O lançamento do foguete Falcon Heavy aconteceu exatamente como manda o figurino no começo da noite desta terça (6), e o primeiro carro a ir ao espaço já está em sua jornada interplanetária.
Se a notícia soa estranha, é porque nada parece mesmo muito normal quando o assunto é a SpaceX, empresa que está revolucionando a indústria de foguetes.
Quem esteve em Cabo Canaveral, na Flórida (EUA), para ver o lançamento testemunhou algo que há muito não se via e, de quebra, algumas coisas que nunca antes se viu antes na história.
O evento foi visto por milhões de pessoas na internet e derrubou o site da empresa. No YouTube, a transmissão ao vivo foi que teve a segunda maior audiência da história, ficando atrás apenas do salto (literalmente) estratosférico que Felix Baumgartner deu em 2012.
O palco principal foi a plataforma 39A, do Centro Espacial Kennedy, da Nasa, a agência espacial dos EUA. De lá, desde 1973 não subia um lançador com capacidade comparável à do Falcon Heavy.
O único a batê-lo em poder de inserção orbital em toda a história do programa espacial americano foi o Saturn V, que levou o homem à Lua nos anos 1960 e 1970.
Uma diferença fundamental separa os dois lançadores, contudo: enquanto o venerável foguete projetado por Wernher von Braun para bater os soviéticos na corrida espacial do século passado foi financiado por um brutal aporte de recursos governamentais — a Nasa então consumia cerca de 5% de todo o orçamento federal-, o Falcon Heavy foi desenvolvido pela SpaceX com dinheiro privado, e seu custo é uma fração do que consumia seu predecessor.
A diferença poderia ser um sinal dos tempos, mas não é só a evolução tecnológica que explica a mudança. Atualmente, a mesma Nasa desenvolve um foguete de alta capacidade similar ao Saturn V, o SLS, e seu custo estimado é de cinco a dez vezes maior que o do Falcon Heavy.
Enquanto um lançamento do novo foguete da SpaceX pode sair por US$ 90 milhões (custo mínimo), um SLS (ainda sem preço definido) está mais perto de US$ 1 bilhão.
Essa é a medida do quanto a SpaceX está mudando a noção do custo de acesso ao espaço e incomodando a concorrência, nos EUA e fora dele. De onde vem a diferença? A palavra-chave é inovação, e é o que explica os eventos testemunhados nesta terça na Flórida.
Mudando as regras
O Falcon Heavy tem três propulsores no primeiro estágio e um no segundo. Todos são baseados nos sistemas desenvolvidos para o Falcon 9, o foguete “velho de guerra” da SpaceX. Na verdade, a melhor definição para o primeiro estágio dele seria a de três primeiros estágios do Falcon 9 amarrados.
Pois bem, esses propulsores não só sobem ao espaço com uma potência incrível como retornam e pousam suavemente após cumprirem sua missão.
Com isso, podem ser reutilizados, algo que inverte completamente a lógica de como transporte espacial tem sido feito até hoje, e o aproxima mais de outras modalidades de transporte criadas pelo ser humano. Ninguém joga fora um helicóptero depois de um único voo. O mesmo se aplica a um avião. Por que jogariam fora um foguete após um único voo?
Musk estava determinado a provar que era possível recuperar as partes do lançador descartadas durante a subida e reutilizá-las. Isso está mais que provado a essa altura. Por sinal, os dois propulsores laterais do Falcon Heavy vieram de missões anteriores do Falcon 9. Fizeram duas viagens ao espaço, portanto, a segunda nesta terça. E pousaram suavemente, ao mesmo tempo, em plataformas em solo. Feito inédito.
Veja o vídeo:
O propulsor central do primeiro estágio desceria em uma balsa no oceano, mas não conseguiu pousar conforme o esperado e acabou perdido.
De toda forma, o segundo estágio já confirmou os dois disparos necessários para colocar numa órbita alta ao redor da Terra. Uma terceira queima, marcada para a 1h de quarta-feira, colocaria o carro Tesla Roadster de Elon Musk e um boneco chamado Starman, em homenagem à música de David Bowie, a caminho de uma trajetória interplanetária na direção da órbita de Marte.
Depois do lançamento, a SpaceX ficou transmitindo imagens ao vivo pelo YouTube do veículo cor cereja girando pacificamente ao redor da Terra. A transmissão, porém, foi encerrada de forma inesperada após 4 horas e 40 minutos. Pelo Twitter, Musk disse que a rota do carro se alterou e que, em vez de Marte, ele ruma agora para um cinturão de asteroides.
Veja o vídeo do Tesla Roadster vagando no espaço: