Site telefone.ninja, que expunha dados pessoais de brasileiros, está fora do ar

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Há pouco mais de um mês, o site telefone.ninja apareceu com um banco de dados bastante completo, contendo nomes, números de telefone e até endereços de cidadãos brasileiros. No momento, ele não está mais acessível, mas essa situação pode ser temporária.

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Semana passada, o site telefone.ninja passou a redirecionar para outro, em inglês, chamado “All Court Data”. Nos computadores da Gazeta do Povo e em outros testados pela reportagem, o redirecionamento levava a uma página intitulada “Limits”, que informava que o usuário havia atingido o limite de requisições e o orientava a esperar alguns dias para ter o acesso pleno restabelecido. A mesma limitação existia no telefone.ninja.

Por essas e outras similaridades, incluindo os termos de uso, o visual e a natureza de divulgar dados específicos (no caso, de processos na justiça dos Estados Unidos), suspeita-se que ambos os sites sejam dos mesmos responsáveis.

Nos últimos dias, porém, o redirecionamento cessou e o endereço telefone.ninja passou a dar erro quando alguém tenta visitá-lo. Ele está, efetivamente, inacessível.

Modificações no domínio e hospedagem

Alterações foram feitas no registro do domínio telefone.ninja. Agora, os dados cadastrais públicos não apontam mais Ricardo Torres nem traz um endereço no Brasil. Eles foram substituídos por dados anônimos de um serviço australiano de proteção da privacidade para domínios, chamado Privacy Protec. É uma praxe de mercado e chamava a atenção o fato do telefone.ninja não usá-lo até então.

Outra mudança contundente se deu nos endereços DNS, usados para “converter” os domínios que digitamos para acessar determinado site (por exemplo, telefone.ninja ou gazetadopovo.com.br) para o IP do servidor onde o site está hospedado, a linguagem que a máquina entende.

Quando o telefone.ninja ganhou notoriedade, os endereços DNS apontavam para a CloudFlare, um serviço norte-americano que ajuda a mitigar ataques e a aumentar a segurança de sites, e, segundo Fabio Assolini, pesquisador da empresa de segurança digital Kaspersky, o site em si estava hospedado em servidores na Hungria.

Agora, os endereços DNS que aparecem não são mais os da CloudFlare, mas do Yandex, o maior buscador web e uma das maiores empresas de tecnologia da Rússia, e, de acordo com Assolini, a hospedagem passou a ser feita por uma empresa chamada nForce, com sede em Los Angeles, nos Estados Unidos.

Assolini explica que a saída do ar pode ser temporária porque, quando se troca os endereços DNS, existe um prazo para que eles se propaguem por todo o mundo. Nesse período, o acesso é intermitente, dependendo de onde o acesso é feito.

A troca de servidores pode ter sido motivada, ainda segundo o especialista da Kaspersky, por "abuse reports" emitidos para a empresa que fazia a hospedagem. Esses "abuse reports" são reclamações formais, de autoridades e pesquisadores, para a empresa que hospeda sites suspeitos ou culpados de atividades maliciosas tomem alguma providência. Para evitar prejuízos comerciais e problemas jurídicos, a hospedagem costuma remove o site problemático dos seus servidores.

"Jogo sem fim"

"É um jogo sem fim", explicou Assolini em referência à troca de hospedagem feita por sites como o telefone.ninja. Eles ficam pulando de hospedagem em hospedagem sempre que "abuse reports" são disparados. A solução definitiva seria fazer uma dessas reclamações para a empresa que registrou o domínio — no caso do telefone.ninja, uma chamada Endurance. Não consta registro de que isso já tenha sido feito.

Alguns órgãos como o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) manifestaram, à época em que o telefone.ninja ficou conhecido, a intenção de irem à justiça contra o serviço. Assolini diz desconhecer quem está fazendo o trabalho de emitir "abuse reports" e alerta: "É prematuro dizer que o site saiu do ar. Pode ser apenas troca de DNS". Para ele, só será possível afirmar que o site saiu do ar em definitivo se ele continuar inacessível daqui a três dias.