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Travis Kalanick, CEO da Uber, se afasta do cargo indefinidamente

Travis Kalanick, CEO afastado da Uber | LewebFlickr
Travis Kalanick, CEO afastado da Uber (Foto: LewebFlickr)

O CEO da Uber, Travis Kalanick, disse na terça-feira (13) que está se licenciando do cargo sem prazo para retornar. Ao mesmo tempo, a empresa anunciou dezenas de mudanças destinadas a aumentar a diversidade, proteger-se contra comportamentos sexuais inapropriados e reforçar a independência de um conselho ligado demais à figura de Kalanick.

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O executivo revelou seu licenciamento em um e-mail enviado a toda a empresa num momento em que a empresa busca reverter meses de controvérsias – muitas delas ligadas a alegações de assédio sexual e outras práticas anti-profissionais – que levaram o serviço de corridas compartilhadas a uma crise.

"A responsabilidade definitiva, sobre onde e como chegamos aqui, está nos meus ombros", escreveu Kalanick aos funcionários. "É claro que há muito do se orgulhar, mas há muito para melhorar. Para que a Uber 2.0 tenha sucesso, não há nada mais importante do que dedicar meu tempo a construir a equipe de liderança. Mas, se vamos trabalhar na Uber 2.0, eu também preciso trabalhar no Travis 2.0 para me tornar o líder que esta empresa precisa e que você merece."

Recomendações

A Uber também anunciou as recomendações de um relatório do ex-procurador-geral dos Estados Unidos, Eric H. Holder Jr., contratado pela empresa para enfrentar as críticas crescentes sofridas pela empresa em meio a uma onda de escândalos. O relatório completo está sendo mantido fora do alcance do público e da maior parte dos 14 mil funcionários da empresa no mundo inteiro.

As recomendações, que foram divulgadas em uma reunião de funcionários na sede da empresa em São Francisco, foram aceitas pelo conselho em uma maratona de reuniões no domingo (11).

Elas são abrangentes e tocam em praticamente todos os aspectos do gerenciamento da empresa. Elas defendem o enfraquecimento do controle de Kalanick e seus aliados no conselho de Uber, alocando novos membros e nomeando uma cadeira independente.

Pela proposta, os gerentes seniores serão submetidos a um treinamento de liderança obrigatório e o atual Chefe de Diversidade da Uber será renomeado como Diretor de Diversidade e Inclusão e reportará diretamente ao CEO ou COO (diretor de operações). O relatório exige que as queixas dos funcionários sejam tratadas usando um processo abrangente e atualizações para os benefícios dos funcionários, incluindo tempo de licença familiar igual para trabalhadores do sexo masculino e feminino.

Os relatos de que Kalanick considerava tirar uma licença provocaram especulações intensas sobre quem poderia liderar uma empresa que foi construída na imagem impetuosa do CEO.

As turbulências corporativas já provocaram diversas saídas de executivos, incluindo o anúncio de ontem (12) de que o vice-presidente sênior de negócios, Emil Michael, um aliado e confidente próximo de Kalanick, estava de saída em meio à pressão do conselho.

Ainda ontem, a Uber também anunciou que estava adicionando um novo membro, a executiva da Nestlé Wan Ling Martello, a um dos vários assentos vazios no conselho da empresa. Espera-se que ela traga conhecimentos financeiros e que seja mais uma mulher forte no conselho de uma empresa criticada como exemplo da cultura dos “bro", dominada pelos homens, do Vale do Silício.

Como parte da investigação interna liderada por Holder, a Uber já demitiu 20 funcionários e emitiu reprimendas e exigências de novos treinamentos para outros em meio a 215 relatórios de possíveis assédios sexuais, tentativas de bullying, retaliações e outras práticas anti-profissionais. (Alguns casos permanecem abertos enquanto aguardam investigações mais detalhadas por um segundo escritório de advocacia, o Perkins Coie.)

Correção da trajetória

O conselho da Uber tem lutado para corrigir a trajetória da empresa, avaliada em cerca de US$ 70 bilhões segundo algumas estimativas, mas tem capacidade limitada para remover ou mesmo repreender Kalanick, que, juntamente com outros aliados, detêm o poder de voto devido a uma classe especial de ações que controlam. As controvérsias teriam supostamente abalado a popularidade da Uber e sua posição na liderança isolada dentro do mercado de corridas compartilhadas em 75 mercados no mundo todo.

A rival Lyft agora contabiliza 25% de todas as viagens realizadas nos Estados Unidos, acima dos 18% que detinha no início do ano, de acordo com dados da TXN. Nos últimos meses, a empresa descobriu que mesmo os clientes mais fiéis da Uber, que permaneceram no serviço após os escândalos, também aumentaram seus gastos com a Lyft. No primeiro trimestre de 2017, o número de corridas aumentou para 70,4 milhões, superando significativamente as expectativas. A Uber não respondeu a um pedido de comentário para esta reportagem.

O clima na Uber começou a se mudar quando Kalanick se juntou a um conselho para o presidente Donald Trump e pareceu prejudicar uma greve de taxistas de Nova York relacionado ao polêmico esforço do presidente para impor uma proibição de viagem a imigrandes, provocando o movimento #DeleteUber.

Uma intrigante postagem de blog (em inglês) da ex-engenheira da Uber, Susan Fowler, que informou que uma investida sexual indesejada de seu chefe foi ignorada pelo setor de recursos humanos da empresa, provocou uma onda de denúncias da cultura corporativa sexista da Uber. 

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos, então, lançou uma investigação criminal acerca das alegações de que a empresa usava uma ferramenta de software para evadir reguladores. Ao mesmo tempo, a Uber entrou em uma batalha legal pública com a Waymo, a unidade de veículos autônomos da empresa-mãe do Google, a Alphabet, por um suposto roubo de propriedade intelectual. A Uber demitiu o chefe desse programa, Anthony Levandowski, no mês passado por não cumprir uma ordem judicial para entregar documentos referentes ao caso.

A Waymo acusou a Uber de roubar a tecnologia de detecção a laser que permite que carros sem motorista vejam seus arredores. O resultado da disputa legal poderia ter sérias ramificações para o modelo de negócios de longo prazo da Uber.

Kalanick efetivamente apostou o negócio na tecnologia de condução autônoma. Sem ela, disse, a Uber não tem esperança de competir em um mundo de automação crescente.

Uma decisão judicial contra Uber poderia prejudicar os esforços da empresa para desenvolver automóveis autônomos, disseram alguns analistas, levantando questões sobre sua capacidade de sobreviver em um mundo onde todas as empresas, da Tesla à Ford, estão lutando para dominar o futuro do transporte automatizado.

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