Um mercado de câmbio com menos volume, mais fiel ao fluxo de comércio e investimentos do país e com influência menor das operações com derivativos. Esse deve ser o resultado da mudança na principal taxa de referência do dólar, a partir de 1º de julho, de acordo com a expectativa de agentes de mercado.

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Por outro lado, corretoras na BM&FBovespa devem ser afetadas pela atrofia das operações casadas entre contratos futuros e negociações à vista, atualmente usadas para conduzir a Ptax de acordo com a conveniência de grandes investidores.

O novo método para o cálculo da taxa Ptax foi anunciado em setembro do ano passado com o objetivo de modernizar o mercado de câmbio brasileiro e aproximá-lo do padrão internacional. A taxa é importante porque serve de referência para grande parte dos contratos em dólar.

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Após meses de testes, a nova Ptax está pronta para entrar em vigor a partir desta sexta-feira.

A taxa, hoje uma média ponderada por volume de todas as operações à vista, será uma média apenas aritmética de taxas fornecidas pelos maiores bancos do mercado.

Inicialmente, serão quatro consultas diárias do Banco Central ao mercado, mas no futuro a instituição pretende fazer apenas uma consulta por dia, de acordo com uma fonte do governo.

"A Ptax estará sujeita a menos distorções, já que a nova metodologia evita a manipulação que era possível pelas regras antigas", afirmou Douglas Smith, chefe de pesquisa para América Latina do Standard Chartered, em referência à tradicional "briga" pela Ptax que acontecia todo mês entre investidores com posições compradas e vendidas, para rolagem dos contratos futuros.

Como o volume de todas as operações com dólar à vista tinha peso sobre a Ptax, alguns investidores buscavam influenciar a taxa de referência do dólar por meio de operações sem vínculo claro com transações no mercado primário --como exportações, por exemplo. Isso era acompanhado (ou, no jargão do mercado, "casado") com uma transação inversa no mercado futuro, que mantinha a posição de câmbio da instituição inalterada.

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Por isso, a principal repercussão da nova metodologia, que desconsidera o volume, deve ser desestimular essas operações.

"Não tenho dúvida, o mercado vai encolher. Mas será mais transparente", disse Jorge Knauer, diretor de tesouraria do Banco Prosper.

VOLUME MENOR NO "CASADO"

O governo não espera que isso afete o fluxo do mercado de câmbio no país. Mas operadores de duas das principais corretoras que operam "casado" temem que o volume desse mercado, cuja média diária é próxima a 2 bilhões de dólares, possa cair a até 600 milhões de dólares, numa redução de 70 por cento.

"Isso preocupa", disse um deles. "E a tendência do dólar futuro é cair (o volume) também."

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Com liquidez menor no mercado de casado, os spreads --diferença entre as cotações de compra e venda-- também podem aumentar, embora não haja consenso sobre isso entre operadores e analistas.

Até 30 de setembro, o Banco Central manterá a diferença entre as taxas de compra e venda da Ptax em 0,0008 real, como é atualmente.

Outra mudança será no horário de divulgação: hoje, a Ptax sai apenas no fim do dia. A partir de 1o de julho, o BC fará a divulgação a partir de 13h10, o que pode modificar a distribuição das operações ao longo do dia.

"O exportador e o importador vão ter condições de definir melhor seu negócio do que ficar esperando até o fim do dia e ter só entre 9h e 9h30 de amanhã para contratar", disse João Medeiros, diretor de câmbio da corretora Pioneer.

A BM&FBovespa vai aproveitar a oportunidade para oferecer uma taxa alternativa à Ptax. A iniciativa teve seu modelo definido neste mês e deve estar disponível a partir de setembro ou outubro, disse o diretor de câmbio e renda fixa da bolsa, Sérgio Goldenstein

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