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Nova linha de energia não resolve apagões no Paraguai

Com infraestrutura deficiente, Paraguai ainda sofre cortes de energia constantes em alguns departamentos | Marcos Labanca/ Gazeta do Povo
Com infraestrutura deficiente, Paraguai ainda sofre cortes de energia constantes em alguns departamentos (Foto: Marcos Labanca/ Gazeta do Povo)

Apesar de ser sócio da maior usina hidrelétrica do mundo, a Itaipu Binacional, e ter inaugurado no final de 2013 uma nova linha de transmissão de 500 quilovolts (kv), o Paraguai agoniza com apagões e cortes constantes no fornecimento de energia elétrica.

O problema decorre da falta de infraestrutura para distribuir a produção gerada pelas usinas Itaipu e Yacyretá, binacional construída em parceria com a Argentina. Com baixos investimentos no setor nos últimos anos, o país dispõe de uma matriz obsoleta e estrutura antiga para fazer a energia chegar aos usuários.

Uma das regiões mais prejudicadas é a fronteiriça. Construída para levar energia para a região de Assunção, a linha de 500 kv, que custou US$ 555 milhões e foi bancado com recursos do Fundo para a Convergência Estrutural para o Mercosul (Focem), não beneficia importantes áreas industriais em desenvolvimento no país, incluindo o município de Hernandárias (sede da Itaipu Binacional no lado paraguaio), Ciudad del Este e Salto de Guairá, cidades situadas nos limites com o Brasil.

Nessa faixa de fronteira, indústrias aguardam a melhoria no fornecimento de energia para se instalarem. Outras usam geradores para não ter a produção prejudicada diante dos constantes episódios de queda na luz.

Apesar de ter aliviado o panorama de apagões na Grande Assunção, uma região com cerca de 3 milhões de habitantes, a linha de 500 kv também não opera em plena capacidade por falta de um sistema de distribuição, tarefa que cabe à Administração Nacional de Eletricidade (Ande).

Instabilidade

Empresários e moradores da Grande Assunção dizem que a linha melhorou o abastecimento. No entanto, episódios de instabilidade no fornecimento ainda são constantes, afirma o presidente do Foro Brasil-Paraguai Raul Baginski. O Foro é uma comunidade formada por empresas e pessoas físicas brasileiras e estrangeiras.

Hoje, segundo Baginski, há oferta suficiente de energia para instalação de novas empresas na região de Assunção, o que não havia anteriormente, mas ainda é preciso investimento na infraestrutura. "Tem oferta de energia, mas a estabilidade no sistema é fundamental para indústrias se instalarem no Paraguai."

Para indústrias com grande consumo de energia, incluindo as do setor têxtil e de plásticos, a instabilidade se torna um problema porque a interrupção traz prejuízos na produção.

O presidente da União Industrial do Paraguai (UIP), Eduardo Felippo, destaca que houve melhorias após a instalação da linha de 500 kv. No entanto, quedas de luz ainda são comuns quando há temporais. Felippo afirma que os industriais estão mais confiantes no sistema elétrico. Apesar disso, reconhece que ainda há no país áreas onde não houve reforço de linhas para compensar o crescimento do consumo.

Tarifa barata reduz capacidade de investimento dos paraguaios

Professor de economia e diretor do Centro Empresarial Brasil-Paraguai (Braspar), Wagner Enis Weber afirma que a fragilidade do sistema elétrico afasta empresas da fronteira. "Se a empresa precisa de muita energia elétrica ou de qualidade, não é recomendável se instalar nas regiões de Ciudad del Este e Salto del Guairá", diz.

O consumo de energia elétrica no Paraguai cresce mais de 9% ao ano desde 1990, segundo Weber. Porém, não há reajuste na tarifa de energia elétrica desde 2002. Este é um dos motivos que fizeram o país perder a capacidade de investimento no setor. Segundo Weber, o atual governo pretende, por meio da chamada Lei de Parceria Público-Privada, dar espaço para novas empresas de energia.

Crescimento

O tema da energia elétrica é emergente no Paraguai porque a perspectiva de crescimento do país, entre 5,5% a 7% para este ano, salta aos olhos de industriais estrangeiros, principalmente brasileiros. No entanto, a confiabilidade no sistema elétrico é uma condição imprescindível para os empresários cruzarem a fronteira.

Nos últimos 20 anos, a inflação no país é estável e gira em torno de 5% ao ano. Em alguns setores da economia, a exemplo da indústria têxtil, os custos de produção chegam a ser 40% mais baratos em relação ao Brasil.

Reforço do sistema está em execução, diz agência nacional

O gerente técnico da Administração Nacional de Eletricidade (Ande) do Paraguai, Ronaldo Zelado, diz que hoje o país consome uma média de 900 megawatts (mw) de energia da linha de 500 kv, cuja capacidade atual chega a 1,2 mil mw. Para isso, utiliza quatro linhas de distribuição, duas das quais estão passando por melhorias. Em janeiro deste ano, dois dos oito transformadores da linha apresentaram problemas e tiveram de passar por reparos.

A perspectiva do país é utilizar os 1,2 mil mw até o final de 2016 quando obras complementares estarão concluídas. Caso uma segunda linha de 500 kv seja construída, o Paraguai poderá absorver até 2,2 mil mw do sistema. Para isso, precisará utilizar seis linhas de distribuição de 220 quilowatts (kw).

Obras

Para abastecer a região de Salto del Guairá, está em construção uma linha de 220 kv entre Itakyry-Katuete-Salto del Guairá, com inauguração prevista até o início de 2015. Outra obra prevista é a construção de uma linha de 500 kv entre Yacyreta e Villa Hayes, cuja licitação está em estudo.

O Paraguai também consome energia da hidrelétrica de Acaray, situada em Hernandárias que gera cerca de 200 kw. De toda energia gerada hoje pela Itaipu, 90% é vendida ao Brasil e 10% ao Paraguai.

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