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Serviços como Netflix e Spotify estão mudando a maneira de consumir conteúdo audiovisual

Série Orange is The New Black, da Netflix | NetflixDivulgação
Série Orange is The New Black, da Netflix (Foto: NetflixDivulgação)

A Internet mudou a maneira como lidamos com diversas áreas da vida cotidiana. O Entretenimento não escapa disso. Desde os anos 1990, quando o Napster lançou a ideia (errada) de que a música era gratuita, as indústrias criativas da música e, depois, do audiovisual, se esforçam para oferecer alternativas pagas mais atraentes. Nessas tentativas, elas têm mudado a forma como consumimos canções, séries e filmes.

Netflix e Spotify, as maiores no streaming de audiovisual e música, respectivamente, lançaram recentemente duas novidades que intensifica as diferenças para o bom e velho cinema e os tradicionais álbuns musicais.

Streaming de múltipla escolha 

A Netflix lançou séries com episódios interativos. No melhor estilo Você Decide, algumas séries recém-adicionadas ao catálogo, como Gato de Botas: Preso num Conto Épico, permitem que o espectador escolha o destino da história em pontos-chave ao longo dela. Por ora, o recurso só funciona no iOS (sistema do iPhone e iPad), video games, algumas smart TVs e nos set-top boxes da Roku.

Embora façam sentido, as comparações entre a nova função do Netflix e o extinto programa da Rede Globo não vão muito longe. Isso porque em vez de permitir apenas a escolha do final, a Netflix oferece opções de interagir com a história logo de saída, na forma de fluxogramas narrativos. 

De acordo com a diretora de produtos da empresa, Carla Fisher, o serviço se baseia em “contar histórias” de forma exclusiva. “A Netflix é um ecossistema naturalmente interativo”, disse a executiva em entrevista ao site The Verge. “Nós não somos responsáveis por canais de TV concessionados, e também não nos atemos a horários lineares.” 

A princípio, a novidade da Netflix deve valer apenas para conteúdos infantis. Para a companhia, a escolha é natural: crianças são mais inclinadas a “conversar com a TV”. “Elas tocam todas as telas, pensam que tudo é interativo”, disse Fisher ao referido site. Na oferta inicial, há 13 bifurcações de história para Gato de Botas: Preso num Conto Épico e outras oito em Thunderstruck: A Pilha do Talvez. Dependendo da sequência de escolhas, um mesmo episódio do primeiro título pode durar 18 ou 39 minutos. 

Apesar do início restrito, a empresa não faz segredo de que a experiência pode se estender a outros conteúdos e buscar outros públicos entre os mais 100 milhões de assinantes do serviço. “Eu adoraria criar algo que fosse interativo logo de saída – mais complexo ou com mais escolhas”, comenta Fisher. “Há possibilidades realmente ótimas.” Por enquanto, resta imaginar como ficaria House of CardsOrange is the New Black ou Stranger Things se fossem parcialmente dirigidos pelo espectador. 

“Jabá” na lista de sugestões? 

A comparação pode ser infame, mas não inteiramente inverossímil. Uma ferramenta de publicidade atualmente em testes no Spotify pretende sugerir músicas patrocinadas nas playlists dos usuários não pagantes do serviço, hoje cerca de 90 milhões dos 140 milhões que ele tem ao todo.

Caso seja mesmo implementada, a novidade deve funcionar de maneira semelhante à playlist de sugestões disponível no aplicativo. O pagamento da gravadora para promover o single entra como um critério extra – as músicas patrocinadas ainda terão relação com o gosto do usuário. O objetivo é promover singles e, nessa execução, a música patrocinada é executada de pronto, sem publicidade sonora a antecedendo.

Considerando que o Spotify, que ainda é uma empresa de capital fechado, nunca fechou um trimestre no azul, a iniciativa tenta extrair mais valor dos usuários que não pagam para usar o serviço.

Em 2016, o Spotify faturou US$ 3,3 bilhões, valor insuficiente para evitar um prejuízo operacional de US$ 390 milhões. Por parte dos selos fonográficos, fica a esperança de que a música grude na cabeça de cada ouvinte, sendo então compartilhada com amigos e – por que não? – acabe por convencer parte do público a comprar ingressos e ir aos shows. 

Maratonas recorde

Mas não é apenas nas fórmulas de interação e de geração de receita que a moderna indústria do streaming tem alterado dramaticamente nossos hábitos. Um estudo conduzido recentemente pela própria Netflix revelou que as chamadas “maratonas” (”binge watching”, no inglês) têm feito fãs de séries como American Horror StoryJessica Jones passarem mais de duas horas na frente da TV. 

A pesquisa se estendeu pelos últimos sete meses, avaliando a forma como os assinantes consumiam as primeiras temporadas inteiras de pelo menos 100 séries disponíveis no serviço.

Entre os campeões aparecem séries de horror e ficção científica, com temporadas consumidas em quatro dias (uma média de duas horas e meia por dia). As comédias dramáticas aparecem em segundo lugar, tomando cinco dias com média de duas horas diárias. Por fim, dramas históricos, políticos e comédias irreverentes ocupam a terceira colocação; a conclusão toma em média seis dias, com apenas 45 minutos de sofá por dia.

O detalhamento que a Netflix tem da maneira como assistimos ao seu conteúdo tem peso nas decisões por trás dos originais da empresa. O cancelamento de séries como Sense8 e a produção de grandes hits como Stranger Things13 Reasons WhyHouse of Cards passa por isso.

Com novas tecnologias, como a realidade virtual, e o turbilhão cada vez maior de dados relacionados à maneira como consumimos filmes, séries e músicas, espera-se que, no futuro, a experiência audiovisual provida por tais serviços continue moldando essa relação de consumo. Se será pior ou melhor que nos velhos tempos, quando dependíamos de rádios, álbuns fechados e vídeo locadoras, só o tempo e as novas gerações dirão.

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