Nesta segunda-feira (14) os economistas Abhijit Banerjee, Esther Duflo e Michael Kremer foram premiados com o Nobel de Economia por suas contribuições no combate à pobreza no mundo.
Para o comitê do Nobel, os estudos dos três deram embasamento para abordagens mais eficazes, por exemplo, nos esforços para melhorar a saúde infantil e o desempenho escolar.
Os laureados com o Nobel são reconhecidos por quebrarem paradigmas da economia, avançarem em frentes de estudos acadêmicos e impactarem na vida de bilhões de pessoas em todo o globo. Cada vez mais, a Ciência Econômica vai muito além da economia, expandindo para áreas interdisciplinares, como Direito, Psicologia, Administração, Contabilidade, Engenharia, entre outros.
Na medida em que os estudos avançam e vão se tornando consenso entre os acadêmicos, eles passam a inspirar a formatação de políticas públicas em diversos países.
Dada a complexidade dos trabalhos, embora muitas vezes seus estudos influenciem no dia a dia das pessoas, essa relação não é compreendida por quem está fora do universo acadêmico.
Abaixo, um resumo das contribuições dos últimos 5 nobéis em Ciências Econômicas e os impactos na vida em sociedade.
Lucro em preservar o meio ambiente
O professor de Economia da Universidade de Yale William D. Nordhaus foi agraciado com o Nobel de Economia de 2018 por criar modelos econômicos que levam em conta o meio ambiente. A partir disso, formularam-se políticas para desincentivar a emissão de gás carbônico visando preservar o meio ambiente e proteger o crescimento econômico futuro.
Como explica Diego Cardoso, doutorando em economia aplicada pela Universidade Cornell, e que estuda economia do meio ambiente e energia a partir dos modelos de Nordhaus: "Recursos naturais são parte do processo produtivo, então podem ser encarados como parte do estoque de capital de um país. Além disso, as pessoas atribuem valor ao meio ambiente em si. Nordhaus foi pioneiro ao propor uma forma de contabilizar esses recursos para a economia”, afirma.
“Hoje sabemos que a economia afeta o meio ambiente, e o meio ambiente afeta a economia. Então a grande contribuição dele foi juntar esses dois fatores em um modelo mais completo, demonstrar como eles são importantes e como há uma relação dinâmica de dependência entre ambos”, diz.
Para Cardoso, a tendência no Brasil é seguir outros países que, baseados nos estudos de Nordhaus, já contabilizam o preço no carbono para a produção de bens e serviços: “A emissão do carbono é uma externalidade e ao incluí-la no preço dessa emissão você afeta a demanda e o consumo das pessoas. Em vários países isso já ocorre, afetando o preço, por exemplo, da gasolina, da energia e da carne”, conta.
Atualmente, boa parte dos países europeus, China, Coreia do Sul, Canadá, Argentina e África do Sul já adotaram ou planejam implementar políticas de precificação do carbono baseadas nas ideias do Nobel.
Um exemplo de como a taxação do carbono pode funcionar foi citado e elogiado pelo próprio Nordhaus, em entrevista ao New York Times. Ele citou o caso da província canadense de Colúmbia Britânica: “Lá se aumenta os preços da eletricidade em US$ 100 por ano, mas o governo devolve um dividendo que reduz os preços da Internet em US$ 100 por ano. Em termos reais, você está aumentando o preço dos bens ligados ao carbono e reduzindo os preços dos bens que não tem uso intensivo de carbono: há os efeitos econômicos corretos, mas politicamente não é tão desgastante quanto a criação de um novo imposto”, contou.
Conhecimento e inovação fazem crescer
O Nobel de 2018 de William D. Nordhaus foi dividido com o professor da Universidade de Nova York Paul M. Romer. Ele foi premiado por demonstrar a partir de modelos matemáticos como o desenvolvimento tecnológico gera crescimento econômico.
Antes dele, os economistas aceitavam a intuitiva ideia de que o conhecimento tinha a capacidade de estimular o desenvolvimento econômico, mas isso seria fruto da inspiração dos cidadãos.
Em contraposição, Romer criou a Teoria do Crescimento Endógeno, que defende que o crescimento econômico é fruto de forças endógenas (como capital humano, ideias e conhecimento). A teoria demonstra que políticas de incentivo à pesquisa e à educação, além do efeito de leis de propriedade intelectual, também ajudam no desenvolvimento das tecnologias e, consequentemente, no progresso do mercado e no crescimento econômico.
Seu trabalho impactou na criação de políticas de subsídios em pesquisa e desenvolvimento em todo o mundo.
Economia comportamental
Em 2017 o ganhador do prêmio Nobel foi professor de Economia da Universidade de Chicago Richard H. Thaler por suas contribuições para a economia comportamental. Essa área de estudo conecta a economia com a psicologia, e coloca em questão o impacto de fatores psicológicos, culturais e emocionais na teoria econômica.
