Quando assumiu a presidência do Magazine Luiza no início do ano passado, Frederico Trajano sabia das dificuldades que viriam pela frente. Filho da empresária Luiza Trajano, uma das fundadoras da companhia, Frederico chegou ao comando do negócio em um momento delicado: o país passava por uma das maiores recessões de sua história e os resultados da varejista e de todo o setor não eram dos melhores.
LEIA MAIS: Magazine Luiza foca no digital e deixa dona da Casas Bahia comendo poeira na bolsa
Com altas dívidas, o valor de mercado da companhia tinha chegado ao fundo do poço, abaixo de R$ 200 milhões, em novembro de 2015. A consultoria Galeazzi, especializada em reestruturação de empresas, estava em meio a um processo de enxugamento de custos para tornar a empresa mais eficiente e prepará-la para enfrentar a turbulenta crise econômica e política.
LEIA MAIS: Saiba por que o lucro do Magazine Luiza não para de crescer
Hoje, embora a economia brasileira ainda ensaie uma retomada, os resultados do Magazine Luiza são completamente diferentes. O valor de mercado da companhia fechou em R$ 13,2 bilhões na segunda-feira (4), contra R$ 392 milhões no início de janeiro de 2016, quando Frederico assumiu.
LEIA MAIS: Magazine Luiza abre inscrições para programa de trainee
O valor atual de mercado da Magazine Luiza é 61% maior que o da sua principal rival, a Via Varejo, avaliada em R$ 8,2 bilhões. O endividamento da companhia caiu de R$ 854 milhões em junho do ano passado para R$ 268 milhões no segundo trimestre deste ano e as perspectivas do mercado sobre o futuro da rede são otimistas, com bancos recomendando a compra de ações da varejista.
“O mercado via o nome de Frederico Trajano com um certo receio. Essa percepção mudou totalmente”, disse Guilherme Assis, analista de varejo da Brasil Plural. Assis disse que o herdeiro conseguiu fazer a integração das lojas físicas com a plataforma de vendas digital em um momento que outras varejistas faziam o movimento oposto.
“Além da disciplina financeira, a recuperação das vendas em todas as plataformas e a comercialização de produtos de terceiros em seu canal digital (marketplace) ajudou nessa retomada”, disse o analista.
Sucessão
Fred, como o filho de Luiza Trajano é conhecido no setor, começou a ser preparado em 2014 para assumir o lugar de sua mãe, que preside o conselho da companhia. Marcelo Silva (ex-Bompreço e Casas Pernambucanas), presidente executivo do grupo Magazine Luiza à época, começou a moldá-lo para a sucessão. “Criou-se um mito no mercado de que eu preparei o Frederico para assumir a presidência. Quem fez isso, na verdade, foi o Marcelo”, diz Luiza, que é “o lado institucional do Magazine Luiza”.
Segundo a empresária, foi Frederico quem cavou seu espaço na empresa. “Quando Frederico decidiu entrar no Magazine Luiza, em 2001 [ele tinha 24 anos], ele se dedicou a criar uma plataforma digital para o negócio e foi para Franca [cidade do interior de São Paulo, onde a companhia foi fundada]. Ele apostou na integração das lojas físicas e digital quando todo mundo fazia exatamente o contrário”, disse.
Formado em administração pela Fundação Getulio Vargas (FGV), Fred morou fora e foi trabalhar no mercado financeiro antes de chegar ao grupo.
Para Marcos Gouvêa de Souza, especialista de varejo e sócio da consultoria GS&MD, o lado mais pragmático do herdeiro é uma das principais características que o difere de Luiza Trajano. “Frederico teve sorte dupla. É competente e foi preparado por Marcelo Silva [vice-presidente do conselho de administração da companhia], que passou por importantes redes de varejo, como Bom Preço e Casas Pernambucanas. Ele pegou a empresa em um momento em que a casa estava sendo arrumada”, disse.
Em outubro de 2015, a empresa tinha feito grupamento de ações (na equivalência de 8 para uma) para reduzir as oscilações dos papéis da empresa, que estavam cotados a R$ 2 à época. Nesta segunda-feira (5), a companhia aprovou, em assembleia, o desmembramento (de uma para oito), por conta da alta valorização dos papéis. A cotação de ontem fechou a R$ 621,79 e passará a valer R$ 77,72. Com menos dívida e a casa arrumada, a companhia não descarta fazer emissão de novas ações no mercado (operação conhecida como “follow on”). A empresa não comenta o assunto.
Para analistas de mercado, o momento é bom para a expansão da varejista e ficará ainda melhor, se a retomada da economia vier para ficar. No entanto, Frederico deve seguir com cautela. Todo o movimento bem-sucedido feito neste passado recente, diz uma fonte próxima ao grupo, não é garantia de sucesso futuro.
Cautela é o nome do jogo em um setor que ainda não ser recuperou totalmente e que depende dos novos rumos político e econômico do país.