Uma das grandes incógnitas sobre os carros autônomos é como os motoristas vão reagir assim que entregarem a tarefa de girar a direção, brecar e evitar os obstáculos para uma combinação de sensores, softwares e chips de computador escondidos sob o capô.
A Volvo Cars está tentando encontrar a resposta. A empresa colocou câmeras de vídeo em carros equipados com os recursos mais modernos de assistência ao motorista e está dando os veículos a cinco famílias para fazer um registro de suas ações enquanto circulam no tráfego diário das estradas.
O objetivo é reunir dados que vão ajudar a Volvo a desenvolver um carro totalmente autônomo para uso em rodovias até 2021, afirmou Marcus Rothoff, executivo da empresa que lidera o projeto, em um evento em 11 de dezembro. Até lá, a pessoa que se sentar no banco do motorista poderá assistir um filme enquanto o carro trafega pelo caminho matinal, disse ele, mas apenas se o motorista se sentir confortável em abandonar o controle.
Se você não confia no carro [autônomo], não pode fazer outras coisas. Temos que fazer um carro no qual as pessoas confiem
Os utilitários esportivos XC90 envolvidos no projeto têm sensores e câmeras que monitoram os olhos, os rostos e os pés da pessoa que está no banco do motorista. Como todos os XC90, eles estão equipados com tecnologia de apoio ao motorista que mantém uma velocidade, faz com que o carro ocupe apenas uma pista na estrada e abre uma distância do veículo da frente. O motorista precisa ficar com uma mão na direção o tempo todo, ou o alarme dispara.
O desafio de gerenciar a interação entre o motorista e o carro autônomo
Montadoras como a Volvo – que desde 2010 tem a Geely Holding da China como proprietária – se preocupam com o desafio de gerenciar a interação entre o motorista e o carro autônomo, especialmente em momentos críticos, quando a pessoa precisa retomar o controle do veículo.
A Ford Motor estabeleceu o objetivo de produzir um carro autônomo sem direção e sem pedais até 2021, garantindo o tempo necessário para ter certeza de que essa tecnologia pode ser gerenciada com segurança.
A General Motors pode dar um significativo passo adiante com seu sistema Super Cruise, disponível no Cadillac CT6 sedã 2018, capaz de pilotar um carro em rodovias divididas e de acesso limitado. Ele não exige que os motoristas mantenham a mão na direção, mas tem uma câmera que garante que os olhos da pessoa estão na estrada.
A importância de entender como os motoristas interagem com veículos autônomos ou semiautônomos foi reforçada há um ano quando o dono de um Tesla morreu enquanto dirigia seu Model S 2015 na Flórida com o sistema de piloto automático do carro ligado.
Uma investigação federal determinou que o homem não manteve suas mãos na direção apesar dos avisos repetidos do carro. O radar e as câmeras do automóvel não viram um trator-trailer cruzando a rodovia, e nem o motorista nem o carro ativaram os breques.
Entender as variações do comportamento humano é essencial para a Volvo, garante Trent Victor, líder técnico sênior em como evitar colisões e professor adjunto de comportamento na direção da Universidade Chalmers em Gotemburgo.
"Existem pessoas que imediatamente embarcam no projeto e confiam no sistema. E há aquelas que ficam muito relutantes. Um sistema que foi projetado para uma pessoa que é hesitante precisa ser pensado de maneira diferente", explica ele.
Montadoras estudam o comportamento dos motoristas dentro de carros autônomos
Até agora, grande parte da discussão ficou centrada na tecnologia, nos sensores e nos algoritmos que controlam o veículo. "Estamos levando o desenvolvimento da condução autônoma para outro nível, em que estudamos as experiências dos motoristas", diz Victor.
Duas famílias já receberam os carros especialmente equipados, incluindo Sasko e Anna Simonovski, que vão usar o deles para ir do subúrbio de Langedrag a Gotemburgo, uma distância de 10 a 13 quilômetros, e para levar seus dois filhos para suas atividades.
Sasko Simonovski, gerente de pesquisa e desenvolvimento da empresa de software Ericsson, inscreveu-se on-line para participar do projeto em setembro. "Sou um pouco nerd de tecnologia, então achei que seria interessante", conta.
Desde que pegou o carro em seis de dezembro, Simonovski diz, ele já pode sentir uma diferença sutil em seu bem estar no tráfego. "Apesar de ser eu o responsável, ainda acho menos estressante nas horas de rush. Esse é outro benefício que acredito que pode melhorar ainda mais com a autonomia. Não tenho como dizer que fiz muito mais com meu tempo, a não ser que ele me deixou mais calmo", afirma. Porém, ele descobriu outra mudança: "Posso vasculhar mais o Spotify".