A economista Deborah Bizarria, que estudou economia comportamental na Universidade de Warwick, afirma que Thaler “tornou a economia mais humana”. “Há outros fatores além dos incentivos econômicos que influenciam no comportamento das pessoas”, afirma. “As empresas mudaram a forma de pensar seus processos de venda, mas a forma de fazer políticas públicas também mudou: afinal, temos de ser mais inteligentes e levar em conta o comportamento mais realista das pessoas”, complementa.
Em seus trabalhos, Thaler desenvolveu o conceito de nudges: pequenos recursos para resolver problemas sociais ao incentivar ou alterar determinadas escolhas individuais. Os nudges são capazes de influenciar no comportamento das pessoas, fazendo com que elas livremente tomem decisões de interesse próprio e no melhor interesse de todos: tudo a partir de ciência comportamental.
A partir desses estudos, surgiram milhares de exemplos de políticas públicas e também de regras privadas em todo o mundo com o uso de nudges, inclusive no Brasil.
Em 2015, por exemplo, o governo brasileiro criou uma lei que determinava a adesão automática do servidor público federal a fundos de previdência complementar. Ou seja, um nudge para melhorar a arrecadação previdenciária da União. Outro caso ocorreu em 2016 na prefeitura de São Paulo, que utilizou um nudge para ajudar na redução da evasão escolar: lembretes curtos via mensagem de texto para os pais sobre a importância da frequência escolar. O resultado foi uma queda na taxa de reprovação de 3% entre os estudantes cujos pais receberam os SMS.
Avisos de que uma fatura está vencendo e setas verdes e vermelhas em estações de trem, metrôs e aeroportos para acelerar o processo de desembarque são outros exemplos de nudges já comuns no dia a dia de milhões de pessoas.
Incentivos corretos melhoram execução de contratos
O britânico professor de Harvard Oliver Hart e o finlandês que leciona economia no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Bengt Holmström, foram laureados com o Nobel em 2016 por suas contribuições na Teoria dos Contratos. As pesquisas deles enfatizaram que, dada sua relevância social, os contratos impactam e devem ser motivo de análise por diversas áreas e carreiras, como administradores, economistas, contadores e engenheiros.
Os pesquisadores demonstraram como incentivos corretos podem fazer com que contratos sejam melhor executados, gerando, portanto, melhores resultados. Como os contratos são formas de organizar as atividades econômicas, podem estabelecer incentivos ou desincentivos comportamentais para os agentes econômicos.
Assim, Hart e Holmström comprovaram, por exemplo, que determinadas cláusulas nos contratos de remuneração de CEOs podem fazê-los priorizar ganhos de longo prazo. Isso impacta nas decisões de grandes empresas, o que influencia no dia a dia das pessoas.
Outra forte contribuição da dupla se deu a partir da análise de como devem ser feitos por governos contratos de privatizações e concessões para garantir a qualidade e a responsabilidade dos agentes na prestação daquele serviço.
Combate à desigualdade
O professor da Universidade de Princeton Angus Deaton foi o vencedor do Nobel 2015 por sua análise de consumo, pobreza e bem-estar. Seus estudos são responsáveis pelo aprimoramento de políticas públicas em diversas áreas.
Ele procurou, por exemplo, entender como os consumidores distribuem seus gastos entre diferentes produtos e bens. A partir da Teoria do Quase Ideal Sistema de Demanda, conseguiu identificar os padrões de consumo entre quem tem rendas diferentes na sociedade. A partir disso, tornou-se possível a criação de modelos tributários mais progressivos e justos, isto é, em que os mais pobres não paguem proporcionalmente mais impostos do que os de maior renda.
A pesquisa de Deaton também é relacionada com a desigualdade econômica existente na sociedade e entre diferentes países. Em um de seus mais influentes trabalhos, “A Grande Saída: saúde, riqueza e as origens da desigualdade” (Ed. Intríseca, 2013), ele defende a tese de que vivemos no melhor período da história: vivendo mais, com mais saúde e mais prosperidade e níveis de bem-estar sem precedentes. Embora seja apontado por alguns como um livro otimista, tudo é amparado em dados e evidências disponíveis.
Apesar disso, Deaton se mostra preocupado em como desenvolver políticas que ajudem a parcela da população mundial cujos níveis de bem-estar estão abaixo dos vivenciados nos países desenvolvidos, sendo referência no tema.
Deaton é crítico de programas de ajuda criados pelos países ricos afirmando que eles pioram a situação desses países: ficam dependentes dos recursos externos e inibem o desenvolvimento das instituições que fariam as nações se desenvolver por conta própria.
Como forma de combate à pobreza e melhor distribuição de renda, o professor de Princeton é um dos grandes defensores de programas de renda mínima universal, como o Bolsa Família.
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