O livro de economia mais comentado e vendido em 2014, e que colocou o tema desigualdade no topo da agenda, chega a um dos países mais desiguais do mundo. A edição em português de "O capital no século XXI", do economista francês Thomas Piketty, foi traduzida pela economista Monica de Bolle, global fellow do Woodrow Wilson Center, e começa a ser vendida no sábado (01) nas livrarias brasileiras, com tiragem de 50 mil exemplares, pela editora Intrínseca.
O best-seller liderou a lista dos livros mais vendidos da gigante Amazon, sumiu das prateleiras durante o lançamento nos Estados Unidos e ficou semanas na pré-venda de sites no Brasil, muito acima da média de outros lançamentos. Lá fora, o livro suscitou polêmica, com direito a questionamentos do jornal britânico "Financial Times" sobre parte dos dados, e foi aclamado por economistas, inclusive o Nobel de Economia Paul Krugman.
"Piketty mostrou que a desigualdade pode surgir naturalmente da forma como as economias se organizam. Com séries que voltam 200, 300 anos no tempo, ele indicou que a taxa de remuneração do capital tende a ser maior que o crescimento econômico. E as pessoas que detêm o capital abocanham parcela crescente da riqueza, levando à desigualdade", explica Monica.
Para Marcelo Medeiros, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e professor da Universidade de Brasília, o livro revolucionou o estudo da desigualdade. "Piketty recontou a história da desigualdade e mostrou que ela era muito alta, caiu e depois voltou a crescer", afirma Medeiros.
A obra é resultado de pesquisas feitas não apenas por Piketty, mas por um grupo maior de pesquisadores, ao longo de mais de dez anos, que reúne dados sobre o pagamento de impostos sobre a renda em países como França, Inglaterra e EUA. O Brasil ficou de fora porque não se conseguiu acesso aos dados da Receita Federal.
Depois do lançamento do livro, no entanto, Medeiros lançou um estudo, ao lado de Pedro Souza e Fabio Castro, em que usa a mesma metodologia e mostra que a desigualdade manteve tendência de estabilidade no Brasil entre 2006 e 2012.
"A desigualdade é mais alta e mais estável do que se imaginava antes. Agora, é preciso reavaliar os pesos das diferentes causas da desigualdade", diz Medeiros.
O francês vem a São Paulo no fim de novembro, quando participará de evento para divulgar o livro. Uma das conquistas do economista francês, segundo Medeiros, foi mostrar que não existe tendência intrínseca de redução da desigualdade no capitalismo, ao contrário do que muitos argumentam.
Com um texto com referências a escritores clássicos como Jane Austen e Balzac, Piketty trata da evolução da desigualdade para os leitores médios e despertou atenção em um momento em que a desigualdade dispara no mundo, especialmente nos EUA. "A crise exacerbou a tendência de aumento da desigualdade nos EUA de forma brutal e por isso o livro fez tanto sucesso. Isso toca no dia a dia das pessoas", diz a tradutora.
Para Monica, a obra trouxe o tema para dentro do debate e os governos tendem a se tornar mais sensíveis ao tema, mas ela lembra que reduzir desigualdade exige espaço fiscal.
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast