomoedas, entendeu? Nós ‘quer’ receber em criptomoeda.” Como o valor pedido pelos criminosos era altíssimo – convertidos em Reais, daria algo próximo de R$ 115 milhões –, ele desligou. “Isso é o volume do país todo em um mês,” justificou.

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Mas os criminosos insistiram, e foi quando Lopes desconfiou de que algo não estava certo. Ele não conseguiu falar com a esposa, o que lhe deu certeza de que o sequestro era real. Após esclarecida a inviabilidade do valor pedido, os criminosos aceitaram receber o equivalente a R$ 5 milhões. 

Nenhum pagamento foi feito, porém. Com a ajuda de policiais paulistanos, equipes da Polícia Civil de Santa Catarina encontraram o cativeiro e liberaram a refém. Um homem foi preso na ação, mas ele alegou que fora contratado apenas para cuidar da casa. A polícia ainda investiga quem foram os mandantes do crime.

Ransomware na vida real

Pedidos de resgate em criptomoedas são comuns no ambiente virtual. Nos últimos anos, um novo tipo de ameaça digital chamada ransomware explodiu em popularidade. O ransomware infecta um sistema e ganha acesso total a ele. Em seguida, todo o conteúdo do sistema infectado é criptografado, ou seja, se torna ilegível e inacessível para a vítima. Depois, os criminosos pedem um “resgate” do conteúdo, a ser pago em alguma criptomoeda, a fim de liberar os dados, geralmente com uma senha que é enviada à vítima quando o pagamento é confirmado.

Seu celular na mira de um novo tipo de sequestrador

Numa analogia com o mundo físico, é como se os criminosos trancassem todos de uma casa ou empresa para fora do prédio, trocasse o segredo da fechadura e, depois, exigissem um resgate para entregar a nova chave.

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De acordo com um relatório da McAfee divulgado no início de abril, a incidência de ataques ransomware aumentou 88% em 2016. Alguns casos notáveis já foram registrados. Um hospital em Los Angeles, Califórnia, pagou o equivalente a US$ 17 mil em criptomoedas, em fevereiro do ano passado, para recuperar o acesso aos seus sistemas de informação. Em novembro, outro grupo infectou o sistema de transporte público de São Francisco, também na Califórnia, e liberou os serviços gratuitamente durante um dia.

Ataques com ransomware também afetam computadores e celulares pessoais. É preciso estar atento a links, e-mails suspeitos e ofertas muito tentadoras. Os vetores de ataques são variados e insuspeitos.

O sequestro em Florianópolis chama a atenção por se tratar de um crime “comum” em que os criminosos pedem o resgate por criptomoeda. Segundo o delegado da Divisão Antissequestro de Santa Catarina e responsável pela investigação, Anselmo Cruz, “Isso é inédito no mundo.” As vantagens no uso da criptomoeda, nesse caso, é que a transferência é instantânea, anônima e tecnicamente impossível de ser rastreada.