Sede do Grupo Tigre, em Joinville| Foto: Divulgação/Tigre

Depois de transformar o mercado da construção civil ao abandonar o ferro, que enferrujava e apodrecia, e começar a usar o PVC para fabricação de tubos e conexões, o grupo catarinense Tigre quer inovar na área de conversação de água. A empresa comprou uma startup de tratamento de água e esgoto e passou a oferecer o serviço a indústria, condomínios verticais e shoppings. Essa nova área deve ter um crescimento explosivo dentro do grupo nos próximos anos, segundo o CEO da companhia, Otto von Sothen, e já foi responsável por transformar uma indústria de mais de 75 anos em também uma prestadora de serviços. “Agora estamos no ciclo completo de condução e conservação de água.”

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A Tigre começou em 1941 fazendo pentes, cachimbos e leques a partir de cifre de boi, em Joinville, Santa Catarina. Pouco tempo depois, no fim dos anos 1950, o fundador da companhia, João Hansen Junior, descobriu nos Estados Unidos o plástico PVC rígido, que poderia ser usado na fabricação de tubos e conexões. Ele trouxe a novidade ao Brasil e, após muita resistência do mercado, revolucionou o setor de construção civil que abandonou os materiais de ferro, que enferrujam e apodreciam, para utilizar o PVC.

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Foi assim, trabalhando com plástico, que a Tigre se transformou em uma multinacional referência na fabricação de materiais para o setor de construção civil e líder no segmento de tubos e conexões de PVC no Brasil. A companhia tem cerca de 7 mil funcionários, 11 fábricas no Brasil e 12 no exterior, 15 mil itens em portfólio, média de 500 novos lançamentos por ano, 115 patentes registradas no INPI e faturamento de R$ 2,4 bilhões.

Apesar dos números superlativos, a companhia sempre esteve ligada a um setor tradicional da indústria e a uma gestão conservador dos negócios. A mudança de paradigma aconteceu a partir de 2014, junto com a crise do setor da construção civil, que derrubou a receita e os ganhos da empresa, e com a entrada de Otto von Sothen, o primeiro executivo de mercado (que não é ligado à família fundadora) a assumir a presidência.

“A crise acelerou nosso senso de urgência. O exemplo que me vem em mente é do cardiopata que sofre o primeiro infarto. Ele não se cuidava até lá e passa a se cuidar a partir de então”, diz Otto, que esteve na semana passada em Curitiba durante o “CEO Fórum”, evento realizado pela Câmara Americana de Comércio (Amcham-Curitiba) sobre liderança e pilares para uma marca se tornar conhecida no mercado. Dois terços do faturamento da Tigre vêm de tubos e conexões. O restante é oriundo de áreas paralelas, como esquadrias de PVC, caixas d’água e ferramentas para pintura.

Otto von Sothen, CEO do Grupo Tigre, durante palestra em evento promovido pela Amcham, em Curitiba.  

Novo negócio: conservação de água

Para deixar de ser refém de uma área, a empresa definiu que precisava entrar em segmentos com grande potencial de crescimento. Como já atuava na área de condução de água, decidiu apostar também na conservação. “A gente era até então um fornecedor de tubos para estações de tratamento. Agora, produzimos, vendemos e operamos essas estações.”

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A ideia surgiu após a empresa contratar uma startup de Indaiatuba, em São Paulo, para construir o projeto de uma estação de tratamento de água e efluentes para uma de suas fábricas. A startup patenteou a tecnologia e o grupo catarinense comprou o negócio idealizado por quatro jovens.

Com a aquisição concluída em 2016, o grupo passou a chamar o negócio de “Tigre – Soluções para Água e Efluentes” e manteve os sócios e estrutura da empresa em Indaiatuba, justamente para não perder o “espírito de startup”, principalmente de processos ágeis.

Estações de tratamento

A nova empresa da Tigre desenvolve projetos personalizados de estações de tratamento de água e esgoto para indústrias, shoppings e condomínios verticais. A montagem e instalação da usina é feita pela Tigre e o cliente pode comprar a estrutura ou somente alugar. O grupo também oferece o serviço de operar e controlar a estação. Entre os clientes, estão grandes nomes como Ambev, Brasil Kirin, Unilever, Vale e Shopping Jundiaí.

Otto von Sothen não detalha números específicos do projeto, mas acredita que ele terá um crescimento expressivo nos próximos anos. “Esse é um negócio que deve crescer quatro, cinco, seis vezes nos próximos dois ou três anos.”

Prestadora de serviço

Além de representar uma nova fonte de receita para o grupo, a empresa de tratamento transformou o grupo, que até então era uma indústria, em também um prestador de serviço. “No momento em que você deixa de se enxergar como uma fabricante de plásticos e passa a se ver como um negócio que conduz e conserva água, você encontra uma razão para continuar existindo e crescendo”, diz Otto. “Tínhamos uma Ferrari na garagem, mas não utilizávamos.”

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Ele acrescenta, ainda, que o processo de transformação de uma empresa de produtos para uma de serviços é muito complexo. “Na prestação de serviço, você está vendendo algo intangível, que não dá para tocar. Essa transformação requer uma mudança de cultura e de comportamento para nossos funcionários. Esse é um dos desafios que temos trabalhado.”