US$ 555 milhões foi quanto custou a linha de transmissão de 500 kv inaugurado no final de outubro de 2013 pelos presidentes Horacio Cartes e Dilma Rousseff. O novo sistema envolveu a execução de três obras. A construção de uma subestação em Itaipu, no lado paraguaio; outra em Villa Hayes, região de Assunção; e 348 quilômetros de linha de transmissão com 759 torres, partindo da fronteira. Os custos foram compartimentados. Dos US$ 555 milhões orçados, US$ 155 milhões saíram da Itaipu e da Administração Nacional de Eletricidade. Outros US$ 100 milhões vieram de contribuições regulares do Brasil e outros US$ 300 milhões de aportes voluntários também do Brasil.
Contrassenso
Conhecida como "capital da energia", cidade está quase sempre às escuras
Sede da Itaipu Binacional e conhecida como "capital da energia", o município de Hernandárias, nos limites com Foz do Iguaçu, vive frequentemente às escuras pelos constantes episódios de queda de luz. Com uma zona industrial projetada em uma parceria entre prefeitura, indústrias e 47 proprietários de terras, em um total de 4.250 hectares em ambos os lados da Rodovia Supercarretera Itaipu, a cidade aguarda melhorias no sistema elétrico para deslanchar. Hoje existem 19 indústrias instaladas, mas o plano é ter mil.
Desde que o projeto foi lançado, em março de 2011, cerca de 100 empresários mostraram interesse em se instalar na zona, mas retardaram os planos até a chegada de mais energia. "Como é possível o Paraguai ter tanta energia e conviver com cortes de luz?", indaga o diretor de desenvolvimento e investimentos da prefeitura de Hernandárias, José Antonio Rugel Corrales.
Comerciante na cidade, Maria Mercedes diz que os apagões são constantes na capital da energia, principalmente quando há temporais. Para contornar o problema, o condomínio Country Club, onde ela mora, tem uma estrutura própria para prestar serviços de emergência e garantir o fornecimento de água, cujo sistema depende de energia elétrica. "Muitos investimentos nós é que fazemos", diz. A falta de energia é comum no verão e no inverno, quando o consumo aumenta em razão do uso de calefação, e chega a durar até mais de uma hora.
Para suprir a demanda em alta por energia elétrica na fronteira, uma subestação começou a ser construída ano passado em Hernandárias, em um investimento de US$ 25 milhões. A obra deve ser entregue entre o final deste ano e o início de 2015. Enquanto a falta de energia persiste, muitas indústrias trabalham com gerador próprio para evitar problemas na produção.
Apesar de ser sócio da maior usina hidrelétrica do mundo, a Itaipu Binacional, e ter inaugurado no final de 2013 uma nova linha de transmissão de 500 quilovolts (kv), o Paraguai agoniza com apagões e cortes constantes no fornecimento de energia elétrica.
O problema decorre da falta de infraestrutura para distribuir a produção gerada pelas usinas Itaipu e Yacyretá, binacional construída em parceria com a Argentina. Com baixos investimentos no setor nos últimos anos, o país dispõe de uma matriz obsoleta e estrutura antiga para fazer a energia chegar aos usuários.
Uma das regiões mais prejudicadas é a fronteiriça. Construída para levar energia para a região de Assunção, a linha de 500 kv, que custou US$ 555 milhões e foi bancado com recursos do Fundo para a Convergência Estrutural para o Mercosul (Focem), não beneficia importantes áreas industriais em desenvolvimento no país, incluindo o município de Hernandárias (sede da Itaipu Binacional no lado paraguaio), Ciudad del Este e Salto de Guairá, cidades situadas nos limites com o Brasil.
Nessa faixa de fronteira, indústrias aguardam a melhoria no fornecimento de energia para se instalarem. Outras usam geradores para não ter a produção prejudicada diante dos constantes episódios de queda na luz.
Apesar de ter aliviado o panorama de apagões na Grande Assunção, uma região com cerca de 3 milhões de habitantes, a linha de 500 kv também não opera em plena capacidade por falta de um sistema de distribuição, tarefa que cabe à Administração Nacional de Eletricidade (Ande).
