​Às vezes, a resposta está fora da tela e desvinculada de algoritmos.| Foto: Tony Lam Hoang/Unsplash

Anos atrás, fui entrevistada para o cargo de editora de livros de uma empresa baseada em dados. Como me fizeram assinar um acordo de confidencialidade, não posso dizer o nome dela (mas dá para imaginar). Perguntaram-me que tipo de dados eu usaria para determinar se um livro valia a pena ser publicado. Respondi que analisaria as vendas anteriores e a presença do autor nas redes sociais, além dos títulos comparáveis vendidos. Mesmo que fosse melhor ter mentido, tive que ser honesta: escolher um livro bom é uma questão de intuição. É tudo uma questão de leitura.

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Não consegui o emprego.

As melhores coisas da vida não são quantificáveis. Não há sentimento mais desalentador, às vésperas do Natal, do que ter que depender de algoritmos para nos dizer quais presentes inesquecíveis devemos comprar para a família e os amigos. A abordagem “se você gostou deste, pode gostar daquele também” é reconfortante para quem não gosta de correr riscos, como os executivos das editoras e eu. Na minha vida de leitora, sei que sou brindada por grandes recompensas quando esqueço a noção preconcebida do que gosto e me perco em uma boa história. No entanto, em praticamente todos os outros aspectos da vida, procuro ordem e segurança.

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Agora me imaginem no Tinder por volta de 2014. As minhas fotos eram selfies tiradas em frente de estantes porque sei exatamente quem sou e o que queria que os possíveis pretendentes soubessem sobre mim. Fiz uma lista de todos os meus escritores favoritos porque o cara certo poderia ver ali Margaret Atwood, Lorrie Moore, Zadie Smith e W. Somerset Maugham e enxergar minha alma. Entretanto, apesar de toda a autoconfiança, não sabia bem o que estava procurando.

O meu critério de busca era o seguinte: estava procurando homens na área em que morava (não mais que cinco quilômetros de distância porque o deslocamento dá muito trabalho e já andava demais de táxi), na faixa entre até dois anos mais novo e dez anos mais velho (seguindo a presunção de que as mulheres amadurecem mais rápido que os homens). E, pelo amor de Deus, meus amigos me disseram, encontre alguém que não seja escritor — eles são instáveis demais emocionalmente. Sem dúvida, se eu conseguisse encontrar alguém que preenchesse a maioria dessas exigências, encontraria o amor — ou algo bem parecido.

O que aconteceu? Eu me senti totalmente infeliz saindo com caras de marketing que tinham a idade certa e moravam perto de mim. Toda vez sentia que estaria muito melhor em casa, lendo. Mas sentia um prazer estranho debatendo hipóteses comigo mesma: teria coragem de namorar um vegano? Acho que sim, se fosse forçada. Conseguiria encarar um sujeito mais baixo que eu? Tenho só 1,57 m, mas tudo bem. Namoraria um fã do David Foster Wallace? Sim. Sim, claro, absolutamente, sem dúvida. Poderia ser alguém com ideias políticas totalmente diferentes? De jeito nenhum.

Ficava fazendo compromissos comigo mesma, de olho nos homens cujas fotos e biografias curtas iam rolando na tela, disposta a ser flexível e a não julgar ninguém. Claro. Como qualquer um que já tenha usado um aplicativo de relacionamentos sabe, é muito mais fácil falar do que fazer.

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Um dia, organizei uma leitura com alguns autores que admirava, em uma livraria, e dei uma festinha no meu bar favorito depois. E lá veio o amigo de um amigo que eu meio que conhecia da internet, mas que nunca tinha visto na vida real: seis anos mais novo (jovem demais para mim), morava no Harlem (são US$ 40 de táxi da minha casa, no Brooklyn) e escritor/comediante (sinais de alerta pipocando na minha cara, vindos de todos os lados).

No entanto, conversamos bastante e ele me encantou. Também estava procurando uma namorada na internet, mas eu jamais o encontraria através dos aplicativos. Ele não estava no meu espaço visual metafórico, mas se encaixava na minha vida real de formas que jamais poderia ter sonhado. Hoje é meu marido. (Ele curte David Foster Wallace.)

Em 2015, encaixotei todos os meus livros e fomos morar juntos: usamos o StreetEasy para encontrar um apartamento medíocre, mas onde éramos bem felizes. Depois de tudo ajeitado, começamos a procura por um cachorro para dotar. Ainda não tinha percebido que os algoritmos não eram tão úteis quanto eu queria que fossem.

Eu ficava checando o Petfinder toda hora, do mesmo jeito obsessivo que antes fuçava no Tinder. Só que dessa vez os meus critérios eram bem menos rigorosos: estava só querendo um filhote ou resgatado jovem com “tamanho de apartamento”, saudável e meigo. Preenchi uma dúzia de formulários, mas não dávamos sorte. Até que consegui marcar uma entrevista com um voluntário de um abrigo especializado em raças braquicefálicas (de cara “amassada”).

Dois dias antes da tal conversa, ficamos sabendo de um amigo de um amigo que estava cuidando de uma cachorra cujo dono tinha ido para uma casa de repouso e agora estava à procura de um novo dono. Pedimos para vê-la. E lá veio a Bizzy, uma deusa em forma de pug, de personalidade adorável e a quantidade certa de energia. Foi amor à primeira vista. Hoje ela vive conosco os anos de sua maturidade, resfolegando feliz quando come peru e ronronando feito gato quando coçamos sua barriga. Nunca a teríamos encontrado no Petfinder porque nem inscrita lá estava.

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Supostamente a internet está aí para nos ajudar a encontrar pessoas, lugares, presentes perfeitos com mais facilidade, e gerar mais lucros para as empresas que oferecem tais serviços. No entanto, aqui estou eu, com uma cachorra velha demais, um marido novo demais e uma coleção de livros que não para de crescer. E mais feliz do que jamais teria previsto.

É meio arriscado não ter dado nenhum, nem acesso aos números a que você pode recorrer quando procura alguém ou algo que ama. Achamos, aliás, que sabemos exatamente o que queremos, mas espero que nossa intuição continue refletindo a sinceridade do que nos vai no peito — e neste mundo medido por cliques e estrelas e resenhas, que nunca nos esqueçamos de que algumas regras são feitas para serem desrespeitadas, das formas mais deliciosas possíveis.