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Música

O brega fica tecnológico

Vídeo | Reprodução/TV Globo
Vídeo (Foto: Reprodução/TV Globo)

Rio de Janeiro – Os números das vendas de CDs no Brasil, divulgados recentemente, são a maior prova de que as gravadoras estão morrendo. Devagar, o acesso avassalador à informação proporcionado pela internet ocasiona novos modelos de negócio, que permitem chegar ao lucro de modo mais colaborativo e sem o afã do "all rights reserved". E esses modelos já ganharam um nome: "open business", ou negócios abertos. Exemplos de open business são a florescente indústria do cinema nigeriano, sites de escritores como o Tortilleria (em que cada escritor pode imprimir "on demand" obras suas ou de outros e vendê-las), páginas musicais baseadas em doações, como o Jamendo, e assim por diante.

Um dos maiores exemplos de open business está aqui mesmo no Brasil – e lá no Pará. É a animadíssima indústria do tecnobrega, que movimenta milhões de reais todos os meses com gravações, shows e festas de aparelhagem acústica profissional, cheias de efeitos especiais e nas quais o computador não pode faltar. A distribuição do conteúdo nesse mercado não é hierarquizada e ocorre ao mesmo tempo em todas as direções – exatamente como se fosse uma internet ao vivo e a cores.

O Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), junto com o projeto Overmundo e a Fipe, fez uma pesquisa sobre este mercado e concluiu que, embora com aspectos informais (os camelôs são elementos-chave na distribuição dos CDs dos artistas), o tecnobrega é uma nova maneira de abordar o processo da música.

A coisa toda começa na produção das músicas. Com a chegada do computador e da internet, foi possível produzir muito mais músicas em estúdio com softwares open-source de edição musical. "Essa descoberta dos computadores e dos programas de edição freeware deu-se a partir de 2002 na periferia de Belém e modificou o brega, levando ao tecnobrega e ao cibertecnobrega", disse no seminário o antropólogo Hermano Vianna. "Hoje, as equipes das festas de aparelhagem trocam de equipamento todo ano. Começaram com vinil, depois foram para os CDs e agora têm notebooks".

Os estúdios produzem centenas de CDs independentes que, através de distribuidores informais, são reproduzidos e repassados aos vendedores de rua de Belém. Assim, o CD vai se popularizando (junto com o artista ou banda), levando público para os shows e festas de aparelhagem. Nas festas, mais CDs são gravados, em tempo real, com os artistas ou DJs falando os nomes de pessoas presentes no público. Muitos compram esses CDs ao vivo personalizados.

A pesquisa entrevistou 79 bandas, 273 equipes de aparelhagem e 259 vendedores. Em um mês, a estimativa de ganho com a venda de CDs nos shows é de R$ 1,045 milhão. Os DVDs rendem R$ 964.600, isso com preços que giram em torno de R$ 7,50 e R$ 10 para cada mídia, respectivamente.

O mercado de festas de aparelhagem fatura R$ 3 milhões por mês, enquanto as bandas e cantores levam R$ 3,3 milhões mensais. O curioso é que 88% desses artistas nunca tiveram contrato com uma gravadora (apesar de serem muito populares), 51% deles estimulam a venda dos CDs pelos camelôs, e 59% acham positiva a distribuição informal. Os vendedores de rua faturam, em média, R$ 1,74 milhão mensais com a venda dos discos.

As festas de aparelhagem do Pará são bem caprichadas. Costumam possuir uma cabine de controle sofisticada para os DJs e técnicos de som e pelo menos duas a três torres de alto-falantes. Laptops não podem faltar, bem como aparelhos de efeitos sonoros e iluminação. As festas têm "roadies", funcionários que montam e cuidam da operação de todo o equipamento necessário.

O mercado do tecnobrega na região emprega, segundo a estimativa feita pela pesquisa, 4.053 pessoas, mas o número não inclui algumas atividades como serviços de bar, segurança das festas e bilheteria.

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