Pelo menos em tese, o pacote de concessões anunciado pelo governo federal para investimentos em infraestrutura e logística deve tirar o Brasil do ostracismo, integrar oferta e demanda e conferir a tão sonhada competitividade à produção nacional. Ao combater um dos principais gargalos da economia, ao lado da política fiscal e tributária, o país se prepara para ganhar eficiência, reduzir custos e promover ou resgatar o desenvolvimento, não mais dos grandes centros, mas de Norte a Sul, de Leste Oeste do território brasileiro. Contudo, não vai ser vai ser fácil. O Brasil é tão grande quanto o interesse dos estados, do governo, dos políticos e da iniciativa privada. O interesse maior, porém, legítimo e que deve ser preservado, é o da sociedade.
A premissa na definição dos investimentos, deste ou daquele trecho, deste ou daquele porto, ferrovia ou rodovia deve ser primeiramente o interesse público, pautado pelo viés da utilidade pública. Não basta ser bom para mim. Tem que ser bom para todos e beneficiar o conjunto, as pessoas e o estado. É o que podemos chamar de desenvolvimento sustentável, onde econômico e social são pautados por motivações comuns, democráticas e estratégicas enquanto nação. Mas para tanto é preciso participar do processo, mobilizar e contribuir de modo ativo para que as mudanças também ocorram de forma democrática, inteligente e que de fato atendam as reais necessidades do Brasil, como também do Norte e do Sul, deste ou daquele estado.
Na semana passada, quando o Paraná foi à Brasília entender melhor os planos do governo e apresentar suas reivindicações, fez exatamente o que precisa ser feito. Através do Fórum Futuro 10, o estado mobiliza governo e entidades, posiciona-se, se integra às discussões para dar sua contribuição não apenas ao projeto estadual como à proposta nacional para colocar, literalmente, o Brasil nos trilhos.
O estado também precisa entender que, num país com essas dimensões, definir e distribuir investimentos não são tarefas das mais fáceis. Em ano de eleição, então, conciliar demandas políticas e partidárias torna a missão quase impossível. Por isso, a importância de mobilizações como a do Fórum Futuro 10. Porque é preciso zelar pelo público e pelo privado, pela empresa e pelo cidadão. E não necessariamente pelo político-partidário.
Especificamente sobre as demandas do Paraná, quando a leitura é sobre o olhar do agronegócio, também é preciso fazer uma leitura mais ampla, que vai além do fato de o estado ser o maior produtor de grãos do país. Investimentos aqui tem benefício direto ao mercado local como nacional. Não podemos esquecer que Paranaguá ainda é o maior porto graneleiro da costa brasileira. Bem ou mal, eficiente ou não, o terminal atende ao escoamento de inúmeros estados e até de outros países, como é o caso do Paraguai. Assim, melhorar ou ampliar a infraestrutura de acesso com rodovias, ferrovias e a modernização do porto interessa não apenas ao estado como ao país, ao produtor, exportador ou agroindústria paranaense e de tantos outros estados cuja produção atravessa o Paraná para deixar o país via terminal de Paranaguá.
Defesas e interesses regionais à parte, pelo menos por enquanto, do ponto de vista conceitual, a iniciativa do governo federal agrada gregos e troianos. Tudo bem que com o pacote de concessões a União repassa à iniciativa privada uma responsabilidade que, em tese, seria do governo. Em uma avaliação simples e desprovida de comprometimento, é o governo fazendo cortesia com o chapéu alheio. Num diagnóstico mais criterioso, porém, é possível perceber que o futuro do Brasil depende dessa integração, do público e do privado. Gerar emprego e desenvolvimento não é atribuição exclusiva do estado. Ele precisa, sim, dar condições para que isso ocorra. Mas não deve ser o único responsável. O pacote de concessões não pode então ser encarado como uma transferência de responsabilidade, e sim como uma forma de partilhar essa responsabilidade, que tem tudo a ver com o governo, mas também com a iniciativa privada, com você, comigo e com a sociedade.
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