Sem surpresa, o Brasil caminha para perder em breve mais um último título de “bom pagador”, dizem analistas do mercado financeiro. A exemplo do que já fizeram a Standard & Poor’s e Fitch, dessa vez será a agência de classificação de risco Moody’s. Analistas dizem que o efeito será pequeno nos ativos financeiros, já que o ajuste teria sido praticamente todo feito quando as outras agências anunciaram idêntica decisão.
Nos últimos dias, analistas da Moody’s estiveram no Brasil para uma série de reuniões com autoridades, inclusive com o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Sem mudança na situação fiscal do país, a equipe da Moody’s caminha para o novo rebaixamento.
“Infelizmente, a resposta para essa questão é fácil. A Moody’s vai rebaixar o Brasil em algum momento. A trajetória da dívida continua muito ruim e não há nada que mostre que a tendência mudará”, diz o analista para o Brasil do espanhol BBVA Research, Enestor dos Santos.
Opinião idêntica tem o gestor da norte-americana Bulltick, Klaus Spielkamp. “É impossível acreditar que a Moody’s não viria a se ajustar às classificações das outras agências. Além disso, a Moody’s estava atrasada porque tinha dado o voto de confiança ao plano fiscal do Levy e era muito esperado que atuasse em breve após a saída dele”, disse. Diante desse atraso, o gestor entende que o efeito sobre o mercado brasileiro será mínimo. “Por isso, o efeito no mercado deve ser nulo.”
Santos concorda. “Isso já está bem precificado pelos gestores. Acho que o pior impacto pode ser do ponto de vista de imagem. Quando isso acontecer, os jornais, principalmente no exterior, voltarão a comentar sobre a má situação do Brasil e a imagem volta a se deteriorar”, diz o analista em Madri.
Em Nova York, o economista-chefe do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos, avalia que um rebaixamento pela Moody’s teria “algum impacto” nos preços dos ativos brasileiros. Essa reação, porém, será menor do que a vista quando a Fitch rebaixou a nota soberana do país, em dezembro.
Títulos da dívida
Um sinal de que o mercado já espera o movimento está no retorno pago pelos títulos da dívida do Brasil. Klaus Spielkamp nota que os “yields” (retorno pago aos investidores) dos bônus soberanos do Brasil já são negociados no mercado secundário em níveis ainda mais baixos que os ratings do País, “BB”, pela Fitch e S&P “Os yields dos bonds são mais comparáveis com soberanos classificados como ‘B’, mais um motivo para um novo rebaixamento não ter ruído no mercado.”
O executivo cita, por exemplo, que a Guatemala, com a nota “Ba1” pela Moody’s, paga 4,9% de retorno, pouco abaixo do Paraguai, com a mesma nota (5,01%). Enquanto o Brasil, que ainda é considerado grau de investimento pela agência Moody’s, paga 6,65%.
“O Brasil já tem que pagar mais que a República Dominicana para captar no mercado internacional de capitais”, afirma a diretora da gestora TCW em Los Angeles, Marcela Meirelles. “A alta dos spreads ressalta que há muita preocupação e confusão entre os investidores sobre o Brasil”, completou.
Como o rebaixamento pela Moody’s já é esperado há algum tempo, a diretora destaca que o mercado está mais preocupado agora com o que o governo vai fazer com a política monetária e fiscal daqui para frente. Ela avalia que a recente decisão do Banco Central de não elevar os juros foi muito mal recebida pelos investidores internacionais e o mesmo deve acontecer com medidas que fujam do controle de gastos públicos.