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Marcado para entrar em funcionamento em 16 de novembro, o Pix, novo sistema brasileiro de pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central, promete representar uma revolução no sistema bancário brasileiro. Ele deve esquentar a concorrência no mercado entre as chamadas fintechs - startups de serviços financeiros - e os grandes bancos.
O Pix vai alterar a forma como as pessoas pagam contas e fazem compras ao eliminar a necessidade de dinheiro ou cartão. Entre as vantagens está a possibilidade de se usar apenas o número de um celular, por exemplo, para fazer uma transferência sem precisar recorrer a conta, agência, CPF e nome completo.
Para se preparar para essa nova fase, as chamadas fintechs decidiram ir às compras. As startups especializadas no setor financeiro ampliaram nos últimos meses as aquisições de pequenas empresas de tecnologia, corretoras e gestoras de investimentos buscando aumentar seu campo de atuação.
Especialista em regulação e organização do mercado financeiro e de capitais, o advogado José Luiz Rodrigues destaca a alta procura das fintechs por consultorias para a formatação de processos de aquisição. Só na última semana, o escritório atendeu quatro empreendedores da área.
“Nos últimos cinco anos, as fintechs vieram se estruturando, mas ainda focadas em serviços específicos para se colocarem no mercado. Agora, com o open banking, muitas delas encontraram a oportunidade para tornar suas operações mais abrangentes”, diz ele. “As fintechs estão se juntando para serem mais fortes.”
A aquisição, no mês passado, da Magliano Invest, a mais antiga corretora do país, com 90 anos de atuação, pela Neon Pagamentos, fundada há apenas quatro anos, é apenas um exemplo, já que a lista é grande.
Em junho, a XP anunciou a compra de participações majoritárias em duas fintechs: a Fliper, de consolidação de investimentos, e a Antecipa, plataforma digital de antecipação de recebíveis (como valores a serem recebidos por lojistas por compras no cartão de crédito).
Neste mês, o mercado assistiu à disputa entre a Stone Pagamentos e a Totvs pela aquisição da Linx, desenvolvedora de softwares para varejo e comércio eletrônico. Os valores envolvidos chegam a R$ 6 bilhões.
No caso do Nubank, as aquisições ultrapassaram fronteiras. A empresa comprou duas companhias de desenvolvimento de sistemas neste ano - a Plataformatec, em janeiro, e a norte-americana Cognitect, em julho. “Temos crescido a um ritmo muito acelerado, de 40 mil clientes por dia”, diz a cofundadora do Nubank, Cristina Junqueira. “E isso, sem dúvida, inclui o desenvolvimento de produtos e serviços que vamos oferecer no contexto de open banking e pagamento instantâneo.”
Segundo a executiva, os sistemas vão aumentar drasticamente a competição. “O mercado vai passar por um período de consolidação e estamos sempre atentos. Caso haja alguma empresa que tenha produtos consistentes com a nossa visão, podemos nos interessar.”
O professor de Finanças Ricardo Rocha, do Insper, reforça essa avaliação. “Haverá a definição sobre quais fintechs vão virar grandes empresas e quais vão ficar no meio do caminho.” Segundo ele, a tendência é que o custo ao cliente financeiros diminua. “É a continuação da revolução digital. A inovação vai promover mudanças importantes.”
Bancos investem R$ 24,6 bi em tecnologia
Já oss bancos tradicionais abriram a carteira para contra-atacar. Eles estão investindo em tecnologia e segurança para se adaptarem à revolução.
Segundo o diretor executivo de Inovação, Produtos e Serviços Bancários da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Leandro Vilain, os investimentos feitos pelo setor em tecnologia são de R$ 24,6 bilhões por ano. “Os bancos sempre funcionaram como patrocinadores de inovações no país e têm histórico de investimentos em tecnologia e expertise em operações digitais”.
O executivo disse que a Febraban acredita que o sistema Pix será importante para elevar a concorrência bancária no País. “Com ele, os clientes vão ter maior conveniência e facilidades e poderão optar por melhores ofertas e oportunidades de crédito e serviços existentes no mercado.” A entidade afirma, porém, que as regras devem ser iguais para todos os participantes, sejam eles bancos tradicionais ou novos competidores.
Para a Febraban, a maior concorrência e o acesso a mais informações sobre os clientes permitirão ganhos de produtividade e redução de custos. No entanto, Vilain afirma que essas iniciativas “não terão a capacidade” de reduzir o spread (diferença entre o custo de captação e o que é efetivamente cobrado do cliente).
“Esse é um problema a ser enfrentado, mas suas causas estão relacionadas a fatores como inadimplência, falta de garantias, alta tributação e insegurança jurídica nos contratos financeiros”, diz Vilain. “Esses problemas são enfrentados sejam os bancos tradicionais ou aqueles que estão chegando.”
Embora acredite que o Pix virá para incluir milhões de pessoas no sistema financeiro, o Itaú diz que a novidade vai trazer desafios de segurança e gestão de conflitos. “Nossos investimentos têm foco em oferecer a melhor experiência a nossos clientes, com simplicidade e, principalmente, segurança”, diz o diretor de estratégia de PMEs e open banking do Itaú Unibanco, Carlos Eduardo Peyser.
O que diz o Banco Central
Já o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central, João Manoel Pinho de Mello, diz que resultado da introdução do Pix e do open banking será o aumento da eficiência e da concorrência entre as instituições financeiras. “Evidentemente, quem prestar melhores serviços a preços menores vai levar”.
O principal motor que levará a esta revolução é a eficiência, o custo baixo e a abertura de plataformas. O que o Pix faz é criar uma plataforma eficiente em que todos participam. A plataforma é atrativa do lado do usuário recebedor, por conta da liquidação em 24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano. Do lado do pagador, o que estamos garantindo é uma série de funcionalidades tão conveniente quanto o que é oferecido por outros meios de pagamento, como dinheiro, boleto e cartões.