Instabilidade
Empresários e moradores da Grande Assunção dizem que a linha melhorou o abastecimento. No entanto, episódios de instabilidade no fornecimento ainda são constantes, afirma o presidente do Foro Brasil-Paraguai Raul Baginski. O Foro é uma comunidade formada por empresas e pessoas físicas brasileiras e estrangeiras.
Hoje, segundo Baginski, há oferta suficiente de energia para instalação de novas empresas na região de Assunção, o que não havia anteriormente, mas ainda é preciso investimento na infraestrutura. "Tem oferta de energia, mas a estabilidade no sistema é fundamental para indústrias se instalarem no Paraguai."
Para indústrias com grande consumo de energia, incluindo as do setor têxtil e de plásticos, a instabilidade se torna um problema porque a interrupção traz prejuízos na produção.
O presidente da União Industrial do Paraguai (UIP), Eduardo Felippo, destaca que houve melhorias após a instalação da linha de 500 kv. No entanto, quedas de luz ainda são comuns quando há temporais. Felippo afirma que os industriais estão mais confiantes no sistema elétrico. Apesar disso, reconhece que ainda há no país áreas onde não houve reforço de linhas para compensar o crescimento do consumo.
Tarifa barata reduz capacidade de investimento dos paraguaios
Professor de economia e diretor do Centro Empresarial Brasil-Paraguai (Braspar), Wagner Enis Weber afirma que a fragilidade do sistema elétrico afasta empresas da fronteira. "Se a empresa precisa de muita energia elétrica ou de qualidade, não é recomendável se instalar nas regiões de Ciudad del Este e Salto del Guairá", diz.
O consumo de energia elétrica no Paraguai cresce mais de 9% ao ano desde 1990, segundo Weber. Porém, não há reajuste na tarifa de energia elétrica desde 2002. Este é um dos motivos que fizeram o país perder a capacidade de investimento no setor. Segundo Weber, o atual governo pretende, por meio da chamada Lei de Parceria Público-Privada, dar espaço para novas empresas de energia.
Crescimento
O tema da energia elétrica é emergente no Paraguai porque a perspectiva de crescimento do país, entre 5,5% a 7% para este ano, salta aos olhos de industriais estrangeiros, principalmente brasileiros. No entanto, a confiabilidade no sistema elétrico é uma condição imprescindível para os empresários cruzarem a fronteira.
Nos últimos 20 anos, a inflação no país é estável e gira em torno de 5% ao ano. Em alguns setores da economia, a exemplo da indústria têxtil, os custos de produção chegam a ser 40% mais baratos em relação ao Brasil.
Reforço do sistema está em execução, diz agência nacional
O gerente técnico da Administração Nacional de Eletricidade (Ande) do Paraguai, Ronaldo Zelado, diz que hoje o país consome uma média de 900 megawatts (mw) de energia da linha de 500 kv, cuja capacidade atual chega a 1,2 mil mw. Para isso, utiliza quatro linhas de distribuição, duas das quais estão passando por melhorias. Em janeiro deste ano, dois dos oito transformadores da linha apresentaram problemas e tiveram de passar por reparos.
A perspectiva do país é utilizar os 1,2 mil mw até o final de 2016 quando obras complementares estarão concluídas. Caso uma segunda linha de 500 kv seja construída, o Paraguai poderá absorver até 2,2 mil mw do sistema. Para isso, precisará utilizar seis linhas de distribuição de 220 quilowatts (kw).
Obras
Para abastecer a região de Salto del Guairá, está em construção uma linha de 220 kv entre Itakyry-Katuete-Salto del Guairá, com inauguração prevista até o início de 2015. Outra obra prevista é a construção de uma linha de 500 kv entre Yacyreta e Villa Hayes, cuja licitação está em estudo.
O Paraguai também consome energia da hidrelétrica de Acaray, situada em Hernandárias que gera cerca de 200 kw. De toda energia gerada hoje pela Itaipu, 90% é vendida ao Brasil e 10% ao Paraguai.
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