A Uber fechou um dos maiores negócios envolvendo veículos autônomos nesta segunda-feira (20) ao encomendar 24 mil carros da Volvo, um movimento que deve acelerar a chegada dos veículos autônomos às ruas norte-americanas.
Os passageiros já podem dar uma volta dentro de um táxi sem motorista em algumas poucas cidades americanas — especialmente em Pittsburgh —, mas não sem um operador humano dentro do veículo.
O acordo entre a Uber e a Volvo pode preparar o cenário para algo totalmente novo: milhares de veículos autônomos nas ruas, transportando passageiros pagantes até seus destinos sem um operador humano, o início de uma revolução multibilionária de robôs com potencial de reconfigurar dramaticamente a forma como as pessoas vão de um lugar a outro.
Embora a Uber ainda esteja refinando sua tecnologia de direção autônoma, executivos da empresa disseram que esperam que os primeiros carros robóticos apareçam já em 2019.
"Estamos nos movendo de forma agressiva", disse Jeff Miller, chefe de alianças automotivas da Uber, em entrevista, observando que a empresa não decidiu em quais cidades começará o programa. "Assim que a tecnologia estiver pronta, há uma planta de fabricação que está pronta para operar. Poderemos apertar o botão "fazer carros" e teremos um caminho claro para termos dezenas de milhares de veículos autônomos nas ruas”.
Em última análise, o experimento dependerá da conformidade dos legisladores municipais, que têm confrontado as empresas de transporte durante anos. Mas Boston e várias cidades da Califórnia já estão discutindo a permissão de táxis sem motorista.
O esforço também reforça como a Uber, que teve várias disputas trabalhistas caras com seus motoristas, enxerga um futuro não tão distante onde os veículos sem eles serão corriqueiros.
Direção autônoma é real
"Esse acordo é prova de que a condução autônoma está se tornando muito real", disse Bryant Walker Smith, professor assistente de direito da Universidade da Carolina do Sul, que se concentra na condução autônoma. "[A direção autônoma] Está próxima e é concreta o bastante para que existam grandes empresas dispostas a apostar sua credibilidade, sua estratégia e até mesmo sua sobrevivência nesse arranjo".
O acordo, que permitirá que a Uber compre utilitários esportivos XC90 com tecnologia autônoma ente 2019 e 2021, coloca a Volvo em uma posição incomum. Ele vende carros para uma empresa — a Uber — cujo objetivo é reduzir drasticamente o número de pessoas que possuem carros. Mas a fabricante de automóveis, que está sediada na Suécia e é de propriedade de um grupo de investimento chinês, disse que não podia mais evitar o inevitável.
"Achamos que é melhor fazer parte de mudanças potencialmente disruptivas em vez de ficar de lado e observar isso acontecer", disse Marten Levenstam, vice-presidente de estratégia de produtos da Volvo. "Esta será uma grande mudança para toda a indústria automobilística".
Embora a Uber espera obter carros sem motorista nas ruas em 2019, a mudança provavelmente parecerá uma colcha de retalhos de mudanças graduais, à medida que as empresas competidoras se adaptem às considerações regulatórias, políticas e tecnológicas em cidades do mundo inteiro.
Uma vez que os carros totalmente autônomos comecem a operar em massa, o ritmo só irá aumentar, de acordo com Jamie Arbib, fundador da RethinkX, um think tank que prevê disrupções motivadas pela tecnologia.
"Esses carros aprendem fazendo", disse ele. "Quanto mais quilômetros eles cobrem, mais experiência as empresas terão para se adaptarem a diferentes paisagens urbanas, condições atmosféricas e regulações".
Os especialistas disseram que a parceria entre a Uber e a Volvo provavelmente gerará novas parcerias entre fabricantes automotivas e o Vale do Silício.
Se os carros da Volvo guiados autonomamente pela Uber forem usados nos Estados Unidos, Miller disse que a empresa provavelmente os colocará em cidades onde já tem frotas de testes, como São Francisco, Phoenix e Pittsburgh.
Futuro incerto para motoristas humanos
Apesar do empurrão para veículos sem motoristas, Miller disse que os motoristas (de carne e osso) da Uber não devem se preocupar em serem eliminados dos planos de longo prazo da empresa.
"Temos milhões de motoristas que operam na nossa plataforma todos os dias em todo o mundo", disse ele, ressaltando que os 24 mil Volvos seriam "uma fração" dos veículos da Uber rodando. "Sempre haverá espaço para veículos guiados por humanos. Você vai ver uma frota híbrida de veículos guiados por humanos e robôs".
Arbib disse que os motoristas da Uber não devem se preocupar em conseguir um novo emprego imediatamente, mas que devem tomar nota da estratégia de longo prazo da empresa. "Você provavelmente estará garantido pelos próximos três ou quatro anos", disse ele, "mas seria sábio começar a planejar um futuro diferente a longo prazo".
Jessica Caldwell, diretora-executiva de análise da indústria na Edmunds.com, disse que o acordo Uber-Volvo é apenas o começo de mudanças sísmicas na indústria.
"Nós vamos ver mais e mais empresas se juntarem", disse ela. "Elas podem saber com quem voltarão para casa, mas não com quem vão ao baile, e tudo isso pode implodir na medida em que as estratégias mudam, novas oportunidades surgem e todos procuram a estratégia certa a longo prazo".