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Taxa da violência e 'CEPs do inferno': as estratégias do e-commerce para sobreviver no Rio

Transportadoras e Correios não fazem entregas em alguns endereços do Rio de Janeiro, incluindo parte da favela da Rocinha (foto). | Tomaz Silva/Agência Brasil
Transportadoras e Correios não fazem entregas em alguns endereços do Rio de Janeiro, incluindo parte da favela da Rocinha (foto). (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

O comércio eletrônico, que já sofre com a crise financeira do Rio, está perdendo negócios no estado também por causa do aumento do roubo de cargas. Lojas on-line passaram a restringir entregas em áreas de risco. “É o CEP do inferno”, diz o diretor de Segurança do Sindicato das Empresas de Carga e Logística do Rio de Janeiro, coronel Venancio Alves de Moura.

Roubo de cargas aumenta frete em até 35%

Ao fazer a compra pela internet, é de praxe o consumidor informar o CEP (Código de Endereçamento Postal) antes de fechar o pedido. O que tem acontecido, principalmente no Rio, é que algumas lojas, ao detectarem que o CEP fica em local de risco, avisam que não entregam o produto naquele endereço. Moura diz que essa prática começou há dois anos e vem aumentando. “O custo é muito alto: a cada seis caminhões que entram nessas áreas de risco, um é roubado”, diz o coronel.

Transportadoras criam “taxa da violência” no Rio 

A reportagem simulou, na semana passada, a compra de um iPhone 7 Plus, de R$ 3.799, no site Americanas.com, com endereço de entrega na Rocinha (RJ). A compra foi recusada. “Desculpe, essa loja não faz entrega de produto para esse CEP”, dizia a mensagem do site. Para outra simulação de compra do mesmo produto com endereço de entrega em Irajá (RJ), a empresa informou que a mercadoria seria entregue na agência dos Correios mais próxima. 

Roubo de cargas impacta negativamente nas vendas on-line

A Americanas.com, informou, por meio de nota, que “opera em parceria com os Correios e que este entrega os produtos em suas agências em determinadas áreas do Rio de Janeiro. A informação sobre essa restrição é disponibilizada para o cliente antes da conclusão do pedido”.

Segundo os Correios, existem áreas de restrição de entregas de encomendas no Rio de Janeiro. Essas áreas são estabelecidas com base em levantamentos feitos pelo setor de segurança dos Correios. A classificação é realizada a partir do mapa de risco fornecido pelos órgãos de segurança pública e pela incidência de assaltos a veículos de carga da empresa.

Nos casos onde há áreas de restrição, os Correios enviam a encomenda para uma unidade operacional mais próxima do endereço do destinatário. Os Correios têm percebido um aumento das lojas de comércio eletrônico que indicam suas agências no Rio para a retirada dos produtos vendidos online. 

Aumento do frete

Os roubos de carga afetam os custos de logística e as vendas da indústria e do comércio. Em 12 meses, os gastos com transporte de mercadorias para o Rio subiram entre 30% e 35%, nos cálculos do Sindicarga.

Fabricantes de eletroeletrônicos, alimentos e redes varejistas, que preferiram conceder entrevistas sem se identificar, afirmam que estão com dificuldade de contratar frete para abastecer o Rio de Janeiro. “Tem empresa que já não quer mais mandar carga para o Rio”, diz Sérgio Duarte, vice-presidente da Federação das Indústrias do Rio (Frijan). “Estamos correndo um sério risco de desabastecimento, especialmente dos produtos mais roubados.”

Hoje, o Rio de Janeiro tem mais de um caminhão roubado por hora. Em maio, quando as ocorrências atingiram seu ápice, foram, em média, 40 caminhões por dia, segundo dados exclusivos da Firjan. “Esses números gritam, é um absurdo”, diz Sérgio Duarte, vice-presidente da entidade. “Existe um mercado por trás disso.”

Na lista dos preferidos dos bandidos estão frango, carne bovina e queijos - itens fáceis de revender. “Está uma loucura conseguir frango, por exemplo. Os supermercados compram, mas não recebem”, diz o presidente da Associação dos Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj), Fabio Queiroz. Um levantamento da entidade mostra que algumas mercadorias chegam ao estado com preços até 20% mais altos do que no restante do país como consequência do repasse dos custos de transporte.

Nem caminhões carregados de ovos escapam das quadrilhas especializadas em roubo de carga. “Essas mercadorias voltam para as ruas em Kombis, que vendem a cartela com cinco dúzias a R$ 10. A cada caminhão roubado, são mil caixas de ovos que entram nas ruas por preços que não podemos concorrer”, diz o atacadista José Andrade, proprietário de uma distribuidora de ovos na zona norte do Rio.

Taxa de violência 

Por causa do número crescente de roubos e para arcar com custos extras de mão de obra, as transportadoras criaram uma taxa de emergência, apelidada de “taxa de violência”. Ela pode chegar a até 1% do valor da carga na nota fiscal, acrescido de R$ 10 para cada 100 kg transportados. “O problema é que o motorista também não quer vir para o Rio”, diz Moura, do Sindicarga. 

Além dessa despesa adicional, os gastos das transportadoras cresceram por conta da maiores exigências das seguradoras. Quando aceitam fazer seguro das mercadorias para o Rio, exigem serviços de monitoramento da carga, de gerenciamento para criar rotas mais seguras e até o uso de iscas descartáveis - dispositivos que permitem rastrear a carga roubada.

Impacto nas vendas

O desempenho do comércio eletrônico do primeiro semestre deste ano no estado do Rio de Janeiro dá indicações de como a crise enfrentada pelo estado, que inclui o aumento da violência e dos roubos de cargas, afetou as vendas.

Entre janeiro e junho, o faturamento do comércio on-line no estado caiu 1%. O Rio foi o único estado da região Sudeste que teve retração. No mesmo período, as vendas do comércio eletrônico cresceram 8% em São Paulo, 6% em Minas Gerais e avançaram 10% no Espírito Santo. Em todo o país, o comércio o-nline cresceu 7,5% na comparação com o mesmo período de 2016. Os dados são da consultoria Ebit.

“Acho que o roubo de carga é um fator que acaba suprimindo venda”, diz Pedro Guasti, presidente da consultoria, ponderando que o pano de fundo é a crise econômica. 

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