Professor de Economia da Universidade de Princeton desde 1999, o economista e matemático José Alexandre Scheinkman, afirma que o mundo "está desanimado com o Brasil", como um reflexo de truques contábeis para driblar a meta fiscal e com a sensação de que o "teto da meta de inflação virou o centro da meta".

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Como o senhor vê a situação dos EUA e da Europa?

Estamos vendo os EUA dando indícios de aceleração. Em primeiro lugar, resultado da política monetária. Em segundo lugar, o país tem um setor privado muito dinâmico.

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E o reflexo para o Brasil?

Quando o mundo cresce mais é melhor para o Brasil. Mas não se deve exagerar esse papel do cenário externo. Países com perfil parecido de exportações como Chile e Colômbia, estão tendo uma performance melhor que o Brasil.

O que o Brasil pode fazer?

Temos o desempenho da agropecuária de um lado e o da indústria de outro. Agropecuária sofreu dois choques importantes. É muito menos protegida do que a indústria no Brasil. Foi aberta ao mundo em vez de competir com o mundo.

A indústria continua perdendo espaço na economia e competitividade...

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Não é papel de economista acadêmico ou de governo imaginar qual o ramo vai ser bem-sucedido no Brasil. Esse é um papel para empresários. A agropecuária volta a ser exemplo. Os números do milho são impressionantes. A área cultivada do milho, de 1990 para cá, caiu, mas a produção foi multiplicada por quatro. Quando você protege uma indústria impõe custo para outras. Não é papel do governo dar empréstimo subsidiado a certas empresas.

Falta inovação também?

No começo dos anos 2000, Brasil, China e Índia registravam no Escritório de Patentes Americano pouco menos de 200 patentes por ano. Esse ainda é o número do Brasil. Mas a Índia registra mais de 600 e a China, perto de duas mil. Temos até um número de doutores e de pesquisa básica razoável. O que falta é essa ligação entre a pesquisa básica e o desenvolvimento tecnológico. A Embrapa é um exemplo de como isso pode ser feito. O biocombustível brasileiro é o mais bem-sucedido do mundo.

A contenção do preço da gasolina prejudicou esse movimento?

A política funcionou como imposto para o etanol. Qualquer economista teria entendido isso. Será que os EUA iriam pôr um imposto para software de telefone ou para sistema de buscas?

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O dólar vem subindo continuamente. É só a expectativa com o fim dos estímulos nos EUA?

O câmbio tem a ver com o que acontece no Brasil, não só com o cenário externo. Existe um certo desânimo com a economia brasileira. Há uma noção de que o Brasil não está indo bem. Quando o governo faz truques nas contas fiscais, cria-se desconfiança sobre a seriedade do Brasil com as metas fiscais.

E a inflação?

O processo de inflação no Brasil deixa as pessoas desconfortáveis. A ideia de que o teto da meta de inflação virou o centro da meta. Há essas contínuas intervenções, como no preço da gasolina, tentando controlar a inflação prejudicando um determinado setor.