Café, na posse: jornais regionais terão ferramentas que os ajudem a tomar decisões e a crescer| Foto: Joel Silva/Folhapress

Destaques

Durante dois dias, cerca de 700 profissionais ligados a empresas jornalísticas debateram temas de interesse do setor.

• O jornalista multitarefa – Helder Luciano de Oliveira, diretor de RH do jornal A Gazeta, disse que os jornais precisam saber como trabalhar com três tipos de jornalistas – das gerações Baby Boomer, X e Y. Diferentes estratégias devem ser aplicadas para manter os talentos de cada geração. Os mais jovens, por exemplo, costumam ficar menos tempo nas empresas, mesmo depois de longo treinamento. Já o advogado Paulo Sergio João lembrou que a lei trabalhista é rígida e que os conflitos inerentes à nova condição do jornalista (ter de ser multimídia) devem ser evitados por meio de contratos de trabalho que contemplem as novas exigências do mercado.

• Paywall x Freewall – O jornalista Naru Narisetti, do Wall Street Journal, disse que o paywall (ou barreira de pagamento, tendência mundial do jornalismo digital) pode não funcionar para todos os jornais e lançou a ideia do freewall, por meio do qual quem lê mais notícias on-line paga menos. O sistema, segundo Raju, se baseia no princípio de que "quanto mais gente se liga nos seus conteúdos – experimentando, comentando e compartilhando-os –, mais potenciais assinantes você cria".

• Medição da audiência – O diretor do Instituto Verificador de Circulação (IVC), Pedro Silva, disse que a audiência da internet se diferencia conforme o equipamento usado pelo internauta: quem usa desktop entra na rede principalmente no horário comercial; com smartphones, a audiência cresce nos horários de deslocamento para o trabalho, na volta para casa ou no almoço; e os tablets engrossam a audiência dos sites à noite. Isso pode mudar a forma como os jornais proveem informações em cada plataforma.

Colaborou Fernando Martins

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Pela primeira vez um veículo regional vai comandar a Associação Nacional de Jornais (ANJ), instituição que reúne 154 empresas jornalísticas associadas, responsáveis por mais de 90 por cento da circulação brasileira de jornais. O capixaba Carlos Fernando Lindenberg Neto, diretor geral da Rede Gazeta, que edita os jornais A Gazeta e Notícia Agora, de Vitória, tornou-se presidente da Associação Nacional de Jornais no começo desta semana, durante o 9.º Congresso Brasileiro de Jornalismo, realizado em São Paulo. Café, como é conhecido, é formado em Economia pela PUC-Rio e desde 1988 trabalha na Rede Gazeta, seguindo a tradição da família. Agora, aos 46 anos, acumulará suas funções no grupo com a presidência da ANJ, sucedendo Judith Brito, da Folha de S. Paulo.

De que maneira o fato de vir de um grupo regional vai afetar a sua gestão?

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A ANJ trabalha em um modelo colegiado, em favor de todos os seus associados, que são 154 jornais distribuídos por todos os estados brasileiros. E é natural que as mudanças capazes de responder aos desafios do negócio jornal sejam direcionadas pelos grandes jornais, a quem cabe o papel de formulação e experimentação. A ANJ está coordenando bem esse debate, especialmente com o Comitê de Estratégia Digital, mas o processo é permanente e o que pretendo fazer, até pelo dever que minha origem impõe, é levar a informação reunida nos comitês da associação a todos os jornais associados.

A ideia é levar informação útil para a tomada de decisão?

Sim, quero aumentar a percepção do valor da entidade entre os jornais regionais. Com informação e liberdade, cada associado poderá encontrar sua própria maneira de obter melhores receitas no mundo digital, grande desafio do momento.

O caminho do pagamento pelo conteúdo digital é quase unanimidade entre os veículos. Ele não deveria ter surgido antes?

No começo da web ninguém sabia direito onde isso daria. Fomos entrando nesse universo sem precificar, o que é um modelo insustentável. Tanto assim que a bolha digital não tardou para quem não tinha outro negócio como lastro. Produzir informação confiável custa caro e a publicidade nos meios digitais não veio no ritmo esperado, ao mesmo tempo em que concorrentes de outros ramos, como o Google, sem os mesmos compromissos dos jornais com a sociedade, foram muito eficientes em ganhar dinheiro. Então, a monetização de conteúdos chega com quase 20 anos de atraso.

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Que preço os jornais pagam pela demora na correção de rumo?

Vejo duas consequências principais desse atraso: a perda de receita e, portanto, a perda de oportunidade de investimentos nos jornais e ainda o fato de que acostumamos mal o público. Mas aprendemos a lição. Tirando um ou outro veículo, todos perceberam que o caminho é o adotado pelo The New York Times com o sistema de pagamento na versão digital.

InformaçãoInteração crescente com o público deve marcar futuro das redações

O jornalista norte-americano Bill Kovach, co-autor de Fundamentos do jornalismo: o que os jornalistas devem saber e o público exigir, defendeu, em sua apresentação no 9.º CBJ, esta semana, em São Paulo, a conexão dos jornais com o público como o caminho mais certeiro para o sucesso dos veículos.

Para o veterano editor, a informação não é mais prerrogativa exclusiva de jornalistas porque o fator interação entrou na agenda das redações. "O público ávido por notícias está crescendo e não diminuindo. Cabe aos jornais desenvolver maior engajamento e envolvimento sem abrir mão da seleção e da checagem, características do jornalismo. O público deve ser convidado a sugerir assuntos que o jornal possa aprofundar", recomenda.

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Kovach cita a cobertura do furacão Katrina, em 2005, como um marco na interação entre público e redações. O Katrina mudou o fluxo de informação porque os canais tradicionais falharam e os editores aproveitaram a tecnologia para convidar os cidadãos que viviam a tragédia a relatar suas experiências. Algo semelhante ocorreu logo a seguir, durante o vazamento de óleo no Golfo do México.

É em coberturas de grande relevância que a interação deve ser explorada, diz, ao mesmo tempo em que alerta: o uso indiscriminado das ferramentas de engajamento pode produzir o efeito oposto ao desejado, banalizando a participação do público em vez de valorizá-la. O ex-editor do The New York Times ressalta que tanto quanto para os demais conteúdos a seleção por critérios jornalísticos deve ser aplicada às ações de engajamento, levando-se em conta, acima de tudo, o interesse e a atratividade das informações compartilhadas.